A
mobilidade ganhou significados novos com a explosão do digital.
A reorganização do trabalho, que é um
vetor permanente da economia e já vinha acelerada, explodiu exponencialmente
durante a pandemia. O mundo digital, que antes chamávamos de mundo virtual, é o
novo normal. Mas o mundo real não pode virar o novo mundo virtual.
Uma das coisas que a pandemia nos impede de ver é que a
dominação digital também permite uma exploração maior do mundo físico. E é o
que pretendo fazer na minha reorganização pessoal do trabalho.
Viajar pelo Brasil e pelo mundo em busca de
conhecimento, experiências, novidades e insights para os meus clientes sem que
com isso eu precise me afastar deles. Pelo contrário.
Passei duas semanas em Trancoso em setembro. E trabalhei
muito. Posso dizer até que fui para Trancoso para trabalhar. A maior parte dos
meus clientes está em São Paulo. Fui para uma casa no litoral sul da Bahia, mas
os pontos de contato com os clientes continuaram exatamente os mesmos. A minha
dedicação continuou a mesma. Mas a minha energia aumentou.
Acho que isso vai acontecer cada vez mais. O escritório
pode estar um mês em São Paulo e no próximo em Tóquio, em Nova York, em Boston
ou em Porto Alegre.
A mobilidade urbana ganhou significados novos com a
explosão do digital. A mobilidade humana também.
Um desfile de moda em Milão pode ser o escritório ideal
para pensar em soluções de design e criatividade. Assim como visitar a Festa do
Peão de Barretos ilumina ideias para o setor pecuário. E trabalhar direto de
Harvard, então, com aqueles colegas gênios e professores mais geniais ainda?
Estou falando da minha bolha, mas essa mobilidade é
replicável em todos os setores. E vai demolir as paredes.
As empresas de tecnologia há muito derrubaram paredes
nos seus escritórios e eliminaram aquelas baias fixas. O novo lugar de trabalho
é o link de comunicação com a empresa. E para a sua empresa pode ser melhor que
você conheça mais lugares do que esteja todo dia atrás daquela velha mesa de
trabalho projetada no século passado.
Essa liberdade é seminal e está transformando o
trabalho.
Vejo ganhos de produtividade que podem acelerar os
sonhos dos empreendedores, e o Brasil é terra fértil também para eles.
Ontem foi o dia da Micro e Pequena Empresa, e o Sebrae
divulgou números que de novo revelam a nação empreendedora que somos.
O número de microempreendedores individuais cresceu 15%
nos primeiros nove meses deste ano. Foram mais de 1 milhão de novas
microempresas individuais, resposta raiz dos cidadãos à crise sem precedentes
da pandemia. Diante de dificuldades, brasileiros criam empresas. E parte delas
um dia vai virar pequenas, médias e grandes empresas. Quanto melhor o ambiente
de negócios, mais microempresas se tornarão pequenas, médias e grandes
empresas.
A digitalização acelerada pela pandemia é também um
grande impulso ao empreendedorismo. Empresas pequenas que nem cogitavam
operações online já navegam pelo oceano digital, e o custo dessa infraestrutura
está caindo.
Mas Brasília precisa ajudar, aprovando as reformas
econômicas que reduzirão custos e burocracias. Ocupamos os últimos lugares nos
rankings globais de ambiente de negócios e seguimos há décadas sendo uma das
maiores economias do mundo. Imagina com ambiente de negócios favorável?
As pessoas ficam postergando o futuro. Fala-se muito e
se pratica pouco. Na pandemia, o futuro chegou e se instalou como um
acelerador, transformando o mundo todo em home e em office.
Nizan
Guanaes - empreendedor, criador da N
Ideias.
Fonte:
coluna jornal FSP