Os
dados do IBGE mostram que cresceu significativamente o número de casais
brasileiros que opta por não ter filhos. Hoje, são 19,9%. Em 1960, a média de
filhos por mulher era 6,3. Hoje, é 1,7.
As
brasileiras, especialmente as que têm maior escolaridade e renda, além de terem
menos filhos (ou não terem), estão adiando a maternidade para depois dos 30
anos.
Para
a minha geração, a principal identidade feminina era (e, para muitas mulheres,
ainda é) a de mãe e esposa.
Apesar
da cobrança social e da pressão das amigas, decidi, desde muito jovem, que não
teria filhos. Nunca fiz uma apologia ou defesa militante da minha opção, mas
fui muito questionada, especialmente pelas mulheres.
"Você
acha normal não querer filhos? Você tem alguma doença? Algum trauma psicológico?"
"Quem
vai cuidar de você na velhice? Você quer ser uma velha infeliz, solitária e
abandonada?"
"Você
não sabe que só tendo filhos vai se sentir plena como mulher, conhecer o
verdadeiro amor incondicional?"
"Lembra
do poema do Vinícius? 'Filhos? Melhor não tê-los. Mas se não os temos, como
sabê-lo?'"
Recentemente,
no entanto, tenho escutado um discurso oposto de algumas mulheres que, no
passado, criticaram duramente a minha opção.
Uma
amiga, com filhos de 23 e 25 anos, disse: "Você fez a decisão mais certa e
corajosa. Meus filhos só me dão trabalho. Só me procuram para pedir dinheiro e
quando estão com problemas. Nunca me ligam para saber se estou bem, de uma
forma desinteressada".
Outra,
com filhos de 29 e 32 anos, contou: "Com o que ganho como aposentada, não
tenho mais como dar muito dinheiro para meus filhos. Eles estão revoltados, não
reconhecem tudo que sempre fiz por eles. Dizem que sou egoísta, já que minha
obrigação seria sustentá-los pelo resto da minha vida. Eles acham que são artistas.
Na verdade, são dois parasitas".
A
opção por não ter filhos está se tornando cada vez mais ampla e legítima em
nosso país, como já acontece em outras sociedades.
Cada
casal, cada mulher e cada homem têm o direito de escolher livremente a sua
forma de viver, de amar e de ser feliz, sem sofrer preconceitos e violências.
Você
acredita que as mulheres e os homens que decidem não ter filhos irão, na
velhice, se arrepender de suas escolhas?
Mirian Goldenberg - antropóloga e professora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Fonte: coluna jornal FSP