O planejamento das contas das famílias
passou por muitas transformações nas últimas duas décadas. Até os anos 1990, a
regra de sobrevivência era gastar tudo o que podíamos, quanto antes. Devido à
alta inflação, se demorássemos a usar nosso salário, perdíamos rapidamente o
poder de compra. Havia a figura da correção monetária nas aplicações overnight,
mas as limitadas ferramentas financeiras da época obrigavam os correntistas a
ir ao banco tanto para aplicar quanto para resgatar, e isso consumia muito tempo.
Era mais compensador ir às compras no dia do pagamento, fazer estoque e, quando
o gasto era maior que a verba, parcelar o valor da compra por vários meses.
No início do novo século, tivemos o
despertar da educação financeira. Com os juros elevados, ficou evidente a
oportunidade de poupar para alcançar rapidamente a independência financeira,
enquanto os empréstimos e financiamentos se mostravam os maiores vilões da
classe média brasileira. Na época, os brasileiros consumiam cerca de 30% de sua
renda com o pagamento de juros. Um bom planejamento financeiro se traduzia em
adotar um estilo de vida restritivo, com compras à vista e um grande esforço de
poupança.
Hoje, a realidade é distinta desses dois
períodos anteriores. A economia é mais estável, com maior nível de emprego e
menor temor dos trabalhadores quanto a seu futuro. Os juros são mais baixos.
Isso torna os financiamentos de bens duráveis menos proibitivos. Há ainda um
debate intenso sobre qualidade de vida, sustentabilidade e empreendedorismo.
O planejamento financeiro deixou de ser
sinônimo de corte no orçamento e formação de poupança. Passou a significar
construção do equilíbrio e sustentabilidade. Em vez de sacrifícios para
alcançar amanhã aquilo de que abrimos mão agora, um bom planejamento se traduz
por gastar com qualidade o dinheiro que temos, investindo com inteligência o
mínimo de recursos de que precisamos para sustentar esse bom estilo de vida.
Consumo de qualidade é gastar mais dinheiro com o que nos dá prazer (como lazer
e confortos cotidianos), e menos com aspectos burocráticos e onerosos da vida
(como despesas com moradia e carro).
Investir com inteligência é desenvolver
continuamente a sagacidade de se defender contra as oscilações da economia e de
encontrar oportunidades de dar pequenos saltos na evolução do patrimônio. Esse
novo planejamento exige mais tempo para se aposentar. Isso não é problema
quando se vive com qualidade. Os futuros aposentados precisarão ainda
empreender com seu patrimônio, para manter a renda em crescimento depois de
parar de trabalhar. Sem isso, a conta não fecha mais.
Gustavo Cerbasi
- consultor financeiro e autor de Casais Inteligentes Enriquecem Juntos (Ed.
Gente), Como Organizar sua Vida Financeira (Elsevier Campus) e Os Segredos dos
Casais Inteligentes (Ed. Sextante).
Fonte:www.maisdinheiro.com.br.