A aprovação da
reforma da previdência e
a intensificação do debate sobre o assunto tem feito brasileiros se preocuparem
mais com suas respectivas aposentadorias. O reflexo disto está nos números de
captação dos planos de previdência. Segundo a Anbima, em 2019 a captação
líquida é quase o dobro da ocorrida no mesmo período do ano passado.
Quase todos estes investidores vão poupando sem objetivo
estabelecido, alguns esporadicamente e outros com mais disciplina. Entretanto,
não sabem se estão fazendo corretamente e ingenuamente esperam que com isso
cheguem ao lugar certo.
O erro será devastador, pois será descoberto em um instante que
não permite mais correção, ou seja, quando estiverem prestes a se aposentar.
Como consequência terão seu padrão de vida e sossego comprometidos justamente
no momento que esperavam a tranquilidade.
Para evitar este erro, a solução é o planejamento. Neste
sentido, o professor da Universidade de Montreal, Jacques Lussier escreveu um
livro, disponibilizado gratuitamente no link, em que discute o desafio.
Comento a seguir quais as cinco perguntas que Lussier propõe e
que você deve responder para planejar sua aposentadoria.
Estas cinco perguntas são fundamentais, pois elas podem dar a
resposta que você precisa que é: Qual renda mensal posso contar na aposentadoria?
1- Quanto posso poupar mensalmente?
Normalmente as pessoas se perguntam “quanto posso poupar
mensalmente?”. Entretanto, a pergunta mais adequada é: “quanto devo poupar
mensalmente?”.
O erro ocorre porque as pessoas, rotineiramente, não consideram
a previdência como uma dívida, mas como um capricho. Portanto, acabam guardando
para ela apenas o que sobrou durante o mês.
Esta falha só é percebida quando se está muito próximo de se
aposentar.
2- Por quanto tempo irei investir antes de me aposentar?
O poder do juros sobre juros é algo
extraordinário, mas só é percebido no longo prazo.
Assim, quanto maior o intervalo de tempo de investimento, menor
será o esforço necessário em se privar de consumo no curto prazo.
Se possível, adie o início de sua aposentadoria, mantendo a
atividade remunerada que possui.
Prazos superiores a trinta anos costumam produzir
melhores resultados.
3- Qual o prazo de utilização dos recursos poupados, ou
seja, qual o período de aposentadoria?
No caso do período de gozo da aposentadoria, como não está
exercendo nenhuma atividade com remuneração, esta virá apenas dos rendimentos
das aplicações.
Ela não pode ser muito longa, pois seus recursos não vão durar
ou vai precisar retirar menos mensalmente.
O ideal é que 0 intervalo de tempo da aposentadoria seja
inferior ao tempo de acumulação para ela. Uma relação de 2/3 seria ótima, ou
seja, o período de retiradas ser no máximo 2/3 do intervalo de aplicação.
4- Qual rendimento considerar no período de
poupança?
A rentabilidade no período de acumulação de recursos pode ser
comparada ao fermento de um bolo. Se escolher o fermento errado não colocar na
forma adequada ou suficiente seu bolo pode terminar murcho. O mesmo pode
ocorrer com seu patrimônio quando chegar a aposentadoria.
É fundamental que tenha uma carteira diversificada, principalmente
considerando o nível atual de taxa de juros real (taxa de juros acima da
inflação).
Evite manter qualquer recurso na poupança. Ela rende apenas a
inflação. Portanto, você não ganha juros real algum aplicando nela.
Controle seu fluxo de caixa e mantenha em aplicações de liquidez
diária apenas o que realmente precisar. É reconhecido que aplicações de prazo
maior possuem um prêmio.
O portfólio deve estar diversificado em classe de ativos
diferentes: fundos e títulos de renda fixa, fundos multimercados, fundos
imobiliários e fundos de ações.
Na planilha disponível no link você pode simular portfólios diferentes e
ver qual possibilita chegar ao retorno que atende seu objetivo.
Ressalta-se a importância de considerar o perfil de investidor e
o cuidado para não correr mais risco que o necessário.
5- Qual o rendimento assumir no momento de gozo da
aposentadoria?
Quando chegamos à aposentadoria, normalmente, nossas fontes de
renda de atividades profissionais se extinguem. Desta forma, não é razoável
considerar um rendimento similar ou superior ao que tinha no período de
acumulação do patrimônio.
No prazo de benefício da aposentadoria, precisa ter um portfólio
mais conservador, pois não haverá tempo para recompor eventuais perdas.
Entretanto, também não pode aplicar apenas em ativos
conservadores, pois este intervalo de tempo pode durar mais de 30 anos. No longo
prazo, se espera que aplicações de maior risco produzam, na média, melhores
resultados.
Michael Viriato -
professor de finanças do Insper e sócio fundador da Casa do
Investidor.
Fonte: jornal FSP