Muitas vezes precisamos tomar
decisões sem que estejamos preparados para tomá-las. Imagine você
recém-formado, celebrando o primeiro dia no primeiro emprego, no departamento
de recursos humanos, assinando alguns papéis que formalizam sua contratação. De
repente surge a pergunta se você quer aderir ao plano de previdência privada
que a empresa oferece aos funcionários.
Você dirige um olhar de dúvida para
sua colega e ela se apressa em dizer que, para aderir, você se compromete a
investir determinado percentual do seu salário nesse plano de previdência e que
a empresa depositará percentual equivalente. Para sacar, você deve observar
determinadas regras contidas no contrato de adesão.
Você nem recebeu o primeiro salário e
já estão querendo tirar uma fatia dele. Sua primeira reação não é favorável a
concordar, não sem conhecer e entender as regras do jogo. O problema é que as
regras desse jogo não são nem um pouco simples.
Você só precisa escolher o plano, o
regime de tributação e o tipo do fundo de investimento em que o dinheiro será
aplicado. E sua colega de RH acha que você está apto a tomar essa decisão nos
próximos minutos. Deve ser piada, não é mesmo?
Que negócio é esse de ficar com um
pedaço do meu salário? PGBL ou VGBL, o que é isso?! Tabela progressiva ou
regressiva do Imposto de Renda?! Tipo de fundo?! Sua colega, sensível ao seu
olhar de espanto, informa que você pode pensar e comunicar sua decisão depois.
Hum... já sabe o que vai acontecer, né?
Essa história parece brincadeira, mas
infelizmente não é. Muitas pessoas passam por situação semelhante e deixam de
aderir ao plano que a empresa oferece. Por desconhecimento total do assunto e
sem que lhes seja dada a oportunidade de entender as vantagens do benefício que
a empresa oferece, deixam passar a chance de aderir a um benefício muito
vantajoso para o funcionário.
Com muitas dúvidas, você acaba
optando por não aderir, ou adere ao produto errado, com o regime de tributação
inadequado, ou aplica em um fundo que não combina com seu perfil de risco. Tudo
errado! Então vamos lá.
Ao aderir a um plano de previdência
privada fechado, disponível somente para os funcionários da empresa, você
concorda em aplicar, por exemplo, 5% do salário todos os meses. O dinheiro será
descontado automaticamente na folha de pagamento. Essa é a primeira grande
vantagem, aplicação automática, que não depende de você lembrar, ou querer, ou
sobrar.
A empresa deposita o mesmo valor em
seu nome. De imediato seu salário teve um aumento de 5%, que maravilha! Quem,
em sã consciência, pode recusar essa oferta? Mas tem uma condição: você só fica
com o dinheiro que a empresa depositou se respeitar a política de concessão do
benefício.
Muitos deixam de aderir porque acham
que não poderão resgatar o dinheiro se quiserem sair da empresa ou se forem
demitidos. A parte que você depositou é sua, você resgata quando quiser. A
parte que a empresa depositou só estará disponível para resgate depois que você
cumprir o tempo de serviço definido no contrato.
A partir de dez anos de serviços
prestados, supondo ser esse o prazo mínimo exigido, todo o dinheiro que ela
depositou em seu nome será seu quando se desligar da empresa, pode ficar com
ele! Antes disso, a qualquer tempo, você resgata a sua parte integralmente. E
talvez fique com parte do dinheiro da empresa, conforme política definida.
A empresa usa o benefício para reter
empregados, uma forma muito positiva de incentivar que você mantenha vínculo de
trabalho com ela. Para o funcionário, quanto mais tempo permanecer no emprego,
maior será o percentual a receber. Um belíssimo exemplo de relação ganha-ganha.
Se você trabalha em empresa que
oferece o benefício e não aderiu, recomendo que converse com o RH para conhecer
os detalhes e pense seriamente em participar. Se você é o RH da empresa que
oferece o benefício, recomendo transformar a adesão ao plano em obrigatória. O
funcionário terá de dizer que não quer para então ser excluído do plano. Estou
certa de que o funcionário, mais maduro, alguns anos depois, dirá: "Ainda
bem que decidiram por mim".
Marcia Dessen - Planejadora financeira
pessoal, diretora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais
Financeiros e autora de 'Finanças Pessoais: o que fazer com meu
dinheiro'.