Fundos de investimento: O impressionante poder da
descorrelação
A
diversificação é o segredo, mais especificamente a correlação entre os fundos
que compõem a sua carteira.
Na última coluna, falei sobre um curioso
experimento que mostrou como escolher fundos de investimento com base em seus
rendimentos anteriores traz maus resultados para a sua carteira.
Agora, é hora
de saber o que levar em conta, então.
A diversificação é o segredo, mais especificamente
a correlação entre os fundos que compõem a sua carteira.
Se você escolhe fundos
que têm, em sua composição, investimentos de setores e áreas completamente
diferentes, tende a colher bons frutos.
Não se trata de teoria pura e simples.
Divulgo
aqui, em primeira mão, os resultados de um novo estudo da gestora Pandhora,
que, depois de mostrar como usar a rentabilidade como critério não trazia
qualquer benefício, foi procurar qual seria a melhor variável a ser observada.
Eles seguiram a mesma lógica que expliquei semana
passada: como primeiro filtro, usaram apenas fundos que compõem o IHFA, índice
de fundos multimercado (hedge funds) da Anbima (a Associação Brasileira das
Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), uma espécie de Ibovespa dos
fundos.
Como para estar no IHFA, os fundos já seguem
diversos critérios, dificilmente um escolhido aleatoriamente será completamente
quebrado ou sem liquidez.
Criaram, então, novas carteiras hipotéticas de
20 fundos cada, ajustadas trimestralmente e anualmente.
Primeiro, definiram como variável o índice de
sharpe, que relaciona o risco e o retorno do investimento.
Quanto maior o
retorno e menor o risco, mais alto o sharpe. O índice é muito usado pelos
gestores na composição de carteiras.
Assim, montaram seis carteiras: reajustadas
anualmente e trimestralmente, com os melhores sharpes dos últimos 3, 12 e 36
meses.
O desempenho não foi nada bom, apesar de um pouco
melhor do que as carteiras baseadas apenas em rentabilidade.
As que trouxeram
mais retorno foram as anuais, com lookback window de 12 e 36 meses, mas o
desempenho delas foi bem pouco acima do IHFA, que reflete o mercado como um
todo, no período.
Testaram, então, outra hipótese, bem mais drástica,
que trouxe uma grande surpresa para os investidores.
Fecharam completamente os olhos para o rendimento
dos fundos e determinaram que fossem selecionados aqueles que tivessem a menor
correlação entre si. São fundos cujos desempenhos dependem de mercados
completamente distintos.
E eis a surpresa: todas as carteiras formadas desse
jeito, às cegas em relação ao rendimento dos fundos, tiveram rendimentos muito
acima do IHFA.
O melhor resultado foi da carteira de reajuste anual, com
lookback window de 36 meses. Ela deu um retorno de 178% do CDI, enquanto o
índice chegou a 123% do CDI.
Longe de mim dizer que você não deveria olhar para
o retorno dos fundos que compra, mas essa experiência deixa claro que esse não
pode ser o seu critério principal.
É natural que seu gerente do banco ou assessor de
investimentos, ao sugerir um fundo, argumente como aquele investimento teve um
retorno de impressionantes sei-lá-quantos porcento nos últimos sei-lá-quantos
meses.
O resultado que acabei de descrever mostra que o seu papel é perguntar
de volta: e qual é a correlação dele com o resto da minha carteira?
Os especialistas recomendam que, tal qual no mercado de ações, você comece aplicando em
fundos cujo foco é uma área de seu interesse e, a partir disso, diversifique
seus investimentos para que eles tenham a menor correlação possível.
Calma, não precisa fazer tudo de cabeça.
O mercado
tem algumas ferramentas que analisam a correlação dos diferentes investimentos.
Seu gerente ou assessor de investimentos sabe usar.
E você mesmo pode encontrar
algumas bem simples de usar na internet, de graça.
Obs.: Quem quiser acompanhar de perto um
experimento sobre o poder da aleatoriedade no mercado de ações pode seguir o
bem humorado perfil de Instagram @Monkeystocks.
Toda semana, ele sorteia de
forma randômica, uma carteira com cinco papéis do Ibovespa e compara seu
rendimento com as carteiras recomendadas por bancos e corretoras. Os resultados
são, no mínimo, interessantes.
Marcos de Vasconcellos - jornalista, empreendedor e fundador do site
Monitor do Mercado.