Marcar na curva ativos de Planos CD


Com os resultados ruins acumulados ao longo de 2013 e um início de ano desastroso muitos Dirigentes de Fundo de Pensão têm questionado o que fazer para melhorar a rentabilidade dos Planos. Como já disse antes eu acho que comprar, aos poucos e devagar, as NTN-Bs longas é uma boa estratégia pois as taxas estão muito acima das metas de retorno dos Planos.

Nos Planos BD as carteiras já estão carregadas desses papeis, nada a ser feito. Nos Planos CD não. É Raro ver planos CD como NTN-Bs longas e normalmente a justificativa para não ter esses papeis é a volatilidade que eles trazem para a carteira.

Sempre que escuto essa justificativa eu questiono: porque não comprá-las e as classificar como mantidas a vencimento e marcar na curva do papel? Quase sempre a resposta é: se fizermos isso vamos transferir valor entre participantes.

Vamos deixar uma coisa clara: em qualquer Plano de Previdência mantido por uma Entidade Fechada de Previdência Complementar não se pode falar em transferência de valor! Isso mesmo, o assunto transferência de valor é pertinente a fundos abertos e não a Fundos de Pensão.

Vejamos então o porquê não podemos falar em transferência de valor:

O objetivo de qualquer Plano de Aposentadoria é proporcionar renda adicional ao aposentado de forma segura, não ferramentas financeiras;

O Participante de um Plano administrado por uma EFPC não pode sacar e aplicar recursos no Plano livremente.

Os Fundos de Pensão administram PLANOS DE APOSENTADORIA e não fundos abertos de investimentos (onde o cotista entra e sai a hora que quiser);

Razão de ser de um Plano de Aposentadoria.

A identidade fundamental de um Fundo de Pensão é prover renda de aposentadoria para as pessoas que estão maduras e já viveram sua fase produtiva.

Essa identidade fundamental é instrumentalizada por um Plano de aposentadoria. Está tatuado a fogo em todo e qualquer Plano de aposentadoria seu fim PREVIDENCIAL.

Quando os fundos de pensão foram criados, só existiam Panos do tipo Benefício Definido (BD). O principal fundamento de um Plano BD é que o risco do coletivo é menor do que o risco individual! Compartilhar riscos reduz risco e custo para todas as partes (Patrocinadora e Participante).

Portanto a simples existência de um Plano de aposentadoria se baseia no fato de que o risco do coletivo é menor do que o risco do individual. Se não fosse isso os Fundos de Pensão simplesmente não existiriam! Cada trabalhador teria sua poupança individual e isso seria suficiente.

Na década de 90 as patrocinadoras reviram os riscos assumidos e decidiram transferir uma parte maior do risco para os participantes. Foram criados Planos de Contribuição Definida (CD) e Planos Mistos. Da mesma forma esses Planos só se justificam devido a coletividade. Ou seja os recursos são investidos em grandes blocos reduzindo o custo de gestão do Plano e assim por diante.

Tendo em vista esse mutualismo dos participantes, por que não manter títulos até o vencimento também para Planos CD? A identidade do Plano é compartilhar e não individualizar, correto?

Retomando a ideia que o compartilhamento do risco por todos é fundamental para o sucesso de um Plano de Aposentadoria e que ele reduz o risco individual do Participante porque não manter títulos a vencimento em Planos CD ou Misto? A manutenção de títulos a vencimento em Planos BD é comum e aceito. Por que não no Plano CD? Sempre que reduzimos risco temos que abrir mão de algo.

Pergunto: se temos a comprovada capacidade para manter NTN-Bs longas até vencimento em um Plano CD por que não fazê-lo? Afinal compartilhar o risco diminui o risco individual.

Além do mais no vencimento o título vale seu valor de face, e isso não muda nunca. Se o Plano levar o título a vencimento ninguém ganha nem perde.

Temos também que nos lembrar que em um Plano de Aposentadoria fechado o participante não pode simplesmente ir na Fundação e sacar seus recursos como se tivesse investido em um fundo aberto! É absurdo comparar um Fundo de Pensão com um fundo aberto. Fundo de Pensão não é produto financeiro!!! O legislador entende isso claramente. Parece que nós é que não entendemos isso!!! Curioso não?

Além disso toda a relação do Participante com o Plano é regido pelo Contrato Previdencial e todos os outros documentos acessórios tal como a Política de Investimentos. Quando documentamos claramente a decisão de manter títulos até o vencimento o Participante toma conhecimento e todo o processo atende a determinações legais.

Desculpem-me, mas vou repetir: temos que nos lembrar que Plano de Aposentadoria não é instrumento financeiro, ele é muito mais do que isso. Ele é planejamento de vida. Existe um interesse muito maior por traz de um Plano de Aposentadoria: segurança e capacidade financeira no pós carreira.

Como consultor estou sempre buscando cria valor ao meu Cliente. Estamos na era do valor! Você como Dirigente de Fundo de Pensão deveria pensar da mesma forma, correto?

Vamos supor que após realizado uma série de estudos e simulações, você se assegura que seu Plano de Benefícios pode comprar, digamos 100 NTN-Bs com vencimento em 2050 e que você pode tranquilamente mantê-las em carteira até o vencimento e considerando que esse papel é emitido pelo Tesouro Nacional (risco muito baixo) e que ele está rendendo inflação mais 7% de juros ao ano o que você faz:

Continua investindo os recursos do Plano no CDI porque é mais seguro;

Compra as 100 NTN-Bs e marca a curva, garantindo ao Plano uma rentabilidade ótima.

Está em dúvida? Ótimo! Pense com carinho.

Eu continuo com a minha mesma posição: não sei se as taxas de juros vão subir mais ou cair. O que eu sei é que um rendimento de longo prazo de inflação mais 7% ao ano com baixo risco é muito bom para qualquer Plano de Aposentadoria em qualquer lugar do mundo. Assim eu montaria uma carteira com esses títulos aos poucos, sem pressa, mas com disciplina.

Lauro Araujo - Consultor de Investimentos com mais de 30 anos de experiência, administrador e com Mestrado em Finanças Internacionais, tem três livros publicados e diversos artigos; é Diretor da LAS Consultoria e atua junto a grandes investidores institucionais.

Fonte: site da GAMA Consultores Associados

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