Faz algum tempo que tenho conversado
com jovens para tentar entender por que é tão grande o número dos que se sentem
desencantados com a vida, sem ânimo e, acima de tudo, entediados e vazios.
Um dos motivos que percebi nas
conversas foi o fato de a escola e os estudos parecem ser o único objetivo, na
visão dos pais e de outros adultos, da vida dos adolescentes. E mais: a meta é
uma boa classificação em exames e vestibulares.
A vida, para esses jovens, tornou-se
monotemática. O tempo todo os pais recomendam que estudem, cada um de seus
professores fala diariamente dos exames que farão etc.
Outro fator que promove a maior
pressão neles é a escolha do curso universitário. Eles ouviram que é muito cedo
para escolher algo que farão para o resto de suas vidas, e se convenceram
disso. Não é cedo e nem precisarão repetir as mesmas coisas sempre: toda
profissão tem grande potencial de diversificação no mundo atual. Mas, nessa
busca e com essas premissas, essa escolha torna-se quase impossível para eles:
como encontrar uma profissão que os deixe apaixonados –agora é moda dizer que é
preciso ter paixão pelo trabalho–, que o mercado valorize e que ofereça
excelentes salários?
Os diálogos com os adultos também são
pouco estimulantes para eles, que não se sentem levados a sério por seus
interlocutores principais, pais e professores. Quase todos disseram ouvir
"sermão" deles quase todos os dias, e estão tão cansados do mesmo
blá-blá-blá de sempre, que nem ouvem mais. Os argumentos que eles têm quando
discutem a vida em sociedade, a política, a ética, a religião etc. são, em
geral, considerados bobagens pelos pais.
Acontece que o adolescente precisa de
diálogos com adultos para que consiga se entender melhor –mesmo quando diz
bobagens– e para construir seus próprios valores. Vamos lembrar que a
adolescência é o período em que os mais novos se preparam para se tornar seus
próprios pais. Sem diálogos e exemplos por parte dos adultos, isso é missão
impossível.
Claro que os jovens buscam
alternativas para sair desse tédio, e eles encontram, principalmente em alguns
caminhos bem arriscados.
Muitos se entregam às redes sociais e
aos jogos: usam a cada dez minutos e ficam tão absorvidos que se esquecem do
tédio que, claro, retorna assim que eles escapam de suas malhas.
Outros, escolhem ir à baladas e ingerir drogas –lícitas e/ou ilícitas– para
encontrar euforia, se desinibir, essas coisas. E sexo, é claro.
E há também os que decidem desafiar a
morte. Creio que quase todo mundo já ouviu falar do "jogo da
asfixia", ou do sufocamento. Pode ser –e já foi– fatal.
E agora há uma nova modalidade de
aventura radical praticada em outros países, que não sei se já chegou ao
Brasil. Mas chegará, já que a internet conecta esses adolescentes em busca de
adrenalina, como eles dizem. Nessa prática, chamada "extreme building
climber", os adolescentes escalam as mais altas construções da cidade para
caminhar e se pendurar nos locais mais perigosos delas. Pode ser –e já foi–
fatal.
Será que não podemos desafiá-los para
que se desenvolvam, amadureçam e, acima de tudo, amem a vida? Podemos, sim!
Basta começar a ouvi-los, colaborar
para que se entendam e que coloquem em ato seu potencial criativo para
beneficiar o coletivo, e não apenas a si mesmos.
Rosely Sayão - Psicóloga e consultora em educação, fala
sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de
educar