Pandemia, uma janela de oportunidades para mudanças
É
preciso planejar as cidades para que promovam habitação, serviços,
infraestrutura e saúde.
Praticamente dois anos de pandemia e parece que ela
nunca mais vai embora!
Talvez não vá mesmo e tenhamos de aprender a conviver
com uma situação endêmica.
Isso significa assimilar as experiências vividas, e
efetuar as mudanças necessárias para que tudo funcione o mais próximo
possível daquilo que chamamos de "normal".
Ao encararmos a pandemia como um importante ponto
de inflexão no desenvolvimento urbano, é essencial aproveitarmos esta janela de
oportunidades e voltarmos os olhares para o futuro, pautando nossas
ações para mudanças inclusivas, progressistas e possíveis a partir de soluções
multifacetadas.
Estratégias abrangentes no planejamento das cidades são
necessárias para fornecer equilíbrio na oferta de habitação, serviços e
infraestrutura, bem como possibilitar abordagens que tenham como objetivo
promover benefícios à saúde, à resiliência climática e ao desenvolvimento
inclusivo.
Algumas dessas estratégias estão alinhadas em estudo publicado
pelo IIED (International Institute for Environment and Development), que
explora as ações transformadoras para a recuperação das cidades pós-Covid-19.
De maneira mais geral, segundo o estudo, a pesquisa
é fundamental para explorar tanto as questões de desenvolvimento urbano bem
estabelecidas quanto as emergentes ligadas à Covid-19.
Isso pode ajudar a
enfrentar desafios de longo prazo e fornecer evidências dos custos por ignorar
riscos múltiplos potenciais ou dos benefícios por enfrentá-los.
O papel da densidade urbana na influência dos
efeitos da pandemia é um ponto a ser mais bem estudado.
A densidade populacional e os padrões de urbanização podem estar
associados a níveis elevados de disseminação da doença, embora a densidade em
si não seja um problema, mas sim as condições econômicas, sociais e estruturais
das cidades que as tornam mais ou menos capazes de implementar respostas
eficazes aos desafios enfrentados.
Na verdade, pesquisas são necessárias para o
desenvolvimento de políticas que possam promover cidades compactas, conectadas
e equitativas, com foco na melhoria do transporte ativo e da revitalização do
transporte público como parte das estratégias de preparação das cidades para
enfrentar novos surtos epidêmicos.
A busca pela inclusão envolve o desenvolvimento de
medidas adaptativas de proteção social e apoio à renda e à melhoria dos
serviços essenciais, como sistemas de saúde, coleta de lixo e educação. Todas
as iniciativas devem ser cuidadosamente elaboradas para apoiar o enfrentamento
das múltiplas desigualdades nas áreas urbanas.
É fundamental implementar intervenções holísticas
para melhorar a saúde e o bem-estar das pessoas, principalmente daqueles
que têm trabalho informal e os residentes em assentamentos informais,
fortalecendo os meios de subsistência e melhoria de condição de vida.
Tornar os municípios resilientes é outro aspecto de
extrema relevância.
Uma estratégia de cidade resiliente deve compreender e
explorar as conexões entre as múltiplas variáveis que podem causar problemas ao
espaço urbano ou às pessoas, de forma isolada ou associada.
Uma pandemia tem
muitas dimensões e todas devem estar inseridas em modelos que considerem a
resiliência uma questão a ser definitivamente incorporada ao planejamento.
É preciso compreender que a intersecção do desenho
urbano com a saúde pública é um território cada vez mais crítico.
A pandemia de
Covid-19 trouxe a todos a conscientização das fragilidades no dia a dia nas
cidades, e não podemos perder essa janela de oportunidades para estruturar as
mudanças necessárias, que melhorarão a vida nas áreas urbanas, mesmo nas
condições mais críticas de uma pandemia.
CLAUDIO
BERNARDES - Engenheiro
civil e presidente do Conselho Consultivo do Sindicato da Habitação de São
Paulo. Presidiu a entidade de 2012 a 2015.