Como dizer não ao filho? Tem sido muito difícil
para um grande número de pais dizer "não" a uma criança ou a um
adolescente. E, na mesma medida, tem sido extremamente difícil para os mais
novos conviverem com tantos "nãos" que a família lhes impõe e –o mais
importante– saber diferenciar os "nãos" que são temporários –a
maioria– daqueles que são para sempre –poucos, mas vitais.
Sabe aquela história de que "criança precisa
de limite"? Pois é, isso acabou produzindo tantos "nãos" na vida
das crianças que essa palavra passou a ser vazia de sentido. "Não"
significa absolutamente nada para eles. A questão que fica é: "É possível
recuperar essa situação?". E a resposta é simples: "É possível,
sim".
Vamos iniciar com a criança pequena, que passa a
ouvir os pais dizerem muitos "nãos" desnecessários: "Não jogue
isso no chão", "Não brinque com a comida", "Não estrague
seu brinquedo", "Não suba no sofá com sapato", "Não espalhe
água no banho" etc. Uau!
Adolescentes deveriam receber "não" apenas
para o que fosse realmente danoso, como beber álcool
Com criança pequena em casa, quem mais tem limites
são os pais, e não os filhos. São eles que devem, por um período, renunciar a
alguns prazeres –como o de ter uma casa cheia de enfeites, vasos e móveis
sofisticados; são eles que devem acompanhar as investigações da criança, e não
vetá-las; são eles que precisam entender que água, comida na roupa e no chão, e
sujeira, por exemplo, são fundamentais para a criança em seu desenvolvimento.
Agora, vamos pensar na criança que já deixou a
primeira infância. Por que gastar tantos "nãos", em vez de valorizar
apenas os mais importantes para a família? Pense, caro leitor, quantas vezes
você pode economizar a palavra "não" com uma atitude. É bem mais
eficiente e, de quebra, faz com que a criança, ao ouvir um "não', seja
capaz de respeitá-lo um pouco mais. Por exemplo: em vez de dizer "não vai
falar ao celular agora", melhor guardar o celular por esse período. Em
geral, por comodidade, os pais preferem dizer "não" a agir!
Quanto aos adolescentes, eles deveriam receber
"não" dos pais apenas para aquilo que for, realmente, danoso a eles:
não vai tomar bebida alcoólica, por exemplo. E, quando houver transgressão a
algum "não" familiar que eles conhecem, devem ser aplicadas as
sanções previamente estabelecidas e conhecidas dos jovens e fazer com que façam
a autocrítica de seu ato e, quando possível, a reparação.
O que é reparação? Poucos pais conhecem e usam esse
conceito. Um adolescente humilhou um irmão, colega ou adulto? Nada melhor do
que levar o filho que fez isso a colaborar com essa pessoa, de alguma maneira.
Muita gente viu a notícia sobre a mãe de uma adolescente que a fez limpar uma
pichação que havia feito no muro da escola. Isso é reparação, não castigo!
Dar limites a uma criança nada mais é do que
ensinar a ela como é o mundo, não apenas com discursos e castigos, mas
acompanhando-a no que ela faz; é permitir que ela também aprenda errando e que
descubra alguns limites pessoais por si mesma, quando não for perigoso de fato
a ela.
Criança malcriada, que não sabe como se comportar
em ambientes públicos, que não sabe conviver, não é uma criança sem limites,
que deixou de receber "nãos" dos pais ou na escola. É uma criança
abandonada por adultos em casa, na vida escolar, em sociedade.
Rosely Sayão - Psicóloga e consultora em educação
Fonte: coluna jornal FSP