O
7º continente, a economia da longevidade e os fundos de pensão 2.0
Dilemas dos aposentados pela previdência complementar
Se nos voltarmos para os fundos de
pensão perceberemos que seus esforços sempre foram muito mais focados nos
participantes durante a fase de formação da poupança e bem menos em ajudar os
aposentados a gerenciarem essa poupança durante a fase de recebimento do
benefício.
Talvez porque o sistema de
previdência complementar que herdamos se propusesse, originalmente, a pagar
rendas vitalícias, espelhando os sistemas de previdência oficiais.
Com o futuro
dele garantido, para quê se preocupar em ajudar o aposentado a fazer sua renda
de aposentadoria durar não é mesmo?
Porem, o sistema de previdência
complementar fechado (fundos de pensão) avançou e foi se transformando.
Vieram
os planos de contribuição definida e as rendas vitalícias foram aos poucos
sendo empurradas para os livros de história da atuária.
O participante pode escolher hoje,
ao se aposentar, se quer receber mensalmente um percentual do saldo de conta
acumulado, se quer fixar um número de anos para receber sua renda e em alguns
planos pode até mudar essas escolhas todo ano.
Nas formas de pagamento do
benefício que surgiram, o aposentado passou a ser o responsável pela gestão da
renda, por esticar seu dinheiro o máximo possível no tempo.
Aquela antiga preocupação de
morrer cedo e deixar a família desamparada, cedeu lugar ao medo de viver demais
e o dinheiro acabar.
Aliás, a geração grisalha dos nossos dias vive a dicotomia
de duas realidades, outrora estanques: ao mesmo tempo em que continua a
trabalhar, geralmente como PJ, supostamente na fase de poupar para a
aposentadoria vai usando sua previdência complementar para viver.
Diante de poucas ferramentas e
soluções para essas novas realidades, a angústia de fazer durar o máximo
possível o dinheiro economizado durante uma vida, só faz aumentar. Planos de
contribuição definida foram idealizados para ambientes de retornos estáveis ou
crescentes e expectativas de vida, digamos, comportadas.
Acontece que nosso mundo é tudo,
menos comportado.
A longevidade vem aumentando continuamente, seguindo uma
tendência que deverá continuar na medida em que novas tecnologias que buscam
uma longevidade saudável entrem em cena.
Do lado dos investimentos, vale
ler um artigo super interessante publicado pelo Bank of England agora
em janeiro/2020, intitulado “Eight centuries of global real interest rates,
R-G, and the ‘suprasecular’ decline, 1311–2018".
Eles reconstruíram a taxa real de
juros global em bases anuais retroagindo ao século XIV e cobrindo 78% das
economias desenvolvidas (gráfico abaixo).
Mostraram que a taxa real de juros
nunca foi "estável" e que depois da turbulência monetária do fim da
idade média, prevaleceu uma tendência de queda entre 0,6% e 1,6% por ano nas
taxas reais.
O trabalho sugere que,
independentemente de respostas fiscais e monetárias específicas, as taxas de
juros reais podem em breve entrar em território negativo permanente!
(Paper completo
aqui: https://bit.ly/2tHv0O8)
https://cdn.substack.com/image/fetch/c_limit,f_auto,q_auto:good/https%3A%2F%2Fbucketeer-e05bbc84-baa3-437e-9518-adb32be77984.s3.amazonaws.com%2Fpublic%2Fimages%2Ffca22170-deac-4d17-988c-96b0098d46da_1200x707.png
Um cenário desses faz até mesmo os maiores
especialistas em investimento e atuaria coçarem a cabeça. Sem uma evolução
rápida, o modelo de negócios atual dos fundos de pensão e das instituições
financeiras tradicionais, é insustentável.
No ponto de inflexão em que nos encontramos, as
demandas e necessidades da geração prata começam a entrar
no radar das startups e demais players do
ecossistema da longevidade, novas soluções são inexoráveis.
Na quarta parte do artigo discorremos sobre a economia
da longevidade e seu ecossistema. Fique ligado, acompanhe,
questione, comente.
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Eder C. da Costa e Silva
- sócio-gerente e fundador da E.Carva Investimentos & Participações e autor
do livro “Revolucionando os Conselhos dos Fundos de Pensão” (ed. PoloBooks,
2020