Escutamos sempre que investimentos de fundo de pensão possuem um
horizonte de longo prazo. Entretanto, eu pergunto: É isso mesmo? Ou será que
apenas importamos uma crença que aplicamos sem uma avaliação prévia.
Sempre que tenho um dilema, volto às origens. Para que serve um
fundo de pensão? A resposta é simples e direta: Pagar benefícios com segurança
e a um custo razoável. A segurança é importante para garantir a perenidade do
Plano.
O Custo, quanta contribuição que deve ser feita (tanto pela
Patrocinadora quanto pelos Participantes) para garantir os pagamentos de
benefícios, deve ser baixo.
Pagar benefício é fácil, basta contribuir muito! Quem tem Plano
BD deficitário sabe bem como é. Fazer muita contribuição não é a solução
desejável para ninguém.
Nos mercados desenvolvidos a taxa de juros de longo prazo é,
normalmente, baixa. Portanto, investimentos em renda fixa, apesar de
apresentarem menor volatilidade, não produzem o retorno necessário para manter
o custo do Plano baixo. É necessário assumir algum risco. Assim vemos nas
carteiras dos gringos muito investimento em renda variável e alternativos.
O mesmo não acontece no Brasil. Há um motivo muito bom para
isso.
Historicamente nossa taxa de juros é muito alta. Nos últimos 30
anos a taxa de juros real média foi acima de 6%. Acho que esse nível de taxa de
juros praticamente inviabiliza investimentos de maior risco e com longa
maturação.
Além disso se olharmos do ponto de vista dos Participantes e
Patrocinadores é também difícil se justificar investimentos de maior risco.
Vejamos.
Nos Planos de contribuição definida (CD) o Participante deseja,
sem dúvida, retorno acima da inflação para garantir o crescimento da poupança e
a cobertura dos aumentos de preços de serviços e produtos. Seria muito bom, mas
ele não necessita de retornos reais de dois dígitos ao longo do tempo.
Os retornos obtidos no Brasil nos últimos anos têm sido mais do
que suficientes para garantir crescimento e proteção contra a inflação.
Um Participante de um Plano do tipo CD que poupa 15% de seu
salário bruto (considerando contribuições próprias e da Patrocinadora), ao
longo de 35 anos terá, com folga um rendimento mensal que lhe garantirá uma
aposentadoria confortável até os 90 anos, se o retorno médio de seus
investimentos for acima de 5% real.
Temos que lembrar que os Planos do tipo CD concorrem com
produtos financeiros vendidos pelos bancos. É muito comum escutarmos
Participantes comparando a rentabilidade dos Planos com a rentabilidade de
fundos DI, PGBL, VGBL e até a poupança. Assim, quando a rentabilidade do Plano
CD é baixa os Participantes reclamam muito.
Será que eles estão reclamando sem fundamento? Eu achava que
sim, hoje acho que não. Se um investimento de baixo risco oferece boa
rentabilidade, porque assumir riscos?
O Participante tem uma visão de curto prazo. Os produtos
concorrentes também têm.
A rentabilidade da renda fixa é boa e garante crescimento que
proporcionará uma aposentadoria confortável, sem grandes oscilações no saldo da
conta do Participante. Aprendi que assumir riscos nessa condição é difícil.
Rentabilidade baixa mina a confiança do Participante e pode
ferir a imagem do Plano.
Quando olhamos pelo prisma dos Planos do tipo de benefício
definido (BD), também vemos um quadro, no Brasil, diferente daquele dos países
com taxas de juros “educadas”. A solvência de um Plano BD afeta diretamente o
resultado da empresa Patrocinadora. Déficits aumentam as “despesa” e superávit
podem virar “receita”.
Não é incomum vermos executivos discutindo como gerenciar o
Plano para não ter resultados negativos inesperados em seu balanço
(Patrocinadora). Portanto, a visão da Patrocinadora é, na melhor das hipóteses,
de médio prazo.
Esse feito do resultado do Plano no balanço da Patrocinadora
pode causar grandes discussões. Não é raro vermos altos executivos de grandes
empresas muito engajados na definição da Política de Investimentos do Plano.
Eles sabem que um ano ruim para o Plano pode aniquilar o resultado da
Patrocinadora (e seus bônus…).
Do ponto de vista do Participante a situação não é muito
diferente. Planos BD possuem uma enorme capacidade de transferência de déficit
e superávit entre gerações. Risco que normalmente é ignorado. Hoje estamos mais
atentos a isso pois temos, no Brasil, Planos em que participantes ativos estão
pagando o déficit do Plano, ou seja, estão financiando a aposentadoria de
muitos.
A rentabilidade dos investimentos dos recursos do Plano é um
fator determinante em seu custo e equilíbrio. Resultados ruins podem prejudicar
Patrocinadores e Participantes. Portanto, Fundos de Pensão em países com taxa
de juro real alta deveriam assumir menos risco.
Assim, no Brasil, investimentos de fundos de pensão não possuem,
e não devem possuir, uma visão de longo prazo e realizar investimentos com alto
risco e que demandem tempo para amadurecer.
As altas taxas de juros nos dão o conforto de pensar no curto
prazo e assumir poucos riscos. Quando as taxas de juros caírem, revemos nossas
estratégias.
Lauro Araujo – administrador de empresas, é diretor da LAS
Consultoria Financeira e Atuarial para Fundos de Pensão