Uma das primeiras coisas que aprendemos em ciência é que, para
abordar um problema, é primeiro preciso defini-lo. Encontrar as origens
cerebrais da inteligência, ou entender como ela se compara entre pessoas ou
espécies animais diferentes, portanto, exige primeiro definir o que é
inteligência.
O problema é antigo, mas ainda elusivo. O psicólogo Francis
Galton foi supostamente o primeiro a propor, no século 19, medir a inteligência
de indivíduos para estudar sua hereditariedade (e usá-la para fins de eugenia,
termo aliás cunhado por ele). Mas uma medida útil foi criada somente em 1904,
pelo estatístico Charles Spearman, e chamada de "fator g" em
referência a inteligência "geral": algo que influencia o desempenho em
habilidades mentais diversas.
Mas o que é a capacidade que o fator g mede? Por muito tempo me
atraiu a definição abrangente de que inteligência é a capacidade de usar
informações para resolver problemas. Mas recentemente um físico e matemático
fez uma descoberta potencialmente transformadora.
Alex Wissner-Gross, pesquisador de Harvard e do MIT, resolveu
fazer aquela coisa que físicos gostam de fazer: buscar uma equação única que
explicasse a inteligência. E conseguiu. Sua palestra no site ted.com explicando
a descoberta pode não ser a mais impressionante ou polida –mas faz pensar, e
muito.
A equação geral para a inteligência, que ele trata como uma
força dinâmica, consiste em apenas seis letras ou símbolos que se traduzem em
uma frase simples: inteligência é a capacidade de maximizar opções futuras.
Decisões inteligentes, portanto, são aquelas que, ao contrário de fechar
portas, mantêm portas abertas para outras decisões no futuro.
As implicações são gigantescas. Por um lado, a equação produz
comportamento inteligente até mesmo nos programas mais simples. Por outro, ela
prediz que animais inteligentes são aqueles capazes de formular mentalmente
estados futuros possíveis e então decidir pelo caminho que mantém mais opções
abertas. Um hipocampo, que permite usar memórias recentes para projetar estados
futuros, talvez seja assim fundamental para a inteligência –além do mais óbvio,
algo que atue como um córtex pré-frontal que represente objetivos e selecione
entre alternativas.
Se decisões inteligentes são aquelas que maximizam alternativas,
para mim é inevitável pensar então no que é ciência inteligente: não aquela que
resolve detalhes e fecha portas, mas a que abre novas questões e
possibilidades.
Suzana Herculano-Houzel - neurocientista, professora
da UFRJ e do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor"
(ed. Sextante).
Fonte: blog www.suzanaherculanohouzel.com