Cientistas
identificam quase-crises de epilepsia e dias de risco para quem sofre da
condição
Um dos problemas do mundo moderno são as falhas que
deixam o tal do sistema “fora do ar”, justo na hora em que se precisa cancelar
uma assinatura ou acessar a conta bancária.
Estudo indica que cada um de nós possui um ritmo que
governa a excitabilidade cerebral –
Se isso já é inconveniente, imagine então conviver com
epilepsia, distúrbio em que a atividade elétrica do cérebro entra em sobrecarga
sem qualquer aviso prévio, gerando no mínimo momentos passados em branco, sem
qualquer registro (as “crises de ausência”), e podendo chegar a crises
convulsivas generalizadas com perda de consciência.
Um novo estudo realizado em colaboração entre centros de
pesquisa na Suíça e na Califórnia, nos EUA, traz um sopro de boas novas para a
comunidade que estuda ou sofre de epilepsia —a primeira notícia realmente
revolucionária em décadas, segundo um colega especialista na área.
O estudo foi possível graças a uma tecnologia que há
cerca de dez anos vem sendo implantada no cérebro de pacientes.
Trata-se de uma espécie de marca-passo que, ao
detectar o início de uma crise convulsiva, produz pulsos de eletricidade que a
neutralizam. Além de debelar a crise assim que ela começa, os eletrodos
permitem detectar períodos de atividade elétrica alterada, mas que não chega ao
nível crítico em que uma crise convulsiva é disparada. Ou seja: permitem
detectar quase-crises, que de outra forma passariam despercebidas.
O achado transformador é que tais quase-crises, que
ocasionalmente viram crises completas, não são aleatórias —mas também não são
universalmente predizíveis: escondidas debaixo da atividade ainda normal no
resto do cérebro, elas se repetem em ciclos de uma semana a cerca de um mês,
cujo período exato entre uma quase-crise e outra é característico de cada
pessoa, mas variável entre elas.
Ao analisar a atividade cerebral registrada em 37
pacientes com epilepsia ao longo de períodos de três meses a dez anos
ininterruptos, a equipe liderada por Maxime Baud descobriu que as quase-crises
são cíclicas em todos os pacientes, tanto homens quanto mulheres. Não se trata,
portanto, de variação com o ciclo menstrual.
O achado faz muito mais do que oferecer paz e segurança
aos pacientes, que agora podem contar com algoritmos que predizem dias
tranquilos e outros de risco.
O ciclo de quase-crises epilépticas sugere que cada um
de nós possui um ritmo interno característico que governa nossa excitabilidade
cerebral e, se não crises convulsivas, possivelmente outros estados como de
humor ou predisposição.
Eis
uma boa nova daquelas que eu mais gosto: responde algumas perguntas e gera
várias outras novas.
Suzana Herculano-Houzel - neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro
"Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante)
Fonte: www.suzanaherculanohouzel.com