O ASNO DE BURIDAN
Talvez você esteja
pensando agora mesmo: “e que raios é o asno de Buridan?”
Há séculos os seres
humanos têm usado a caricaturização animal para transformar nossos companheiros
de planeta em protagonistas de histórias.
Os contos infantis gostam muito dessa prática, em que personificam
cigarras, formigas, porcos e até mesmo asnos.
Bem, pois saiba que o asno de Buridan é o
protagonista de uma paródia medieval que pretendia, por redução ao absurdo, atacar a razão como a
fonte máxima e única de conhecimento.
Essa história nasceu para
criticar a demonstração racional da existência de Deus feita por Jean Buridan,
embora também possa servir para atacar o resto das tentativas.
Neste
artigo vamos utilizar a história em outro sentido, mas primeiro vamos conhecer
a história deste famoso asno.
A HISTÓRIA DO ASNO DE
BURIDAN
Não era um asno que tinha
nada em particular, o curioso de sua história era a situação em que ele se
encontrava.
Existem muitas versões sobre essa situação: uns contam
que ele estava à mesma distância de duas pilhas de feno e outros contam que ele
estava à mesma distância de uma pilha de feno e um balde de água.
O que o paradoxo conta é que o
asno, muito racional, incapaz de optar por um ou por outro, acabou por morrer
de fome.
Que absurdo, não é mesmo?
Pois bem, por mais absurdo que pareça, certamente você conhece alguma pessoa
que é como o asno de Buridan, inclusive pode ser que você mesmo tenha sido como
ele em alguma ocasião.
Normalmente as opções que temos na hora de tomar
uma decisão não estão equidistantes, mas podem ser semelhantes quanto ao seu
nível de atratividade.
Então o que
acontece? Acontece que começamos a aprofundar, a avaliar os prós e contras
e… sabe o que também acontece com muita frequência?
Alguma das duas opções
desaparece e, no pior dos casos, as duas, nos deixando sem nada. Já diziam
que a indecisão é o melhor
ladrão da oportunidade.
PESSOAS QUE SE PARECEM COM O ASNO DE BURIDAN
Como dissemos
no início, essa história nasceu como uma crítica ao uso preponderante da razão
como meio de locomoção para andar pelo mundo.
Pois bem, são as pessoas
excessivamente racionais que são
apanhadas em paradoxos parecidos ao do nosso asno, e o pior é que em
muitas ocasiões elas acabam da mesma forma.
Em outras ocasiões não,
mas não porque não são capazes de tomar uma decisão, mas porque é o tempo ou os
outros que decidem por elas, eliminando uma das opções.
Em grupo, seu
comportamento também é característico: essas pessoas nunca serão quem irá decidir entre planos que são
igualmente atrativos, mas serão as que, assim que os
outros tiverem escolhido um, farão força no sentido contrário.
Assim, as
pessoas que são como o asno de Buridan são radicais por natureza e boas
“torturadoras” nas situações que descrevemos.
Quem rodeia esse tipo de pessoa acaba percebendo como elas
são e procuram apresentar o menor número de decisões e opções possível, temendo um bloqueio ou um colapso
racional.
Por outro lado,
geralmente também são as pessoas a quem os outros recorrem para lhes contar
seus problemas, pois sabem que têm um treinamento analítico tão desenvolvido que farão
uma avaliação geral e profunda da situação em pouco tempo.
As empresas também sabem
disso, mais especificamente as que buscam um determinado perfil para tomar
decisões e outro perfil para ter uma ideia do que acontece em uma determinada
situação.
Por fim, o mesmo ocorre com os políticos. Há aqueles que são bons
fazendo um diagnóstico da realidade, mas logo se bloqueiam completamente na
hora de tomar decisões e de transformá-la.
Um exemplo de racionalidade levada ao limite
pode ser encontrado em um dos personagens mais carismáticos da televisão
atual, Sheldon Cooper.
De fato, é ele próprio
quem se compara com o asno de Buridan em uma dessas cenas de Big Bang Theory em
que tudo é relevante.
Não vamos contar exatamente como aconteceu porque não
gostamos de dar spoilers,
mas você pode assistir à cena no episódio sete da décima temporada.
Saindo das telinhas,
podemos falar sobre os provadores de muitas lojas de roupa,
onde iremos encontrar aqueles que entram com duas peças no vestiário,
mesmo tendo orçamento apenas para uma delas, e têm a habilidade de desesperar a
pessoa que lhes acompanha, por mais paciente que esta seja.
Os críticos desse
paradoxo afirmam que as decisões humanas poucas vezes se assemelham com a do
nosso asno de Buridan.
Eles dizem isso porque as decisões humanas não se
baseiam em uma diferença objetiva de valor, mas em uma percepção da
diferença de valor.
Ainda assim, todos nós continuamos a conhecer
pessoas que, diante de duas opções e sobre as quais têm uma preferência clara,
não conseguem se decidir.