Celebramos ontem (domingo – 15/10) o Dia do Professor. Há,
certamente, uma mestra que simboliza o empenho de muitos outros em assegurar
não apenas a aprendizagem, mas a segurança dos alunos sob seu cuidado: Heley Abreu,
que, numa creche sem extintor de incêndio, retirou-os pela janela e lutou
contra um incendiário, salvando assim a vida de muitas crianças. Sim, várias
profissões têm seus heróis e a educação não é exceção.
Mas o que faz do docente um professor excelente? Com certeza, em
algumas circunstâncias atos de heroísmo, mas no cotidiano da educação há alguns
requisitos presentes em profissionais que se distinguem em sua tarefa, como
formação sólida, altas expectativas para todos os alunos, em especial os mais
vulneráveis, preparação cuidadosa das aulas, capacidade de trabalhar em equipe,
avaliação constante do aprendizado dos estudantes com adequação da estratégia
frente a seus progressos ou insucessos.
Há muitos professores no Brasil que apresentam essas
características. Mas há outra que me chama ainda mais atenção: a de nunca
desistir de um aluno.
Em evento recente em que proferi uma palestra para alunos
brasileiros na França, encontrei um jovem que me contou como passara de um
aluno fraco para um profissional respeitado: sem apoio da família e com seus
próprios desafios, o rapaz não se interessava pela escola, até que um grupo de
professores, em vez de chamar os pais à escola, teve uma conversa firme com
ele, evidenciando forte interesse em que pudesse construir seu futuro —e isso
foi um momento de virada em sua vida.
O impacto desses professores que não desistiram dele e tampouco
o infantilizaram foi decisivo. Hoje ele trabalha com educação e lidera
iniciativas de ensino profissionalizante, em uma organização de grande
prestígio. Esses mestres são também, de alguma forma, heróis.
É fundamental que mudemos a forma como alguns veículos da
imprensa abordam a profissão de professor. Eles não devem ser tratados como
vítimas, embora haja muito o que fazer para valorizá-los mais, mas como
profissionais com orgulho de suas práticas e que constroem coletivamente (sim,
pois o trabalho deles é necessariamente de equipe) uma nova geração que atuará
em novos tempos.
O século 21 nos reserva muitas incertezas. Teremos maior
instabilidade no trabalho, especialmente com a automação e a robotização,
ameaças de retrocessos políticos e institucionais e demanda de competências
para solução de problemas complexos para quem quer ter uma vida profissional e
pessoal significativa.
A todos os professores brasileiros que preparam nossos jovens
para esses tempos incertos minha gratidão!
Claudia Costin - professora da FGV e
professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do
Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração.
Fonte: coluna jornal FSP