Perder dinheiro na renda fixa desafia a compreensão de investidores.
Quando comprou um título de taxa prefixada José sabia
que o preço do título podia oscilar entre a data da compra e a data do
vencimento, quando receberia o valor de resgate predefinido na operação.
Mas não esperava que fosse acontecer com ele, fazendo
suas primeiras incursões em investimentos um pouquinho mais arriscados. Investidor conservador que até então
investia somente na poupança e fundos DI, achou que seria capaz de tolerar a
volatilidade na boa, bastava esperar o vencimento do título.
O conceito, compreendido e aceito na teoria, se revela
muito desconfortável na prática, quando o risco se apresenta; dói ver o saldo
da aplicação diminuir e constatar que não estava preparado para essa perda,
mesmo que apenas contábil.
José comprou uma Letra do Tesouro Nacional no dia 1 º de
setembro. Investiu R$ 7.181,20 para resgatar R$ 10 mil em 1º de janeiro de
2026.
A taxa de juros no dia da compra era de
6,42% ao ano.
Nos dias seguintes ao da compra, ele observou que a taxa
subiu e pensou “bem que eu podia ter esperado um pouco mais para comprar, teria
ganhado mais juros...”. Fato. Entretanto, não é possível antecipar o movimento
dos juros e dos preços dos ativos, esse é o famoso risco de mercado. Paciência,
José...
Pouco mais de um mês depois, em 6 de outubro, verificou
que os títulos com o mesmo vencimento pagavam juros de 7,42% ao ano, um ponto
percentual a mais do que a taxa praticada no dia em que ele investiu.
Se quiser e puder comprar um novo título pagaria, em 6
de outubro, R$ 6.879,20. Se José vender antecipadamente o título, receberá R$
6.839,20, considerando o spread do Tesouro no preço de revenda, realizando
perda de R$ 342.
Calma, José, lembre-se de que você investiu para receber
R$ 10 mil em 1º de janeiro de 2026. E assim será. Antes do vencimento, a oscilação da taxa e do preço é natural, e nem
sempre favorável ao investidor. A venda antecipada é possível, mas não deve ser
acionada se as condições de venda não forem favoráveis.
A boa notícia é que, uma vez corrigido o valor do
título, ele passa a render a nova taxa de juros, de 7,42% ao ano, e só voltará
a sofrer nova desvalorização se a taxa de mercado para esse vencimento
ultrapassar essa marca.
Antonio, amigo de José, observou que o valor da cota
do fundo de renda fixa ativo também caiu. A
carteira do fundo tem diversos ativos, entre eles, a LTN 2026 e outros ativos
que também perderam valor.
O administrador do fundo precifica diariamente o valor
dos ativos da carteira, apurando valorização ou desvalorização, conforme a
oscilação de mercado.
Esse procedimento, conhecido como marcação a mercado, é
necessário e obrigatório para que todos os cotistas do fundo sejam tratados com
equidade, sem transferência de riqueza entre os que compram e vendem as cotas
diariamente.
Se houver ganhos, serão atribuídos aos cotistas que já
estavam na carteira, beneficiados se venderem suas cotas; quem quiser entrar
agora pagará um ingresso mais alto. O inverso é verdadeiro. Se houver perdas,
serão absorvidas pelos cotistas atuais, e não pelos novos cotistas que entram
pagando um ingresso menor.
A diferença entre as duas aplicações é que José é o
único dono de um título e a ele cabe a decisão de mantê-lo ou não até o
vencimento. Antonio, cotista de um fundo de investimento, não tem a mesma opção
que o amigo. Como o fundo não tem vencimento, a ele compete decidir quando
vender as cotas, realizando ganho ou perda em razão da decisão que tomar.
Marcia
Dessen - planejadora financeira CFP
(“Certified Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com
Meu Dinheiro”.
Fonte:
coluna jornal FSP