O Brasil vive um paradoxo. Poucos países possuem
tantos quadros jovens, preparados e inovadores.
Apesar disso, quem governa o país é uma casta velha
que se revelou incontestavelmente corrupta.
Mas há uma novidade entre nós. Em todo país,
começam a surgir novas redes políticas criadas a partir da sociedade. A grande
maioria consiste em grupos geracionais. Pessoas com menos de 45 anos que
perceberam que não dá mais para "terceirizar" a administração do país
para essa casta.
É um movimento que está sendo protagonizado por
aqueles que foram beneficiários da redemocratização do país. A geração da
década de 1960 não teve a opção de "não se envolver com política". Já
a nova geração, que cresceu sob a Constituição de 1988, foi fazer outras coisas
e, de modo geral, abriu mão do protagonismo político.
A consequência é a brutal ausência de renovação de
quadros no país. Ainda votamos nos mesmos nomes dos anos 1980. A exceção são os
filhos da casta, muitos deles carregando ostensivamente o sobrenome dos pais,
ou sufixos como "filho", "neto", "sobrinho", no
esforço de se perpetuar no poder por procriação.
Esses novos movimentos querem acabar com isso: não
são derivados da casta. Cada um tem uma missão diferente. Eles incluem o Nova
Democracia, Quero Prévias, Brasil21, Muitos, Acredito e o Agora! (movimento
geracional de pessoas que atuam em temas de interesse nacional do qual, vale
mencionar, sou um dos fundadores). Um censo feito pelo site Update Politics
mostra que já são mais de 160 iniciativas desse tipo no Brasil. Essa é a
notícia política mais importante do país. Muito mais que a delação da
Odebrecht.
Vale fazer duas reflexões a esse respeito. Os novos
movimentos surgem em paralelo com outras forças de renovação atualmente entre
nós. Entre elas, o ecossistema de start-ups e de empreendedores sociais
-no centro e na periferia- que se espalha de Porto Alegre a Rio Branco. Esse
ecossistema é composto por pessoas que nunca desistiram de buscar soluções para
nossos problemas, nem mesmo em meio à crise econômica e moral que atravessamos.
Faz parte da tarefa de reconstrução do país abrir espaço para esses
empreendedores terem cada vez mais protagonismo.
O segundo ponto é que os novos movimentos
compartilham valores que são estranhos à casta: transparência,
empreendedorismo, inovação, responsabilidade (accountability), separação entre
público e privado, reconhecimento das desigualdades, e assim por diante.
Além disso, estão intrinsecamente ligados à
internet. Sabem atuar em rede, dialogar e construir pontes uns com os outros.
Depois da delação da Odebrecht, para cada página ou minuto de cobertura de
imprensa sobre corrupção deveria haver um mesmo espaço dedicado à investigação
de alternativas para o país. Está na hora de pararmos de perguntar só "de
quem é a culpa?" para perguntarmos "o que fazer?".
Ronaldo Lemos - advogado, diretor do
Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em
direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil.
Fonte: coluna jornal FSP