Agora, os carros estão falando


Seu carro tem algo a dizer: oi e tchau. Os carros de hoje têm luzes que vão se intensificando aos poucos, como uma iluminação de palco. Eles mostram filminhos em telas e tocam melodias para nós.

"Chamamos isso de experiências das boas-vindas e da despedida", disse Parrish Hanna, diretor mundial de interação humanos-máquinas da Ford. "E pode ser uma experiência emocional."

Designers orquestram com cuidado a experiência de acomodar-se atrás da direção do automóvel. Ela passou a ser mais semelhante a entrar numa sala que assumir o controle de uma máquina, dando indícios de mudanças que estão por vir e que podem modificar a experiência de dirigir.

Para alguns veículos, saudar o motorista é simples. O Honda Odyssey e o Hyundai Santa Fé exibem as palavras "Welcome" e "Goodbye" em suas telas.



Outros automóveis têm mais atitude. Quando você sai de um dos carros híbridos da Ford, recebe um bilhetinho digital de agradecimento: "Obrigado por dirigir um carro híbrido", diz a tela.

E há mais nos automóveis de luxo: as cores e texturas nas telas correspondem ao couro e à madeira do interior, e imagens aparecem com um destaque animado.

As maçanetas das portas se iluminam quando o carro sente a presença do motorista ou do passageiro. A iluminação interna se intensifica ou suaviza como a iluminação de uma tela, e as agulhas dos instrumentos parecem bater continência.

Alguns anos atrás, um motorista era saudado com um tilintar irritante quando não usava o cinto de segurança. Mas agora muitos carros têm temas sonoros, como o do Windows, da Microsoft.

O cupê híbrido Cadillac ELR toca uma música que mistura uma trilha sonora tipo Hollywood ao som de um avião a jato.

A moda mais recente entre os veículos de luxo é a luz de aproximação (na parte inferior das portas, para lançar luz sobre possíveis poças no chão). Vários modelos de luxo saúdam motorista e passageiros com "tapetes de boas-vindas" de luz. O Range Rover Evoque projeta o logotipo da empresa sobre o chão.

A Kia tem um som chamado "The Rise of Surprise" e sons ligados a elementos de segurança e conveniência. A empresa diz que o som visa criar um "gatilho emocional" positivo e que modelos futuros terão variações dela.

Na Hyundai, os designers procuram refletir a marca e o caráter do veículo nas saudações, disse um porta-voz Derek Joyce. "Procuramos que elas combinem com a personalidade do veículo. Um carro econômico pode soar alegre e animado. No caso do Equus, o som seria clássico e maduro."

Muitas vezes, porém, os carros soam como computadores ou robôs. E isso não deveria surpreender, disse o designer de interação Dan Saffer. "Os carros são robôs em segredo há muito tempo. O truque agora é ter a personalidade não apenas no corpo do automóvel, mas em seu comportamento."

Numa pesquisa que perguntou até que ponto as pessoas gostam de seus computadores, o percentual de "gosto" foi mais alto entre os que usaram as próprias máquinas para responder às perguntas.

O pesquisador Clifford Nass, da Universidade Stanford, concluiu que as pessoas não querem magoar as máquinas. "Embora isso possa parecer absurdo, as pessoas esperam que os computadores ajam como se fossem pessoas".

Talvez os carros do futuro nos saúdem com algo como a frase "como posso ajudá-lo?" do Siri. Várias montadoras parecem ter indicado isso quando se inscreveram para usar o Carplay, da Apple, ou sistema do Android.

Saffer diz que o carro ideal conheceria nossas preferências e agiria como um chofer pessoal, lembrando o ideal de design de Dieter Rams, que inspirou a Apple. "Um bom produto deveria ser como um bom mordomo inglês: ele está ali quando você precisa, mas em todas as outras horas fica em segundo plano."

Phil Patton – jornalista para o segmento automotivo do jornal New York Times

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