Cardumes que dependem dos números para a sua segurança
são ótimos em avaliar quantidades.
Um aquário na China.
Todas as noites, na época do acasalamento, o macho da rã túngara
da América Central é o protagonista de um espetáculo na lagoa local, e passa
horas ininterruptas fazendo propaganda do seu esplendor para o mundo.
O sapo cor de barro é menor do que uma noz de pecan sem casca,
mas o seu chamado é forte e dinâmico, uma longa cadência decrescente seguida
por um breve estalo metálico harmonicamente denso.
A não ser que um macho concorrente comece a chamar nas
proximidades, neste caso o primeiro sapo provavelmente acrescentará dois
estalos no final da sua cadência inicial, e se o rival responder do mesmo modo,
o Macho A dará três estalos. E assim eles se desafiarão até chegaram ao limite
de sua respiração com seis ou sete estalos rápidos como disparos.
A competição é muito cansativa, e corre o risco de atrair
predadores, como morcegos. Entretanto, os sapos não têm escolha, pela simples
razão de que a fêmea túngara ouve, faz suas contas e finalmente se acopla ao
macho que dá o máximo de estalos.
Por trás desta sensibilidade surpreendentemente sofisticada da
rã em relação ao número, os cientistas descobriram células especializadas no
mesencéfalo que contam os sinais sonoros e os intervalos entre eles.
“Os neurônios contam o número de pulsos apropriados, e são
extremamente seletivos”, disse Gary Rose, biólogo da Universidade de Utah. Se o
timing entre os pulsos estiver uma fração de segundo errado, os neurônios não
dispararão e o processo de contagem será interrompido.
“O jogo acaba”, disse o dr. Rose.
A história da rã é apenas um exemplo da imensa, antiga e
versátil sensibilidade da natureza em matéria de números, um alento investigado
em um estudo recente.
Os cientistas descobriram que os animais de todo o espectro
evolutivo têm um profundo sentido da quantidade, capaz de distinguir não apenas
o maior do menor, ou mais de menos, mas também dois de quatro, quatro de dez,
quarenta de sessenta.
As aranhas com teias orbiculares, por exemplo, contam quantos
itens do butim apanhados na seda estão escondidos no segmento da “despensa” de
sua teia. Quando os cientistas retiram o esconderijo, as aranhas passam muito
tempo procurando os bens roubados em proporção aos bens separados que haviam
sido capturados, e não à possível quantidade da massa total do butim.
Peixes pequenos se protegem vivendo em cardumes, e quanto mais
numeroso o grupo, melhor a probabilidade de um peixe escapar dos predadores.
Consequentemente, muitos peixes em cardumes são excelentes avaliadores das
contagens relativas.
Os peixinhos, por exemplo, têm uma chamada ‘razão de contraste’
de .8, o que significa que sabem distinguir imediatamente entre quatro
peixinhos e cinco, ou oito e dez, e, se tiverem a chance, nadarão na direção do
grupo ligeiramente mais repleto de peixes.
O ser humano também nasce com uma acentuada sensibilidade inata
para os números, e a capacidade de determinar as quantidades está profundamente
enraizada em muitos aspectos da nossa mente e da nossa cultura.
Os pesquisadores determinaram que as palavras referentes a
números de quantidade pequena — menos de cinco — são extraordinariamente
semelhantes em quase todas as línguas estudadas.
“Não devemos excluir que você possa ter estado
perambulando há cerca de 15 mil anos e encontrado alguns dos poucos
remanescentes Neandertais, tenha apontado para você mesmo dizendo ‘um’, e
apontando para eles tenha dito ‘três’, e que estas palavras de uma maneira
estranha e rústica tenham sido entendidas”, disse Mark Pagel, biólogo da
Universidade de Reading.
Esta continuidade, acrescentou o dr. Pagel, “deveria nos
impressionar”.
Os primeiros sistemas numéricos formais, completos com os
valores de lugar, datam somente de 3,5 mil anos atrás.
As atitudes a respeito da numerosidade dos animais mudaram
drasticamente desde a metade do século 20, quando os pesquisadores acreditavam
que somente o ser humano tinha matéria cinzenta suficiente para pensar em
termos de quantidade. Eles se referiram ao caso de Clever Hans, de 1907, o
cavalo que supostamente resolvia problemas de aritmética e batia com os cascos
no solo para dar a resposta; descobriu-se depois que ele estava apenas
respondendo às dicas inconscientes das pessoas ao seu redor.
Desde então, os pesquisadores tentaram identificar as pressões
evolutivas que poderiam estimular a necessidade de juízos numéricos em qualquer
uma das espécies.
Os chimpanzés são marcadores de pontos sociais e ninjas dos
números. Eles podem aprender a associar grupos de objetos aos numerais arábicos
correspondentes até o 9 e às vezes, além do 9 — três quadrados em uma tela de
computador com o número 3, cinco quadrados com o 5, e assim por diante. E sabem
colocar em ordem estes numerais.
A memória numérica funcional dos jovens chimpanzés é espantosa:
espalhe ao acaso muito rapidamente vários números em uma tela por apenas 210
milisegundos e depois cubra os números com quadrados brancos. Um jovem
chimpanzé com conhecimento dos números tocará os quadrados em sequência,
indicando a ordem crescente dos números escondidos sob os quadrados.
Nem queira tentar, aconselhou Tetsuro Matsuzawa, um
primatologista da Universidade de Kyoto, em um congresso em Londres em que foi
analisado o estudo recente. “Você não conseguiria”.
Cardumes que dependem dos números para a sua segurança são
ótimos em avaliar quantidades. Um aquário na China.
Cardumes, que dependem dos números para a sua segurança, são
ótimos em avaliar quantidades. Um recife de coral na Tailândia.
Fonte: Natalie Angier, New
York Yimes