Investimentos no Exterior


Nossa economia está uma porcaria. Desemprego aumentando, empresas fechando e as perspectivas não são muito animadoras.

Pessoas que têm dinheiro (e tenho sentido isso bastante em meus clientes de consultoria, que geralmente são pessoas de renda um pouco mais alta) estão mandando, ou cogitando mandar, dinheiro para fora do Brasil, a despeito dos baixos retornos que obtém lá fora e do dólar indo às alturas.

Essas pessoas não estão buscando retorno financeiro – elas estão, fundamentalmente, com MEDO e buscam proteger um patrimônio que, muitas vezes, veio com suor e dificuldade. Eu não condeno, não incentivo e não julgo quem opta por esse caminho, mas acho que as pessoas que tomam a decisão de investir fora do Brasil devem fazer isso de uma maneira mais bem informada. E talvez eu possa ajudar.

Acredite, um dia na vida eu já fui “bom” nesse tipo de coisa, mas a baixa demanda e o baixo interesse pelo assunto por parte de meu público me fizeram não mais acompanhar tanto a realidade dos investimentos fora do Brasil (aliás, artigos sobre investimentos estrangeiros que eu posto nas redes sociais, usualmente em Inglês, costumam ser solenemente ignorados pelos meus leitores, compreensivelmente...).

Porém as coisas estão mudando. Investimentos no exterior e obtenção de dupla cidadania têm sidos assuntos recorrentes em minhas conversas, especialmente com o público um pouco mais “endinheirado” – sempre alguém acaba perguntando minha opinião. Aliás, por falar em dupla cidadania, é um assunto sobre o qual não posso ajudar (existem profissionais especializados nisso e não é minha área de expertise), mas se você tem direito e ainda não foi atrás disso, recomendo que o faça rapidamente. Mesmo que não tenha a intenção de sair do Brasil simplesmente faça, pois é seu direito e vira uma espécie de “seguro de vida” caso as coisas aqui saiam do controle...

Mas, enfim, “investimentos no estrangeiro” é um assunto que provavelmente estará mais presente nos meus conteúdos de agora em diante.

Renda Fixa: Brasil versus EUA

Eu não me canso de falar que a renda fixa, aqui no Brasil, considerando as atuais taxas de juros, é um dos melhores negócios (legais) do mundo. Chega a ser covardia comparar as nossas taxas com aquelas que são praticadas nas economias desenvolvidas, especialmente nos EUA, que é um país que usamos como referência para várias comparações.

Vamos começar com o óbvio, que são as taxas de juros. Aqui, temos uma Selic de (por enquanto) 14,25% ao ano. O retorno da maioria dos títulos de renda fixa negociados no Brasil está “por aí”, com pequenas variações para cima ou para baixo. Já nos EUA, a taxa básica deles, equivalente à nossa Selic, é de 0,50% ao ano (aumentada recentemente).

Ou seja, aqui, um título como o “feijão-com-arroz” Tesouro Selic rende seus 14,25% ao ano (menos taxas e IR), enquanto o igualmente popular Treasury Bondamericano de dez anos está dando um retorno, em números redondos, de 2% ao ano. Se um investidor americano quiser algo melhor do que isso, ele terá que sair do conforto e da segurança dos títulos públicos federais e buscar algo no mercado de títulos emitidos por empresas (os “Corporate Bonds”, cujo equivalente mais próximo aqui no Brasil seriam as debêntures). Nesse mercado, onde os títulos são significativamente mais arriscados do que os emitidos pelo governo, as taxas costumam ser, para títulos de “boa qualidade”, aproximadamente um ponto percentual acima do que é praticado nos treasuries(títulos públicos) de prazo equivalente.

Não é muito animador, mas já foi pior. Hoje, a inflação nos EUA é particularmente baixa (abaixo de 1% ao ano), então até dá para “ganhar uma graninha”. Mas, há poucos anos, investir em renda fixa nos EUA era praticamente sinônimo de “perder dinheiro mais devagar” para a inflação.

Mas existem alguns outros fatores, além dos retornos brutos, que fazem com que o Brasil seja uma espécie de “paraíso da renda fixa”, se o compararmos aos EUA. Vamos vê-los:

Títulos pós-fixados

Lá não tem a “moleza” que tem aqui, de investir em títulos indexados à taxa básica de juros, que não apresentam volatilidade antes do vencimento e rendem mais caso os juros subam.

Com raríssimas exceções, os títulos lá, tanto públicos quanto privados, são prefixados, e o investidor está permanentemente sujeito a sofrer perdas caso venda os seus títulos, antes do vencimento, em um cenário de juros ascendentes.

Proteção contra a inflação

Não é comum títulos de renda fixa oferecerem indexação a índices de preços. Existem títulos públicos indexados à inflação, os TIPS (Treasury Inflation-Protected Securities), que oferecem razoável proteção, mas nem de longe são “generosos” como o nosso “Tesouro IPCA” (antiga NTN-B). Além do que, são emitidos apenas para prazos mais curtos (entre cinco e dez anos).

 

Tributação

Aqui, a gente ganha de lavada. No Brasil, o imposto de renda sobre a renda fixa começa em 22,5% e vai caindo, até chegar em 15% após dois anos. Lá, o IR sobre renda fixa costuma ficar entre 25 e 28% para a maioria das pessoas mas, em alguns casos pode chegar a 35%.

Os títulos municipais, que lá são conhecidos como “munis” (e lembrando que, aqui no Brasil, estados e municípios não podem emitir títulos de dívida) são isentos de impostos federais (como o imposto de renda), mas o retorno é menor e reflete essa isenção.

“Callability”

Investidores que buscam um retorno melhor, nos EUA, acabam comprando títulos de empresas (os Corporate Bonds), que oferecem taxas melhores. Porém, é muito comum que as empresas emitam títulos chamados de callable, que significa que eles podem ser liquidados antecipadamente pelo emissor. Isso cria uma grande imprevisibilidade para o investidor, que pode ter seu plano de investimentos repentinamente interrompido, caso a empresa resolva liquidar os títulos.

Isso geralmente acontece quando os juros caem e as empresas aproveitam para lançar novos títulos com juros menores.

Tesouro Direto aqui e lá

Aqui é a vez dos EUA levarem a melhor. Nos EUA também tem Tesouro Direto (www.treasurydirect.gov). Porém, o tesouro direto “deles” é REALMENTE DIRETO – não tem intermediários, não tem necessidade de abrir conta em corretora e não tem nenhum custo para realizar as transações.

Enfim, em pelo menos um item, ponto para os EUA!

André Massaro - escritor, palestrante, educador financeiro e consultor especializado em finanças, investimentos e economia; é autor dos livros "MoneyFit", "Por dentro da bolsa de valores" e "Dinheiro é um santo remédio".

Fonte: site Exame

 

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