Crescimento em baixa, desigualdade em alta, pressões fiscais e
perdas climáticas: eis a economia global que a OCDE desenha para 2060 em seu
novo relatório.
Se fazer previsões econômicas para o mês que vem já é difícil,
imagine para os próximos 50 anos. Isso não impede, é claro, os economistas de
tentarem
Recentemente, a OCDE
(Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que reúne 34
países (na sua maioria de renda alta) delineou o seu cenário
da economia global em 2060.
A má notícia é que as perspectivas de crescimento são “medíocres
comparadas com o passado”.
A previsão é que o PIB
nos países da OCDE e do G-20 cresça em média 2,7% anuais entre 2010 e 2060,
comparado aos 3,4% registrados entre 1996 e 2010.
A boa notícia é que o centro do sistema deve continuar
caminhando em direção aos países emergentes,
que terão no futuro uma fatia da economia global muito mais alta do que a dos
países da OCDE.
Mas enquanto a diferença entre países e regiões deve diminuir,
vai continuar aumentando a desigualdade interna dos países. Como a economia
será cada vez mais centrada no conhecimento, a diferença nas perspectivas dos
mais e menos qualificados vai aumentar – um processo que já está acontecendo,
mas vai ficar cada vez mais intenso
“Continuando a tendência atual, a desigualdade de renda no país
médio da OCDE terá crescido 30% até 2060, atingindo o mesmo nível de
desigualdade visto atualmente nos Estados Unidos”.
E pior: muitos dos instrumentos usados hoje para combater a
desigualdade, como a política tributária, também devem ficar menos eficientes.
O perigo é que na medida em que a economia global fique mais
integrada, os países entrem em uma “corrida para o abismo”, um nivelamento por
baixo em que benefícios trabalhistas e formas de redistribuição são evitados
para não afugentar empresas e negócios.
Uma economia baseada no conhecimento também tem naturalmente
mais mobilidade. Neste cenário, começa a fazer mais sentido taxar coisas mais
tangíveis - como imóveis e recursos naturais, por exemplo. Mas são justamente
estes tipos de bens que devem perder importância na economia do futuro.
A solução sugerida pela OCDE é aumentar a cooperação
internacional e focar em combater a desigualdade equalizando as oportunidades
desde os primeiros momentos de vida, através de uma educação constante e de
alta qualidade.
De uma forma ou de outra, também será difícil achar os recursos
necessários, porque os desafios fiscais devem se acumular.
Uma população cada vez mais velha (ou até mesmo emdeclínio) coloca pressão sobre a previdência, e os governantes terão
que responder com medidas impopulares de ajuste como o aumento da idade de
aposentadoria.
O documento sugere mais imigração como a melhor
forma de amenizar o problema populacional – mas muitos países tem uma conhecida
resistência histórica contra receber mais estrangeiros, e na medida em que os
emergentes enriquecem, diminuem também os incentivos para que deixem seus
países.
E isso sem falar no aquecimentoglobal: de acordo com a OCDE, “o PIB global em 2060 pode ser
diminuido entre 0,7% e 2,5% graças ao efeito dos impactos da mudança
climática”. Nos anos seguintes, as consequências devem ser ainda piores.
Fonte: João PedroCaleiro, de http://exame.abril.com.br/