Falar mal da escola e buscar outra muito semelhante só colabora
para que ela fique desacreditada pelos alunos.
Esta
é uma época muito desfavorável para a escola e, consequentemente, para crianças
e adolescentes que precisam, obrigatoriamente, frequentá-la. E aqui não faço
referência a uma unidade especificamente, e sim à instituição escola, seja ela
particular ou pública, que existe em nossa realidade e que também habita o
imaginário de todos nós.
É que agora é o tempo em que os pais --aqueles que podem
escolher a escola que o filho frequenta-- consideram a possibilidade de
transferência do filho, motivados por insatisfações dos mais diversos tipos.
E os que não podem fazer tal escolha avaliam o ano letivo que
está prestes a terminar, considerando, quase sempre, apenas a atuação da
escola.
Há uma grande pressão, por exemplo, por notas altas ou, pelo
menos, por notas que permitam a aprovação do filho. E quando as notas não
alcançam o patamar esperado e/ou desejado pelos pais, estes costumam pensar que
a escola não cumpriu seu papel de alertá-los a respeito do fato, agora quase
consumado, para que pudessem tomar algum tipo de providência. Ponto negativo
para a escola, portanto.
Há também, hoje, uma ansiedade generalizada dos pais para que o
filho não sofra assédio dos colegas ou não seja alvo de violências, brandas ou
pesadas --o agora tão popular bullying. E o interessante nessa história é que
muitos pais atribuem a determinados colegas do filho essa ação frequente ou a
liderança para o ato. É o que chamamos de "bode expiatório".
Se a escola não toma algum tipo de providência em relação a
esses alunos --expulsão branca, por exemplo--, os pais acreditam que ela não
serve para o filho. Ponto negativo para a escola, mais uma vez.
E o que dizer de frustrações que nada têm a ver com a vida
escolar do filho? Eventos que não agradam, reuniões que não são do jeito que
eles querem, pouca atenção aos pais etc. Tudo é motivo para a escola ganhar
pontos negativos na avaliação que os pais fazem dela.
Sim: a escola está obsoleta, resiste quanto a se renovar, não
sabe ao certo o que significa "educar para a cidadania", insiste em
um modelo totalmente ultrapassado, acredita que seu papel ainda é o de
transmissão de conhecimento e vê e trata os pais como consumidores de educação.
Pai, hoje, é patrão na escola, e os filhos já se tocaram disso.
O problema é que falar mal da escola, que é o que torna este
momento desfavorável a ela, e sair em busca de outra muito semelhante --apenas
com novos diretores, coordenadores, professores e materiais didáticos, por
exemplo, só colabora para que a instituição fique cada vez mais desacreditada
pelos alunos.
E, contraditoriamente, queremos que nossos filhos gostem de
estudar, sigam as orientações da escola, respeitem os trabalhadores da
educação, aprendam. Aprendam!
Quanto mais falarmos mal da escola, menos tudo isso ocorrerá.
Nossa alternativa é cobrar da escola inovações --de verdade, em sua organização
e estrutura e não na instalação das muitas traquitanas tecnológicas-- e
orientar nossos filhos a fazer a mesma coisa.
Esta seria a verdadeira parceria da escola com as famílias de
seus alunos: a exigência posta para a instituição de que ela deve mudar. Com
nosso apoio, é claro. E para o bem dos mais novos, e não para nossa
tranquilidade e ilusória sensação de segurança.
Rosely Sayão – psicóloga e consultora em educação
Fonte: caderno cotidiano / jornal FSP
-