A fatídica pergunta "O que
você quer ser quando crescer?", feita para crianças já no final da
infância ou até antes, é clássica e não muda. Algumas vezes, ela expressa
apenas uma brincadeira, para que os pais se orgulhem da resposta que o filho
dará e que os pais já sabiam que ele daria. Outras vezes, representa o anseio
deles para oferecer ao filho um objetivo maior para a sua vida. E algumas vezes
não passa de uma lição moralista a uma criança que resiste aos estudos.
"O que você quer ser
quando crescer, menino? Se não for bom aluno, vai ficar desempregado ou ganhar
muito pouco!", já ouvi uma mãe dizer ao filho, desesperada com as notas
escolares do garoto.
Mas, se a pergunta não muda, as respostas mudam, e muito. Já houve um tempo em
que muitas crianças -garotas principalmente- queriam ser professoras. Meninos e
meninas pensavam em ser engenheiros, médicos, advogados, cientistas. Hoje, é
difícil ouvir essas respostas.
Quais são as profissões mais
atraentes para eles atualmente? Antes de olhar para tal questão, é bom lembrar
que as crianças sabem pouco sobre profissões; o que elas dizem querer é apenas
um reflexo da percepção que têm a respeito do que o mundo lhes apresenta como
importante e de grande reconhecimento ou remuneração.
Ser famoso e cultuado pelas
mídias, se destacar na televisão ou internet e receber muito dinheiro parecem
ser, hoje, os anseios de muitas delas. Cada vez mais crianças e adolescentes
afirmam que, quando crescerem, querem ser blogueiros, modelos, artistas, chefes
de cozinha, jogadores de futebol, "vlogueiros" etc. Como você pode
perceber, caro leitor, são sempre atividades com grande projeção, mas que
pouquíssimas pessoas conseguem alcançar. Só que isso as crianças não têm
condição de entender.
Algumas delas acham que já são
grandes e têm, na internet, blogs e canais de vídeos, um bom público, composto
tanto de outras crianças quanto de adultos. É fácil entender os motivos que
levam os mais jovens a serem frequentadores assíduos desses canais: estão
isolados, sem espaços públicos para encontrar outras crianças e para brincar. A
internet tornou-se, portanto, esse espaço para eles. Mas e quanto aos adultos?
Será que estão ali por mera curiosidade? Ainda não sabemos.
O que sabemos é que muitas
dessas crianças são tratadas como celebridades, estão bastante expostas e
chegam a ganhar presentes de marcas e até dinheiro -algumas vezes, muito
dinheiro- com o que chamam de "empresa". E sempre com o apoio dos
pais, é claro, porque precisam de uma grande infraestrutura para fazer o que
fazem.
Será que isso é bom para elas?
Depende do ponto de vista. Para quem acredita que sucesso, popularidade e
ganhos financeiros fazem bem à criança, pode ser positivo. Mas não sabemos até
quando. O sucesso e a fama são ondas que vêm e vão. Quando acabarem -e
acabam!-, o que será desses meninos e meninas? Estão eles preparados para cair
e se levantar? Na minha opinião, não. Se isso já é difícil para os adultos,
imagine, caro leitor, para uma criança.
Para quem preza a infância dos
filhos e prioriza o aprendizado da convivência deles com outras crianças, nada
disso é bom, mesmo que eles digam que querem muito participar e que vários
colegas fazem. Qual é o seu ponto de vista?
Rosely Sayão - Psicóloga e consultora em educação, fala
sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de
educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação.
Fonte: coluna jornal FSP