Você minera criptomoedas sem saber?


Um indício do problema é o computador ligar a ventoinha para resfriar


Mineradores de criptomoedas usam celular ou computador de usuário -  

Moedas virtuais são o assunto do momento. Muita gente está acompanhando a exuberância da ascensão (e da queda) nos preços de várias delas. O que pouca gente notou é a popularização de um esquema sorrateiro para "minerar" criptomoedas, utilizando o computador de usuários comuns que não ficam sequer sabendo disso.

O esquema em geral acontece da seguinte forma: o operador de um site inclui maliciosamente um código de programação (JavaScript) em sua página na rede. Toda vez em que a página é acessada, sem nenhum aviso, ela "rouba" a eletricidade e o processamento do computador para minerar moedas. Esse "roubo" afeta em média 80% da capacidade de processamento e dura enquanto a página estiver aberta.

Um indício de que isso está acontecendo é o computador ligar a ventoinha para resfriar, pois de repente o processador passa a fazer cálculos complexos para gerar as moedas.

Esse dinheiro gerado, no entanto, não vai para o usuário. Vai sim para quem o controlador do código indicar. Foi revelado há poucos dias que espertalhões estavam incluindo esse código de mineração em anúncios do YouTube. Enquanto a pessoa assistia a um vídeo, o computador era usado para gerar moedas para os falsários.

A fraude foi detectada, e o YouTube anunciou que "os anúncios foram bloqueados em menos de duas horas, e os anunciantes maliciosos, removidos da plataforma".

O mesmo esquema estaria, no entanto, sendo usado no Brasil, especialmente por sites  pseudojornalísticos especializados em divulgar notícias falsas ou inflamatórias. Como esses sites atraem milhões de visitantes incautos, eles são um paraíso para a mineração sub-reptícia de criptomoedas. Mal sabe quem visita um desses sites,  chegando a eles por um link "viral", que seu computador está sendo explorado sem permissão, chegando a comprometer até 97% do seu processamento.

Multiplicando o número de visitantes pelo tempo de permanência, o valor "roubado" é expressivo. Em suma: para combater as chamadas "fake news", é fundamental combater a mineração ilícita de criptomoedas por meio desse tipo de site.

Por fim, na semana passada foi descoberta uma variação do vírus WannaCry que faz a mesma coisa: explora o computadores para mineração. Essa variante, batizada de WannaMine, usa o mesmo esquema de propagação do vírus que sequestrou milhares máquinas no mundo todo há alguns meses. Só que dessa vez de forma discreta, ficando quietinho enquanto suga dinheiro das máquinas infectadas.

Vale dizer que esse tipo de "mineração" descentralizada pode ter um lado positivo, desde que o usuário seja claramente avisado do que está ocorrendo e dê seu consentimento. Por exemplo, organizações humanitárias poderiam pedir "doações" para usuários, bastando que esses visitassem seus sites e deixassem o computador aberto naquela página. No entanto, quando isso é feito sem nenhum aviso e sem consentimento, configura-se apenas como uma modalidade de estelionato, devendo ser tratado legalmente como tal.

 

Ronaldo Lemos: advogado, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITSrio.org). Mestre em direito por Harvard. Pesquisador e representante do MIT Media Lab no Brasil.

Fonte: coluna jornal FSP

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