Economia da longevidade já movimenta mais de R$ 1
tri e segue em expansão
Oportunidades
de investimento incluem áreas como adaptação de casas e curadoria de memórias.
O mercado movimentado por pessoas com 50 anos ou mais já
abrange 54 milhões de consumidores e pode chegar a 90 milhões até 2045 no
Brasil, segundo projeção do Instituto Locomotiva.
A perspectiva sinaliza
oportunidades de negócio na chamada economia da longevidade, que movimenta R$ 1,6 trilhão por
ano no país.
O crescimento do número de consumidores maduros abre espaço para
empreendedores que querem investir em serviços de saúde, lazer e turismo, além
de áreas relacionadas ao bem-estar econômico e social.
Estudo da FDC (Fundação Dom Cabral) aponta dez
profissões do setor que tendem a crescer nos próximos anos.
Entre as áreas
estão a de cuidados médicos, como a geriatria, especialistas em
adaptação de casas e o de curador de memórias pessoais.
O Estúdio Eon, dedicado à produção de documentários sobre famílias,
foi fundado há três anos após o empreendedor Fabio Schivartche, 49, perceber
demanda neste nicho de mercado. "A procura por esse tipo de produto tem
sido alta.
Cada vez mais as pessoas percebem que têm um legado e querem
preservar suas histórias", afirma Schivartche, que tem mais da metade da
clientela formada por pessoas com mais de 50 anos.
A produção dos filmes leva de seis meses a um ano e
custa a partir de R$ 150 mil. O preço varia de acordo com custos com viagens e
tamanho da equipe.
Embora conhecido, o consumidor dessa faixa etária ainda não é
plenamente atendido e há espaço para novos negócios, diz Wilson Poit,
diretor-superintendente do Sebrae-SP.
Ele orienta os empreendedores que trabalham com
negócios da longevidade a ouvir com atenção os
consumidores, para conhecer melhor suas demandas, e reforçar cuidados com um
atendimento mais individualizado.
Espaços mais iluminados, produtos com rótulos
maiores e atendentes treinados para responder dúvidas são algumas das medidas
necessárias para fidelizar esse público
Estudo do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada) divulgado no ano passado mostrou que a proporção de idosos (mais de 65 anos) no
Brasil pode saltar dos 7,3%, em 2010, para 40,3% em 2100.
O percentual de jovens (menos de 15 anos) pode cair de 24,7% para 9%. Hoje, de
acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) 10,5% da
população brasileira tem mais de 65 anos.
Segundo Layla Vallias, consultora de marketing
especializada no consumidor sênior, as pessoas com mais de 50 anos são
protagonistas de um novo modo de consumir.
"Hoje é comum que as pessoas mais novas
dependam das gerações anteriores que fizeram dinheiro", afirma Layla. Com
isso não são mais os filhos adultos que tomam a decisão de compra, mas sim os pais e avós.
A consultora explica que o comportamento do
consumidor muda a partir dos 50, quando há, segundo ela, uma reflexão sobre a
maturidade.
Por isso, a economia da longevidade considera uma faixa etária que
ainda não alcançou os benefícios dos direitos previdenciários ou gratuidade em
transporte, a partir dos 60 anos.
"As mulheres são protagonistas dessa revolução
da maturidade. Elas acumulam mais papéis dentro da família e são as que mais
sofrem preconceito etário", afirma Layla.
Mas ainda são escassos os negócios que olham, por exemplo, para
as mudanças que acontecem no corpo da mulher madura, como a menopausa, diz.
Ela diz que há espaço para o mercado de confecção de roupas e
produtos estéticos ou para manter a vida sexual saudável. "São mulheres
ativas e que querem entrar em uma drogaria e encontrar produtos específicos
para elas."
Foi pela falta de representatividade que a estilista Helena
Schargel, 82, decidiu desenhar uma linha de lingeries para mulheres com mais de
50 anos.
Ela, que trabalhou com moda a vida toda, já estava aposentada quando
decidiu lançar a coleção, há três anos.
Helena considera que o mercado deixa a desejar na produção de
roupas para mulheres maduras e apostou nesse nicho lançando duas linhas de
lingerie, uma para o dia e outra para a noite, que estão à venda no site da
marca de vestuário Recco.
"Quando a pessoa chega na loja e vê uma peça bonita, bem
trabalhada e com a etiqueta 50+ sente que pensaram nela", afirma Helena.
Além de consumidores potenciais, quem tem mais de
50 também está empreendendo. Levantamento do Sebrae do ano passado mostra que
aproximadamente 7,5% das pessoas entre 55 e 64 anos decidiram abrir um negócio.
Em 2019, apenas 3,5% desse público haviam encarado o desafio.
Uma das causas que motivaram os novos
empreendedores, segundo a pesquisa, é a necessidade que muitos tiveram de
salvar a renda familiar comprometida durante a pandemia do coronavírus.
Com a ameaça do coronavírus, a nutricionista
especializada em envelhecimento Roberta Taveira afirma que
houve uma alta também na procura por serviços que prezam pela saúde.
"A
pandemia despertou a preocupação com o envelhecimento saudável.
CATARINA FERREIRA – jornal FSP