Vou falar um
pouco sobre um risco da Renda Fixa que, estranhamente, é muito pouco comentado
pelos especialistas e pela literatura de finanças no Brasil: o risco do
reinvestimento.
O risco do
reinvestimento é, como o próprio nome sugere, o risco de não conseguir
reinvestir o dinheiro, em condições iguais ou melhores que as atuais, na
eventualidade de um evento de liquidação financeira de um título de renda fixa
(resgate, vencimento, venda ou pagamento de juros).
Ou seja,
explicando de uma forma (eu espero) mais simples, é o risco de você investir
num título que paga 14% ao ano e, quando o mesmo vencer, o mercado estar
pagando apenas 6% ao ano (e você não conseguir manter os ganhos nos níveis que
estava habituado). É um risco que pode afetar qualquer investimento de Renda
Fixa, mas afeta, em particular, títulos prefixados e títulos indexados à
inflação (que têm uma parcela prefixada).
O risco do
reinvestimento é particularmente preocupante para aqueles investidores com
horizonte de extremo longo prazo (décadas à frente – caso daqueles que estão
construindo um patrimônio para a aposentadoria), que fazem planos considerando
uma determinada realidade de juros e podem, “no meio do caminho”, encontrar um
mercado com juros muito menores, que inviabilizam a estratégia planejada.
O risco do
reinvestimento é muito comentado na literatura americana de finanças, pois lá,
muitos dos títulos de renda fixa privados (os “corporate bonds”,
equivalentes às nossas debêntures) podem ser liquidados antecipadamente por
iniciativa do emissor.
Essa liquidação
antecipada (chamada call, no jargão, e os títulos que permitem isso são
chamados de callable) ocorre porque, num evento de queda dos juros no
mercado, as empresas que emitiram esses títulos querem recomprá-los para poder
emitir novos títulos a juros menores.
Esse tipo de
operação não representa, em princípio, nenhuma perda para o investidor (pois
ele recebe o seu valor de volta, com o rendimento proporcional até o momento do
call), mas atrapalha (e muito) a vida daquele investidor que fez um
plano de longo prazo contando que iria receber aquela taxa de juros. Nos EUA,
inclusive, os títulos callables costumam ter uma taxa de juros superior
a títulos equivalentes non-callables, exatamente para compensar esse
risco.
Aqui no Brasil,
o risco do reinvestimento começa a chamar a atenção num momento como o atual,
em que se acredita que os juros deverão ser reduzidos, ainda que de forma lenta
e gradual. Muitos investidores, acostumados aos altíssimos retornos que temos
aqui, já começam a se preocupar em como manter (se é que isso será possível) os
rendimentos atuais no futuro, caso as taxas de juros caiam. Aliás, em 2012,
quando a Selic chegou a 7,25% ao ano (e depois voltou a subir), muitos
investidores ficaram verdadeiramente angustiados com a perspectiva de não
conseguirem manter seus ganhos, à medida que os títulos iam vencendo.
Uma forma de
mitigar esse risco é procurando investir em títulos prefixados, ou indexados à
inflação, de prazos mais longos, como os “Tesouro IPCA” com vencimentos em
2035, 2045 ou 2050. É uma forma de tentar “travar” uma taxa de juros alta e
tirar proveito dela pelo maior tempo possível.
Especificamente
no caso dos Tesouro IPCA com juros semestrais (que são aqueles de prazo maior),
da mesma forma que eles não oferecem uma proteção perfeita contra a inflação,
eles também não oferecem uma proteção perfeita contra o risco do
reinvestimento, pois temos os juros sendo pagos semestralmente e não sabemos se
conseguiremos reinvesti-los em boas condições.
Mas, assim como
no caso do risco de inflação, essa proteção (ainda que parcial) contra o risco
do reinvestimento é “melhor do que nada”.
André Massaro -
escritor, palestrante, consultor financeiro
Fonte: Exame.com