Uma
Leitora está às voltas com a educação de dois filhos que estão em etapas
diferentes da vida. O mais velho acabou de completar 15 anos e está na fase de
oposição franca e aberta a tudo o que os pais dizem, pedem, orientam, mandam. A
mais nova tem seis anos e entrou num período de ter medo de tudo: de ir para a
escola, de dormir sozinha, do escuro etc.
"Haja
paciência e humor para enfrentar essa barra!", me disse essa mãe, que
acrescentou que seria bom fazer terapia pessoal para entender algumas reações
que o filho mais velho provoca nela, tanto quanto uma terapia familiar, para
ajudar o grupo a administrar melhor seus conflitos. O problema é que o dinheiro
anda curto e não há como arcar com o custo desses atendimentos agora.
"Como resolver essas questões sem ajuda profissional qualificada?",
foi a pergunta final dela.
Essa
conversa me lembrou de um fato que me incomoda já faz tempo. É cada vez maior o
número de pais que não se sentem preparados, autorizados, "qualificados"
a exercer seu papel educativo com os filhos. Eles acham que precisam de ajuda
especializada constante para qualquer tipo de questão que os filhos apresentam.
Em
tempos de uma oferta enorme de tutores pessoais para tudo –de organizar
armários a estabelecer metas profissionais, passando pela alimentação, não é
difícil entender essa sensação de despreparo que muitos pais sentem frente às
demandas que a criação dos filhos lhes coloca.
Não é
necessário que os pais sejam estudiosos das teorias das ciências da educação,
tampouco que tenham a colaboração regular de profissionais de qualquer área do
conhecimento para conseguir honrar seu papel com os filhos.
Fazer
terapia pessoal e/ou familiar pode colaborar com a complexa tarefa de criar
filhos no mundo atual? Sim, para quem tem disponibilidade pessoal, financeira e
de tempo para custear esses atendimentos. Para quem não tem, há outras
possibilidades. Pessoalmente, aprecio muito os caminhos que a arte e a cultura
nos permitem trilhar.
Há, por
exemplo, muitos filmes que nos permitem olhar como estrangeiros para famílias e
relacionamentos de adultos com os mais novos e ver os equívocos que podemos
cometer sem perceber, levados por nossos enganos e por diversas características
de nossa sociedade.
Filmes
que nos incomodam nos afetam. E vou citar apenas um, entre tantos: "A Lula
e a Baleia". Nele, podemos ver como os pais podem criar, para os filhos,
situações com as quais eles não conseguem lidar devido a alguns valores
priorizados por nossa sociedade atual, como o culto à vaidade pessoal e o
estilo juvenil de viver, por exemplo.
A
maioria dos pais consegue dar conta de seu papel com os filhos sem a ajuda
profissional direta. Há muitas colaborações profissionais indiretas que eles
podem encontrar na internet.
Mas, para que essa ajuda seja produtiva, é preciso ser crítico com o que vê ou
lê, não tomar os conceitos como regras ou receitas que podem ser
universalizadas e considerar seu próprio estilo e o de seus filhos. Em poucas
palavras: esse tipo de ajuda serve mais para iluminar e inspirar do que para
repetir e copiar.
Uma boa
educação dos filhos passa pela reflexão. Depois que eles vão dormir, você pensa
nas atitudes que tomou com eles naquele dia e se pode fazer melhor?
Rosely Sayão – psicóloga e
consultora em educação
Fonte: caderno cotidiano / jornal FSP