Inteligência artificial marca nova era do Vale do Silício


Com lasers, robô confere estoque em corredor de mercado nos Estados Unidos  


O Vale do Silício já encontrou sua próxima galinha dos ovos de ouro. E ela não tem o botão “curtir”.

A nova era do Vale do Silício gira em torno dos robôs e da inteligência artificial, uma transformação que muitos acreditam que possa trazer lucros na mesma escala dos obtidos com a expansão da indústria dos computadores pessoais e a internet comercial. Os computadores já começaram a falar, a escutar e a enxergar, além de ganharem penas, asas e rodas para se deslocaram sem amarras pelo mundo. A mudança era visível recentemente numa loja de materiais de construção da rede Lowe’s, em Sunnyvale, onde o protótipo de um conferente de estoques fornecido pela Bossa Nova Robotics deslizava silenciosamente pelos corredores, usando sua visão computacional para realizar de forma automatizada uma tarefa que há séculos é feita manualmente por humanos.

O robô, capacitado para se desviar sozinho de clientes e outros obstáculos inesperados nos corretores, alertava as pessoas para a sua presença com um suave chilreio de pássaros. Percorrendo um corredor num ritmo tranquilo, ele vai reconhecendo os códigos de barras nas prateleiras e usa um laser para detectar itens ausentes no estoque. O Vale do Silício já tem pelo menos 19 empresas que projetam carros e caminhões autoguiados. Há cinco anos, eram menos de meia dúzia.

“Vimos um lento gotejar de investimentos na área da robótica, e de repente, bum — parece haver uma dúzia de empresas focadas em nichos robóticos específicos que estão obtendo grandes rodadas de investimentos”, disse Martin Hitch, executivo-chefe da Bossa Nova, que tem uma base em San Francisco.

O financiamento para startups de inteligência artificial (IA) mais do que quadruplicou em quatro anos, saltando de US$ 145 milhões em 2011 para US$ 681 milhões em 2015 (de R$ 474,5 milhões para R$ 2,2 bilhões, pelo câmbio atual), de acordo com a firma de pesquisas de mercado CB Insights. A empresa estima que os novos investimentos chegarão a US$ 1,2 bilhão (R$3,9 bilhões) neste ano, um aumento de 76% em relação ao ano passado.

“Sempre que há uma ideia nova, o Vale age como um enxame ao redor dela”, disse Jen-Hsun Huang, presidente-executivo da Nvidia, uma fábrica de chips que foi criada para produzir processadores gráficos para o setor de videogames, mas que no ano passado se voltou completamente para os aplicativos de IA. “Mas você precisa esperar uma boa ideia, e boas ideias não acontecem todo dia.”

O Facebook está usando a IA para melhorar seus produtos. O Google em breve irá oferecer um aparelho que escuta o que se diz na casa, responde a perguntas e faz encomendas de comércio eletrônico. Competirá com o Echo, da Amazon, e o Siri, da Apple. O setor automobilístico também veio para o Vale a fim de aprender a fazer carros que possam se dirigir sozinhos — apesar dos recentes acidentes com o Tesla, que geraram dúvidas sobre a rapidez com que a tecnologia poderá substituir os motoristas humanos. A ideia de IA surgiu no Canadá, como parte do trabalho de cientistas cognitivos e cientistas da computação. Para Jerry Kaplan, que ajudou a criar duas empresas de IA na década de 1980 — a Symantec, que se tornou uma empresa de segurança, e a Teknowledge, que acabou fechando —, o atual entusiasmo do Vale do Silício é perturbador por sugerir um otimismo infundado, semelhante ao de eras anteriores, com um campo que prometia muito e cumpriu pouco.

“Às vezes, quando ando com os entusiastas da IA aqui no Vale, me sinto como um ateu numa convenção de evangélicos”, disse ele.

John Markoff -  escritor sênior para o The New York Times,escreve para seção de ciência do jornal.

Fonte: jornal New York Times

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