Pelo trabalho que desenvolvo,
sou uma profissional muito privilegiada porque convivo com o que há de mais
especializado em Previdência Complementar no Brasil. Não é segredo que fico
muito entusiasmada com tudo o que vejo e com todos com quem tenho a oportunidade
de conversar. Falar é muito importante! Uma das etapas do método de inovação e
criatividade, como aprendi muito recentemente, durante uma palestra de Martha
Gabriel. Depois de falar, é tão ou mais importante fazer, transformar,
mudar, interferir para mudar a realidade.
Ouvi a teoria sem considerar que tão prontamente pudesse observá-la na prática.
Mas foi exatamente isso que aconteceu. Só que em outro evento. No último dia 11
de setembro, graças à generosidade do convite, assisti na íntegra ao Seminário
de Previdência 2014 da Towers Watson - Empresa, Governo e Participantes:
soluções e atitudes que superam os desafios dos indivíduos.
José Edson da Cunha Jr., da SPPC, apresentou um painel sobre cenário
previdenciário no Brasil. Para minha surpresa, falou sobre uma estratégia para
a estruturação de Programas de Educação Financeira e Previdenciária segmentados
e dirigidos por públicos: cidadãos, empresas, sindicatos, Governo.
Pontuou um aspecto que considero extremamente relevante: mesmo os
formadores de opinião têm dificuldade para falar sobre Previdência. Pudera!
Não é simples adquirir fluência sobre um tema naturalmente complexo e que é
diferentemente impactado por cenários econômicos, sociais, políticos, leis de
todas as espécies, influências externas e tantas outras contingências.
Falou ainda sobre a Pesquisa Nacional para avaliar a percepção dos
Participantes sobre seus Planos de Previdência. Será a maior já feita aqui no
Brasil, porque existe um risco real de frustração de expectativas em relação ao
recebimento de benefício, uma vez que há mudanças estruturais profundas que
estão acontecendo com a sociedade desde 1980: aumento intensivo da longevidade,
queda de taxas de juros, aumento intensivo do consumo e do padrão de vida dos
brasileiros.
As pessoas precisam ser preparadas para o futuro. Planejar mais, poupar mais,
ter mais clareza sobre sua real responsabilidade sobre aspectos que tangenciam
simultaneamente a construção de uma carreira e o plano de sustentação da vida
no pós-carreira.
Felinto Sernache falou sobre bônus demográfico atrelado a
indicadores de produtividade. E, para minha surpresa, com relevância e
pertinência, a Comunicação e, principalmente, a Educação figuraram
na apresentação como vetores e elementos de transformação social. Existem
fatos que comprovam os resultados da estratégia. A Coréia, por exemplo,
provocou uma revolução na sociedade por meio de uma política de Educação
agressiva em qualidade de ensino.
No Brasil, o acesso da Classe C ao consumo e ao mercado de trabalho é fato.
Agora o desafio é compartilhar atitude e transferir cultura previdenciária para
os indivíduos das gerações Y e Z para que eles possam aproveitar oportunidades
de acesso à poupança com horizonte alongado. Somente essas duas palestras
já teriam cumprido o propósito de fazer pensar diferente sobre Previdência,
como desafiou Felinto Sernache.
Mas o evento ainda reservava uma apoteose: Eduardo Giannetti,
falando sobre O Valor do Amanhã e o chamado: temos que
preparar a NAÇÃO para o fim do bônus demográfico - estimado
para 2034 - e para a sustentabilidade da prosperidade. Antes, porém, temos que
compensar a baixa capacidade produtiva em relação aos demais países do
mundo.
A Alemanha foi usada como
referência, para demonstrar que ganha de 6X0, quando se trata de aproveitamento
de recursos técnicos e de capital humano. Eles trabalham menos tempo e produzem
mais. Eles têm menos riquezas naturais, mas têm maior eficiência alocativa e
inovação para a criação de valor para a sociedade.
A desvantagem brasileira
começa com um paradoxo: exige-se credenciais educacionais (diploma) ao invés de
competência. Disso resulta que, 1/3 dos egressos do ensino superior no Brasil
são analfabetos funcionais. Ou seja: têm diploma mas não estão aptos para serem
absorvidos pelo mercado de trabalho.
Isso é desvantagem
competitiva! Isso é inabilidade para entender que o planejamento de vida
precisa ser feito com horizontes alongados atrelados ao reconhecimento e
legitimação do "poder mágico do crescimento exponencial" (juros
compostos) oferecido pela poupança em oposição ao imediatismo do
consumo. Sim! Trata-se um projeto político revolucionário e subversivo
para toda a sociedade: Educação, trabalho e POUPANÇA. Afinal, existe uma
característica comum a todos os cidadãos: TODOS VÃO SE APOSENTAR!
Só quem poupa, enriquece
Apresentações técnicas sobre Planos Ciclo de Vida e TotalWis, serviços
oferecidos pela Towers Watson, foram bastante significativas porque deslocam o
foco discursivo da formação do patrimônio previdenciário para a expectativa de
consumo no pós-carreira atrelada à formação de poupança compatível.
É uma forma nova e ousada de abordagem, porque tem potencial para materializar
em atitudes efetivas o que os conceitos previdenciários clássicos ainda não
foram capazes de provocar conversão entre discurso e prática, ainda que usassem recursos
como simuladores, palestras técnicas, cartilhas, manuais e até
avatares. O storytelling volta como outro expertise da
Towers Watson, aplicado a demandas específicas de adesão de planos
previdenciários e enfatizando a importância de uma identidade previdenciária -
representada pelo ID do Participante.
Para concluir este post, retomo Martha Gabriel e o valor da
"conversação". Acho que a combinação de todo esse contexto com
os três movimentos integrados - ciclo de vida, expectativa de consumo e
storytelling - propostos pela Towers Watson podem desencadear muitas novas
experiências de uso da Previdência Complementar. Podem ajustar, inclusive, a
expectativa de retorno para evitar o risco de frustração com os resultados do
plano. E, o melhor dos mundos: podem aumentar a consciência de que a atitude
previdenciária individual é o realmente impacta nos resultados de longo prazo.
Eliane Miraglia -
mestre em Ciências da Comunicação (ECA/USP), desde 1991 atua no segmento de Previdência Complementar, consultora da Suporte, é autora
do blogue Conversação.
Fonte: http://elianemiraglia.blogspot.com.br