A frase do título deste post
tem pinta de slogan, mas não é minha. Está em um livro apaixonante:
Previdência Social na Sociedade de Risco - o desafio da solidariedade com
sustentabilidade, de Sílvio Renato Rangel Silveira, publicado pela
ABRAPP.
Com, linguagem clara, rigor acadêmico, construção muito poderosa de argumentos
e muita fluência a obra nos leva a entender uma questão que nunca foi muito
clara para mim: por que não existem previchatos? Ah, faz tempo que eu não
escrevo aqui sobre os previchatos, um sonho antigo. Pudera! Sustentabilidade
integra o DNA da Previdência.
Entretanto, as causas ecológicas e de defesa do meio ambiente conquistaram
respaldo social global. Conseguiu, de acordo com Sílvio Rangel, um êxito
inquestionável em - principalmente - compartilhar os conceitos de solidariedade
intergeracional e sustentabilidade.
Há necessidade de melhoria do
processo de comunicação dos riscos previdenciários à sociedade. A
sociedade conseguiu estruturar redes muito eficientes para a defesa da
ecologia, com profissionais especializados na dramatização dos riscos. Esse
sucesso de comunicação do problema ambiental precisa ser estudado, e avaliada a
possibilidade de sua utilização no debate previdenciário. Antes, entretanto, o
meio acadêmico precisa ser instigado à reflexão e formação de uma militância
comprometida com o interesse coletivo.
O grifo é meu. Sílvio
Rangel muito elegantemente chama de "militância comprometida" o
que eu chamei de previchatos, porque nas décadas de 80 e 90 do século 20, os
ecologistas eram popularmente chamados de ecochatos. A sociedade não entendia
direito os riscos. Na época era chique e natural, por exemplo, ostentar roupas
feitas com peles de animais. Mas eles - os ecochatos - ajudaram a mudar essa
concepção e esse comportamento pré históricos.
A sustentabilidade é conceito
intrínseco à previdência. Sem equilíbrio não há previdência, há imprudência.
Essa frase de efeito, cunhada tanto por sua pertinência quanto pelo impacto de
sua sonoridade, pretende chamar a atenção dos pensadores do Direito,
estimulando reflexões sobre teses novas que garantam a sustentabilidade
previdenciária.
O grifo é meu. Entendo que Sílvio
Rangel esteja se dirigindo especialmente a advogados. Mas acho que esse
trabalho deve ser feito em todas as áreas do conhecimento, especialmente a
Comunicação. Se os ecologistas tiveram sucesso foi por terem adotado uma
política de Comunicação muito agressiva, até mesmo chocante junto à sociedade.
O pessoal do Greenpeace são
profissionais midiáticos multinacionais. Sabem apresentar de tal maneira
a contradição entre a promulgação de normas de segurança e controle e infração
das mesmas normas que os grandes (grupos empresariais, governos), cegados por
seu poder, caem na armadilha e, para deleite da opinião pública mundial, mordem
o anzol da televisão. Henry Thoreau e Mahatma Gandhi se alegrariam muito, pois
o Greenpeace representa a resistência civil massiva, em nível mundial, com os
meios da era midiática.
O
grifo é meu. E acho que a sociedade comprou a causa porque, entre outras
razões, terminou se identificando com a ideias e resistência à manipulação.
Omissão: uma vulnerabilidade
Nesta
história fica claro o efeito nocivo do risco de omissão. A Comunicação
especialmente nas EFPC sempre foram carentes de comunicadores em suas
estruturas funcionais. Até hoje, nem todas as EFPC contam com esses
profissionais integrados a suas equipes ou mesmo terceirizados.
Além disso, como o próprio livro de Sílvio Rangel revela, alguns
profissionais que se propuseram a defender a Previdência Complementar
terminaram sendo intimidados, criticados e, infelizmente, silenciados. Quando
não ocupamos o espaço junto à sociedade, deixamos que os detratores
protagonizem e dificultem ainda mais um trabalho que, pela natureza e
conjunturas do negócio, já é árduo. Mas tem luz no fim do túnel: a Educação
Previdenciária, que começou em 2009, é uma resposta para fazer com que esse
trem não volte atrás.
Projeto de longo prazo
Se investimentos dão resultado no longo prazo, Comunicação e
Educação também são assim! Mas atalhos estão sendo criados especialmente pelas
redes sociais. Exemplo são as campanhas de Educação Financeira e Previdenciária
que - passo a passo - vão na contracorrente do pensamento imediatista,
consumista e - claro - individualista, na media em que propõem uma revisão dos
hábitos de toda a família em relação ao uso do dinheiro. O valor moral vem
resgatado a reboque. Clique aqui e veja a
campanha da Infraprev no Facebook.
E eu chamo a atenção deste aspecto, porque Sílvio Rangel faz um tratado
para explicar a questão questão do risco moral envolvido na gestão de negócios
de longo prazo.
Precisamos mais? Claro! Sempre! Precisamos de políticas públicas. Antes, porém,
precisamos instrumentalizar a própria expressão para depois atuarmos como os
previchatos de que a sociedade tanto precisa. Podemos fazer tanto barulho que
nem mesmo os mais habilidosos detratores da Previdência Complementar
conseguirão conter e intimidar.
Eliane Miraglia -
mestre em Ciências da Comunicação (ECA/USP), desde 1991 atua no segmento de Previdência Complementar, consultora da Suporte, é autora
do blogue Conversação
Fonte: http://elianemiraglia.blogspot.com.br