Além
de cuidar da saúde, existe um importante investimento: cultivar as verdadeiras
amizades.
Uma das perguntas mais frequentes feitas às mulheres que não
querem ter filhos é: "E quem
vai cuidar de você na velhice?"
Uma jornalista de 43 anos disse: "Já sofri muito com as
cobranças femininas. Acham que se eu não tiver filhos serei infeliz. Quando
digo que não quero ter filhos e sou feliz assim, elas dizem: Então por que você
não adota?' Quando respondo que não quero adotar, elas insistem: E como vai ser
sua velhice sem ninguém para cuidar de você?'
Muitas mulheres mais velhas acreditam
que a família é uma prisão que impede que exerçam a própria vontade. Elas dizem
que os filhos não respeitam as vontades dos pais e querem controlar suas vidas
afetivas e sexuais, como se os velhos não fossem pessoas responsáveis, lúcidas
e autônomas.
Elas afirmam que, apesar da ilusão de que os filhos são a
garantia de uma velhice menos solitária, em grande parte dos casos essa expectativa não se
confirma. Muitas alertam para os perigos de depositar nos filhos a esperança de
uma velhice feliz. Elas acham melhor investir nas
amizades para garantir companhia, amor e cuidado na velhice.
Os vínculos gerados pelo afeto, e não pela obrigação ou interesse,
podem criar relações de reciprocidade e de cumplicidade entre as mulheres, que
se divertem, se acompanham e se cuidam, especialmente na velhice.
Uma escritora de 75 anos disse: "Aprendi a afastar todas as
pessoas que chamo de vampiras: aquelas que só sugam, reclamam, demandam, fazem
mal, botam para baixo. Só quero na minha vida quem me cuida e me alimenta de
coisas boas, quem me faz bem e me estimula a ser cada vez melhor. As minhas
amigas são o meu maior patrimônio e a minha verdadeira família".
Nos últimos dez anos triplicou o número de pessoas de mais de 60
anos que vivem sozinhas, passando de 1,1 milhão para 3,7 milhões. Entre elas,
65% são mulheres, muitas das quais escolheram viver sozinhas para assegurar a
autonomia.
As mulheres que tenho pesquisado aprenderam que, além de cuidar
da saúde e garantir uma aposentadoria digna, existe outro importante
investimento para experimentar uma velhice mais feliz: cultivar, desde cedo, as
verdadeiras amizades.
Mirian Goldenberg -
antropóloga, professora da Universidade Federal do Rio de
Janeiro e autora de "A Bela Velhice" (Ed. Record).
Fonte: www.miriangoldenberg.com.br