“Meu coração, não sei por que, bate
feliz quando te vê...”. Como já dizia a letra da música de Pixinguinha, algumas
emoções são tão fortes que acabam refletindo no corpo, apontando que coração e
sentimentos estão conectados. É como se os nossos sentimentos passassem e por
ali deixassem suas marcas ao longo da vida, tanto positivas quanto negativas.
De modo geral, iniciamos nossa
trajetória sem muitas preocupações na infância. Mas os períodos de ansiedade já
começam desde o colégio e só aumentam até a universidade. Ah! Quanto estresse
com as provas e tarefas cobradas pelos professores! Depois vem a pressão do
vestibular, o trabalho e suas conquistas, os desafios em família, as
instabilidades financeiras, questões de saúde, falecimento de parentes e
amigos, até atingirmos a maturidade.
O fato é que durante nossa vida
enfrentamos um pouco de tudo. Quem nunca precisou lidar com a dor de um coração
partido, passou por sustos que geram a sensação de o coração saltar pela boca,
viveu um momento de raiva que tomou conta do corpo todo, teve que lidar com a
tristeza de uma perda ou passou noites sem dormir por estar preocupado com
problemas de saúde ou financeiro? Isso só para citar alguns dos muitos exemplos
que podemos ter aqui.
Temos o cérebro como base do
comportamento humano, dos sentimentos e pensamentos, porém, a ciência está
revelando cada vez mais a interferência das emoções sobre o nosso sistema
cardiológico. Estudos comprovam que as experiências que passamos, quando geram
sentimentos como amor, raiva, alegria, irritação e tristeza, afetam diretamente
o coração e podem gerar alterações significativas no funcionamento do órgão. Da
mesma maneira, as doenças cardíacas também podem ser o gatilho para trazer à
tona emoções, como medo, tristeza e ansiedade, revelando que há reciprocidade
nessa interação entre mente e coração.
- Preparado para qualquer
emoção
Pesquisas apontam que nossas
emoções e pensamentos influem na química, nos hormônios e no funcionamento do
organismo. Atualmente, é possível verificar como o comportamento de células e
dos neurotransmissores são afetados pelas emoções. Sabemos que os sentimentos
podem exercer influência sobre o colesterol, o metabolismo, as doenças coronárias,
a hipertensão, os problemas gástricos e de pele e o sistema imunológico.
Para entender por que isso ocorre,
primeiro é importante ficar claro que o nosso corpo está sempre alerta, pronto
para nos proteger de qualquer situação que possa colocar em risco o
funcionamento do metabolismo. No instante que detecta uma alteração, o organismo
automaticamente reage. O ponto aqui é que essas reações, tanto para as emoções
boas quanto ruins, são as mesmas. Assim, seja por um momento de irritação ou
alegria, sentimentos geram estados de excitação que ativam processos na mesma
região do cérebro.
O responsável por receber as
informações externas e traduzi-las para o corpo é o sistema límbico. A partir
daí, um complexo sistema nervoso e humoral é ativado e, através de reações
físicas e químicas, adaptações são feitas para manter ou reequilibrar o
funcionamento de vários órgãos, incluindo o coração. E neste caso, diante de
uma emoção forte, seja ela positiva ou negativa, dois processos são ativados.
Um que envia sinais elétricos ao músculo cardíaco, influenciando no ritmo dos
batimentos; outro, com a produção de diversas substâncias químicas que terão
impacto nas estruturas do coração.
Tudo acontece em um curtíssimo
espaço de tempo. A circulação sofre mudanças repentinas e intensas no período
de 3 a 5 segundos, a frequência cardíaca pode aumentar até o dobro do normal e,
dentro de 10 a 15 segundos, a pressão arterial chega a ser duplicada. Tudo para
que o corpo esteja preparado para enfrentar aquele exato instante.
