Quem tem plano de previdência deve decidir
se compra seguro de renda mensal
Os planos de previdência (VGBL e PGBL) são apresentados
como se um investimento fossem. Embora não seja mentira, não se trata de
produto de investimento tradicional, como depósitos bancários, Tesouro Direto,
fundos de investimento.
Mas, se não é investimento, o que é um plano de
previdência? O VGBL é classificado como seguro de vida, e o PGBL, um plano
de previdência complementar. A principal diferença entre os dois reside no
tratamento tributário dispensado a um e outro. Não por acaso são produtos administrados
por companhias seguradoras, e não por bancos. O Banco Central e a CVM não têm
nada a ver com essa indústria, regulada e fiscalizada pela Susep.
Para entender melhor como funcionam, imagine duas fases
muito distintas: uma fase de acumulação e uma fase de benefício de renda. A
primeira pode ser entendida como investimento; o investidor (segurado, no caso
do VGBL, e participante, no caso do PGBL) deposita recursos livremente. O saldo
acumulado é remunerado de acordo com a estratégia de investimento do tipo de
fundo que escolheu. Resgates podem ser feitos livremente.
A segunda fase terá início (ou não) na data definida
pelo comprador do produto. Nessa data, avalia se deseja ou não converter todo o
capital acumulado em um seguro de renda mensal, escolhendo uma das modalidades
oferecidas pela seguradora, ou se deseja manter o dinheiro investido,
disponível para retiradas de acordo com sua necessidade.
A importância da decisão a ser tomada é gigantesca. Na
primeira hipótese, você transfere o risco da longevidade para a seguradora,
pagando um prêmio equivalente a 100% do capital investido. Ao comprar o
seguro, o dinheiro não lhe pertence mais e não será transmitido aos
herdeiros.
Suponha que você tenha contratado renda mensal vitalícia
e venha a morrer um ano depois. O dinheiro pode ser resgatado pelos herdeiros?
Não, o capital acumulado na primeira fase não está mais disponível para
resgate, foi convertido em renda.
Ah, mas então não vale a pena, deve estar pensando você.
Esse é o grande X da questão. Se você morrer cedo, não, não vale a pena.
Se você viver até os cem anos, dirá: Bendita a hora em
que decidi comprar o seguro!. Quem arrisca apostar uma bolada e acertar a idade
da morte?
Embora tenhamos certa expectativa de sobrevida, não é
possível afirmar por quantos anos vamos viver. É exatamente esse risco, certo
porque vamos morrer um dia, incerto quanto ao momento da ocorrência, que está
em jogo.
Se decidirmos manter o dinheiro livre em aplicações
financeiras, correremos o risco de o dinheiro acabar e faltar recursos para a
subsistência nossa e de nossos dependentes. Se decidirmos por transferir o
risco para uma seguradora, contratando uma renda mensal, correremos o risco de
morrer cedo e privar os herdeiros de ficar com o capital poupado na fase de
acumulação.
Quando faz sentido optar pela aquisição da renda mensal?
Você acha que vai viver muito e não quer correr o risco de ficar sem dinheiro.
Disciplina não é o seu forte e, se o dinheiro estiver
livre, disponível para resgate, é alto o risco de o dinheiro acabar antes do
tempo. Proteger uma pessoa com necessidades especiais assegurando que receberá
uma renda mensal quando você faltar. Garantir uma pensão para um neto, cujos
pais são pouco responsáveis.
Quanto maior for o risco da seguradora, menor será a
renda mensal contratada. Renda vitalícia (muitos pagamentos potenciais) será
menor do que renda por prazo certo (menor quantidade de pagamentos). Se
reversível a um beneficiário, menor ainda será a renda. Após a morte do
primeiro beneficiário, a seguradora pagará ao segundo, e o menor valor da renda
mensal refletirá esse risco.
Ricardo, 60 anos, tem um saldo de R$ 215 mil em um VGBL
e obteve da seguradora a seguinte simulação: renda mensal bruta de R$ 1.716
durante dez anos ou R$ 1.172 durante 15 anos. Fez os cálculos comparando com
uma aplicação financeira e apurou que a renda (0,54% ao mês durante 15 anos) é
semelhante à que pode obter no mercado financeiro sem abrir mão do capital
investido, que continua sendo dele.
Talvez
você não tenha pensado em nada disso quando comprou um plano de previdência,
não é mesmo? Mas vai ter que pensar. Ou simplesmente resgatar o investimento se
foi essa a intenção desde o início.
Marcia
Dessen - planejadora financeira pessoal,
diretora do Planejar e autora do livro 'Finanças Pessoais: o que Fazer com Meu
Dinheiro'.
Fonte:
coluna jornal FSP