Desde o exercício de
2010, a PREVIC produz um estudo consolidado acerca das despesas administrativas
das Entidades Fechadas de Previdência Complementar, com base nos dados
constantes do Plano de Gestão Administrativa (PGA), transmitidos à autarquia
quando do fechamento contábil anual.
Mesmo com a defasagem dos dados – o último estudo disponível, recém-divulgado,
refere-se ao encerramento do exercício de 2014 – e com a ausência de acesso
direto às bases – os valores são apresentados em relatório PDF, o que dificulta
a derivação de análises – trata-se de uma ótima fonte de informação acerca da
estrutura de custos administrativos dos Fundos de Pensão, refletindo parte dos
desafios e, por consequência, dos ajustes que as Entidades enfrentam ano após
ano.
Despesas continuam a superar as receitas correntes
Em 2014,
a despesa administrativa total dos 272 fundos de pensão analisados no estudo
chegou a R$ 2,5 bi. Por sua vez, a receita administrativa foi de R$ 2,3 bi,
indicando que os gastos superaram a arrecadação anual em R$ 200 mi.
Tendo
em vista que a estrutura de governança das Entidades pressupõe a existência de
um fundo administrativo, no qual os recursos arrecadados são acumulados para
fazer frente às necessidades futuras, a presença de despesas maiores que
receitas em um dado exercício não é um indicativo claro e direto de problemas.
Contudo, se tal fato se torna recorrente, os recursos do fundo vão se exaurindo
e a Entidade pode, no futuro, enfrentar dificuldades para financiar suas
atividades administrativas.
De
fato, constata-se que pelo menos desde o exercício de 2012 (a PREVIC não
consolidava esta informação nos estudos anteriores) as despesas têm sido
maiores que as receitas.
Apoiando-se nas melhores
práticas de gestão e nas responsabilidades fiduciárias que, com base na
legislação vigente, cada órgão estatutário possui, é importante que as EFPC
realizem periodicamente análises e projeções financeiras e atuariais acerca da
sustentabilidade do Fundo Administrativo. Com isto, é possível não apenas
dimensionar corretamente as despesas, como também identificar a necessidade de
aumento (em caso de falta) ou redução (em caso de sobra) de receitas
administrativas e de verificar a própria sustentabilidade da Entidade a longo
prazo.
Entidades menores enfrentaram os maiores aumentos de despesas
A
PREVIC, em seu estudo, classifica as Entidades em cinco grupos de acordo com o
ativo total:
Grupo
|
Classificação por
ativo total (R$)
|
E
|
Até 100 milhões
|
D
|
100 milhões a 500 milhões
|
C
|
500 milhões a 2 bilhões
|
B
|
2 bilhões a 15 bilhões
|
A
|
Acima de 15 bilhões
|
Além disso, para fins comparativos, as despesas são cotejadas
com a população de cada Entidade. Tem-se, com isto, um importante indicador,
que é a despesa per capita. No ano de 2014, a despesa
administrativa média com cada um dos 3.130.162 participantes e assistidos que
compõem o sistema foi de R$ 1.144,30 ao ano (o equivalente a R$ 95,35 ao mês).
Interessante
constatar que nos últimos cinco anos há forte correlação entre o crescimento da
despesa média per capita (aqui, considerando-se o total de todas as EFPC) com a
inflação oficial, medida pelo IPCA (IBGE), como se vê a seguir:
Nota-se que as despesas
administrativas per capita cresceram 29% entre 2010 e 2014, enquanto o IPCA
acumulado no mesmo período foi de 27%. Essa constatação, de que as despesas
cresceram além da inflação, é fortemente afetada pelos subgrupos D e E, os
únicos que efetivamente superaram o IPCA do período.
A
partir da segmentação em grupos e após análise dos valores per capita,
constata-se que as EFPC do grupo D (ativo total entre 100 e 500 milhões de
reais) e do grupo E (ativo total até 100 milhões de reais) foram as que tiveram
o maior aumento relativo de despesas, como vemos abaixo:
As demais EFPC, dos
grupos C, B e A, mantiveram o crescimento de suas despesas per capita em
patamar inferior a inflação, com destaque ao grupo B, cuja evolução em cinco
anos foi de apenas 14% ante aos 27% do IPCA.
Dada a
heterogeneidade dos Fundos de Pensão que compõem o sistema e os diversos
modelos de gestão empregados, os dados disponíveis no estudo da PREVIC devem
ser analisados respeitando-se as diferenças existentes e evitando-se as
generalizações. Mesmo assim, vê-se nesta análise o reflexo das ações que as
EFPC vêm empreendendo em busca de redução de custos. É possível, ainda, que o
pior desempenho das menores (grupos D e E) neste aspecto seja decorrente da
baixa escala de suas operações, acarretando maiores limitações para gestão de
custos.
É necessário gerir e controlar o fundo administrativo
Tão
importante quanto ter o total controle do passivo e do ativo previdencial de um
plano de benefícios é a manutenção de uma gestão eficaz do fundo
administrativo. Logo, indicadores de gestão relacionados ao custeio
administrativo são obrigatórios no planejamento estratégico das EFPC. Por ter
comparabilidade com o sistema, mediante análise do estudo divulgado pela
Previc, a despesa per capita é um indicador que pode ser utilizado.
Por
fim, para que despesas e receitas administrativas sejam dimensionadas
adequadamente, evitando-se, com isto, maiores desafios no futuro, recomenda-se
que as EFPC acompanhem periodicamente seus fundos administrativos, por meio de
projeções financeiras e atuariais que afiram sua sustentabilidade no longo
prazo.
Guilherme Brum Gazzoni -
administrador, Pós-Graduado em Finanças e com Especialização em
Entrepreneurship pela Babson College – Boston / Massachussets. É Diretor
Administrativo e Comercial da GAMA Consultores Associados.
Fonte: newsletter GAMA