Desde que a imprensa passou a
publicar toda a crise política de nosso país e que as primeiras manifestações
populares relacionadas a essa crise ganharam os espaços públicos reais e
virtuais, e, portanto, visibilidade, os educadores –familiares e escolares–
ficaram em apuros. Como ensinar ao filho que é importante que ele seja honesto,
quando ele ouve ou lê, todo santo dia, relatos de acusação ou de suspeita de
desonestidade de políticos, empresários, funcionários de empresas etc.?
Como passar ao filho a importância
do respeito ao outro, quando ele testemunha, pela imprensa e pela internet, o
desrespeito que temos tido com as opiniões diferentes das nossas? Está difícil,
bem difícil, mas é bom saber que, mesmo sendo uma tarefa árdua, é possível
educar bem os mais novos, mesmo nesse contexto tão adverso. E exemplifico com o
relato que uma mãe me encaminhou da conversa dela com o filho, de pouco mais de
dez anos.
Ela contou que o menino disse a
ela que roubar até que poderia ser bom, já que quem rouba fica rico. Ela
assustou-se com a observação -na verdade, desesperou-se-, já que se empenha de
corpo e alma na formação ética e moral dos filhos. Mas conseguiu se sair muito
bem!
Essa mãe disse ao garoto que
ser rico não é a coisa que ela considera importante na vida dos filhos, nem ter
sucesso ou fama. Lembrou a ele que ela fazia de tudo para que os filhos
aprendessem a ser pessoas que jamais prejudicariam outras, e que soubessem o
valor da honestidade, do respeito e da generosidade.
Ao final da conversa, ela ficou
emocionada ao ouvir o filho dizer que era por isso que ele a amava tanto. Eu
também me emocionei ao ler a mensagem.
Vivemos em uma sociedade
individualista já faz tempo. Isso significa, muitas vezes, ensinar aos mais
novos que seus pares são, em muitas situações, uma ameaça, um perigo. Há
escolas que, em datas próximas a vestibulares, Enem e outros exames, passam aos
alunos a ideia de que eles terão de "derrubar" um determinado número
de colegas para ter o seu lugar garantido. Não há nada de bom nesse ensinamento.
"Mas não é essa a
realidade em que vivemos?", você pode me perguntar, caro leitor. Sim, é.
Mas podemos escolher fazer parte dela ou sermos críticos em relação a diversas
facetas dessa sociedade, considerando que nossos filhos poderão ajudar a transformar
o contexto cultural, quando se tornarem adultos.
Foi na década de 1960 que
muitos jovens aderiram à contracultura, um movimento que contestava e reagia
aos valores dominantes da época. Mas hoje fazemos de tudo para que nossos
filhos aceitem passivamente os valores que nossa sociedade prioriza. Não é à
toa que a frase que eles mais usam para convencer os pais quando querem que
eles permitam algo é "Todo mundo tem, faz, vai etc.". Eles já
sentiram que os pais valorizam a cultura dominante, não é?
Não precisamos nem devemos
doutrinar filhos e alunos para que assumam a nossa posição! Precisamos e
devemos formá-los cidadãos conscientes, livres, críticos pelo conhecimento,
para que, quando chegarem à maturidade, façam suas escolhas criticamente
formados.
Educar para que os mais novos
se tornem pessoas e cidadãos de bem pode estar difícil, mas não é uma missão
impossível se priorizarmos os ensinamentos das grandes virtudes, da moral e da
ética.
Rosely Sayão – psicóloga e consultora em educação
Fonte: caderno cotidiano / jornal FSP