Quando este estímulo é gerado por
raiva ou irritação intensa, ocorre ainda uma imediata alteração na estrutura
dos vasos em conjunto com outros sintomas, como boca seca, suores, hipertensão,
aumento da agregação plaquetária e depressão do sistema imunitário. Alterações
importantes que contribuem para o desencadeamento de eventos cardiovasculares.
O problema é maior quando isso se
torna constante e vem acompanhado de mágoa, pessimismo e tristeza. Diante deste
cenário, o corpo passa a liberar com frequência na circulação substâncias
inflamatórias que comprometem a integridade dos vasos sanguíneos. São
hormônios associados ao estresse, como o cortisol e a adrenalina, que estimulam
a vasoconstrição (redução do calibre dos vasos). Com o tempo, as artérias têm
seu potencial de adaptação reduzido, o que gera aumento da pressão arterial e
elevação dos batimentos cardíacos. O coração acaba então sendo obrigado a
trabalhar mais.
E não é só isso. Sentimentos
negativos podem desencadear também inquietação, tensão muscular, alterações no
sono, ansiedade, depressão, aumento do apetite, acarretando problemas sérios,
principalmente quando já existe uma tendência à doença cardiovascular de base.
Além disso, ao recrutar “um exército” para defender o organismo, essas
substâncias acabam derrubando a imunidade, abrindo o corpo a infecções.
Portanto, se as emoções negativas agem de forma continua, elas podem ter como
consequência uma crise hipertensiva, arritmia, infarto do miocárdio, entre
outros problemas graves de saúde.
Por outro lado, aquilo que nos traz
felicidade e está relacionado ao amor e à positividade levam ao relaxamento
muscular, à vasodilatação (aumento do calibre dos vasos), ao relaxamento
intestinal, à secreção glandular, à salivação, ao calor sem sudorese, ou seja,
manifestações que ajudam a prevenir as doenças cardiovasculares. Pesquisa
recente realizada por especialistas da Universidade de Harvard e do Hospital
Monte Sinai (EUA) aponta, por exemplo, que o otimismo reduz em 35% o risco de
sofrer um evento no coração, como infarto ou acidente vascular cerebral (AVC).
Sabe-se ainda que o otimismo está
relacionado com a longevidade: pessoas que conseguem ver o lado bom das coisas
tendem a ter uma vida mais longa e com mais qualidade. Segundo um estudo
publicado na revista Proceedings of National Academy of Sciences (EUA), aqueles
que têm os níveis altos de otimismo apresentam de 50% a 70% mais chance de
viver até os 85 anos ou mais. Além disso, os otimistas têm menos probabilidade
de sofrer de doenças crônicas e morrer prematuramente.
- Como você lida com as
situações da vida?
Vale reforçar que reagimos de
maneiras diferentes ao mesmo estímulo. A paixão, por exemplo, pode ser uma
emoção muito positiva para uns e a causa da ansiedade de outros. A habilidade
de lidar com as situações e interpretá-las depende da personalidade, da
educação, da cultura e das experiências de cada um.
Outra ressalva importante: não são
apenas pensamentos bons ou ruins que vão prejudicar ou contribuir com a saúde.
É preciso ter sempre em mente que o desenvolvimento de uma doença depende de um
conjunto de fatores, como genética, hábitos, aspectos biológicos, psicológicos
e sociais.
Apesar de ainda ser preciso mais
pesquisas, sabermos que as emoções podem influenciar e precipitar eventos
cardíacos já está revolucionando a maneira de cuidar do coração. Temos que usar
esse conhecimento a favor da nossa saúde, buscando manter o equilíbrio entre
corpo e mente e, mais do que isso, prestando atenção nos sinais que o organismo
nos dá.
Junto com todas as mudanças
fisiológicas que a idade traz, chegamos à maturidade com uma grande bagagem
emocional adquirida ao longo de toda uma vida. Cabe a cada um de nós saber que
tipo de emoção ou sentimento quer continuar carregando em sua jornada.
Fonte: Instituto Mongeral Aegon