Senhor risco, temido e
desconhecido
Quem investe corre algum tipo
de risco; antes de investir, saiba quais são eles e pondere antes de aceitar.
Muita gente acha que o risco mora na Bolsa de Valores e que
somente a compra de ações está sujeita a perdas. Infelizmente não é bem assim.
O risco está presente em uma aparente segura aplicação de renda fixa, no
investimento em imóveis ou no negócio próprio quando você decide empreender. Se
você acha que risco não existe ou que não vai acontecer com você, pense melhor
a respeito.
Afinal, que risco é esse, temido e desconhecido, que espreita
todo e qualquer tipo de investimento? São vários os tipos de risco e todos
podem provocar perdas, definitivas ou temporárias, em maior ou menor escala.
Vamos conhecer os mais comuns.
Risco de crédito: emprestar dinheiro esperando receber o capital
de volta acrescido de juros, o popular "calote". Potencial de perda?
100% do capital investido. Garantias? Somente os títulos privados emitidos por
instituições financeiras são garantidos pelo Fundo Garantidor de Créditos, com
limite de R$ 250 mil por investidor.
Está presente em toda aplicação de renda fixa, tais como
depósitos em poupança, CDB, LCI, LCA, debêntures, enfim, todos os títulos que
representam dívida de empresas do setor privado. O investidor passa a ser
credor da empresa quando negocia diretamente com ela ou ainda, indiretamente,
quando adquire títulos por intermédio de fundos de investimento.
Os títulos públicos, que representam dívida do Tesouro Nacional,
são considerados livres desse risco, levando em conta a baixíssima
probabilidade de ocorrer.
Risco de mercado: quando o valor de venda é inferior ao de
compra; comprar por $ 100 e vender por $ 90. Risco presente em todos os
mercados com potencial de perda variável conforme o tipo do negócio, tais como
operações de renda fixa com taxa prefixada, ações, moeda estrangeira, fundos de
investimento e imóveis.
A única maneira de reduzir (e não eliminar) o risco de mercado é
a diversificação. Juros em elevação trazem ganhos para quem investe em
operações de renda fixa com taxa pós-fixada. O mesmo cenário tende a provocar
perdas nos mercados de câmbio e Bolsa de Valores, por exemplo.
Saiba que um título público federal de taxa prefixada, livre do
risco de crédito, está sujeito ao risco de mercado e pode perder valor antes do
resgate. Evite vender antes do vencimento.
Sabe aquele imóvel que você quer vender, mas os compradores não
concordam em pagar o preço que você acha que vale? Então... risco de mercado. E
saiba que o mercado é soberano para determinar o preço dos ativos, seu imóvel,
suas ações, o valor de um título prefixado que vence somente em 2035, da taxa
de câmbio e por aí vai.
Risco de liquidez: não conseguir o dinheiro de volta,
impossibilidade de resgatar a operação antes do vencimento ou ainda não
encontrar comprador para o que você quer vender. Para evitar o risco, opte por
aplicações que admitem o saque ou o resgate a qualquer momento.
Interessante notar que o investimento em ações, temido pelo alto
risco de mercado, corre um dos menores riscos de liquidez. O investidor pode
vender suas ações de primeira linha, ao preço de mercado, quando quiser. Em
contrapartida, investir em imóveis, considerados seguros por muitos
investidores, é exemplo de elevado risco de liquidez, já que a venda pode levar
meses ou anos.
A lista de riscos não termina por aqui. Risco de inflação,
quando a rentabilidade é insuficiente para compensar a perda do poder de compra
da moeda; risco de inadimplência do inquilino que não paga o aluguel; risco de
vacância, quando o imóvel vazio, além de não gerar renda, transfere os custos
de condomínio e IPTU para o proprietário; risco de cair no conto do vigário,
colocando dinheiro em mercados não regulamentados, são alguns exemplos.
Risco não é ruim, sem ele não haveria retorno sobre o capital
investido. Mas precisa ser conhecido e controlado. Antes de investir, avalie
quais riscos você está disposto a correr. E que dose de cada risco é aceitável,
considerando objetivo e prazo para investir.
Marcia Dessen - planejadora financeira pessoal,
diretora do IBCPF (Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais
Financeiros) e autora do livro "Finanças Pessoais: o que fazer com meu
dinheiro" (Trevisan Editora, 2014).
Fonte: artigo no jornal Folha de São Paulo