Atividades econômicas com alto
conteúdo matemático geram cerca de 15% do PIB.
Contam
que Henry Ford, pioneiro da indústria automobilística, encomendou um dínamo
para seus carros, mas o aparelho não funcionava, e o fornecedor não conseguia
resolver o problema. Ford então chamou “o homem mais inteligente da América”, o
matemático de origem húngara John von Neumann, do Instituto de Estudos
Avançados de Princeton.
Von
Neumann olhou os diagramas, caminhou em volta do dínamo, tirou um lápis do
bolso e marcou uma linha no invólucro: “Se cortar aqui, funciona”. Cortaram, e
o dínamo funcionou.
Quando
Ford pediu a conta, von Neumann mandou nota no valor de 5 mil dólares, uma soma
enorme para a época. Surpreso, Ford pediu o detalhamento. Von Neumann
respondeu: marcar a linha com o lápis, 1 dólar; saber onde marcar a linha,
4.999 dólares. Ford pagou.
matemático
húngaro John Von Neumann, em foto de 1951, ao lado do Computador IAS, do Instituto
pelo Estudo Avançado, em Princeton, em Nova Jersey (EUA) -
Que
conhecimento é dinheiro (e poder) é lição antiga. A 2ª Guerra Mundial foi ganha
pelo poderio industrial norte-americano, baseado no conhecimento científico e
tecnológico. E os EUA nunca mais pararam de importar os melhores cérebros do
mundo de países menos capazes ou menos cuidadosos em preservar sua relevância e
independência.
O
Brasil da época percebeu e fez o dever de casa, construindo um sistema
científico nacional (CNPq, Capes, a que se seguiriam Finep, Ministério da
Ciência e Tecnologia, as fundações estaduais), ao mesmo tempo em que
desencadeava sua industrialização.
O
valor material da ciência está amplamente comprovado e mensurado. Peguemos o
caso da matemática: estudos técnicos realizados nos últimos anos em diversos
países (Reino Unido, França, Austrália, Holanda e Espanha) comprovam que as
atividades econômicas com alto conteúdo matemático geram grande parte da
riqueza nacional: cerca de 15% do PIB.
Produzir
conhecimento é fundamental, mas é igualmente necessário incorporá-lo aos
processos produtivos. Dados divulgados pelo diretor científico da Fapesp,
professor Carlos Brito Cruz, apontam que a colaboração entre academia e
indústria vem crescendo no Brasil, mas ainda há enorme potencial a explorar.
Especialmente no que tange à matemática, parece claro que o diálogo entre os
dois setores ainda está muito atrás dos países mencionados.
Esse
diálogo não surge espontaneamente, precisa ser construído, e com urgência. É
com esse objetivo que o Impa vai realizar, em 13 e 14 de fevereiro, o primeiro
Workshop Matemática e Indústria, em parceria com o Centro de Ciências
Matemáticas Aplicadas à Indústria da USP. Trata-se de trazer empresas para
interagir com pesquisadores, identificar domínios de colaboração e construir
parcerias que beneficiem os dois setores e o país.
O
que está em jogo não é pouco: 15% do PIB do Brasil é R$ 1 trilhão. Por ano.
Marcelo Viana - diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e
Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France.
Fonte: coluna jornal FSP