Investidor que realizou perdas em
abril dificilmente voltará a investimentos de risco.
Muita
gente entrou de cabeça em investimentos mais arriscados, animados com a
expectativa de ganhar mais do que a taxa Selic. O mergulho foi feito sem conhecimento das correntes e da
profundidade, confiantes de que as águas seriam calmas, e a maré, favorável.
Os
números divulgados pela Anbima, relativos aos resgates registrados em fundos de
investimentos no mês de abril, evidenciam que muitos não estavam preparados e
pularam do barco antes da conclusão da turbulenta
Os
fundos de renda fixa (o nome engana) foram os que mais sofreram, com resgates
de R$ 70 bilhões dos R$ 91 bilhões do total de saques realizados no mês
passado. No ano, R$ 123 bilhões já foram embora.
Convencida
de que esse comportamento foi reativo a um desempenho ruim, fui conferir a
rentabilidade média dos fundos em março, mês anterior ao movimento em manada de
resgates. Bingo!
Rentabilidade
negativa.
Certamente
o desempenho não correspondeu às expectativas dos investidores que saíram da
poupança e de aplicações conservadoras que pagam taxa Selic para ganhar mais, e
não menos, do que a Selic.
O
resultado, de leve a moderadamente negativo, não foi desastroso, mas suficiente
para desencadear a onda de resgates.
Investidores
dos fundos multimercado nadaram na mesma direção, mas em menor quantidade, e
levaram consigo pouco mais de R$ 13 bilhões. Embora a rentabilidade tenha sido
levemente negativa, foi insuficiente para assustar investidores conhecedores
das águas adentradas; o saldo ainda positivo de R$ 9 bilhões no acumulado do
ano indica que são nadadores mais experientes.
Curiosamente,
os fundos de ações, que tiveram um desempenho desastroso em março, conseguiram
manter a maioria dos investidores a bordo. Em abril, os resgates superaram
novas aplicações em apenas R$ 637 milhões, apesar da desvalorização média de
30%.
O
que os números revelam? Minha leitura é a de que muitos investidores, ainda
amadores, estão se atrevendo a investir em modalidades até então desconhecidas,
baseados exclusivamente na expectativa de rentabilidade superior, desconhecendo
os riscos aos quais estarão expostos para tentar esse retorno potencialmente
maior.
Uma
decisão perigosa e equivocada. O montante de resgates é uma evidência dessa
tese e indica que muito dinheiro foi deixado na mesa, já que, ao resgatar, o
investidor realiza o prejuízo, renunciando à chance de recuperar as perdas
quando e se a maré mudar.
E
a maré mudou. Logo no mês seguinte, a rentabilidade dos fundos de renda fixa
foi positiva, com exceção de duas classes. Mas aí já era tarde para os que
decidiram abandonar o barco, provavelmente em razão da percepção de novas
perdas.
Não
critico a decisão dos investidores que resgataram seus recursos. Essa reação
natural, de preservação do patrimônio, apenas comprova minha percepção de que
decisões estão sendo tomadas de forma intempestiva, sem o devido conhecimento
das aplicações financeiras disponíveis no mercado.
A
rentabilidade, potencialmente superior à Selic, não é uma promessa, não será
constante todos os meses e não tende a ocorrer a curto prazo. O fundo pode
demorar meses ou anos para entregar o resultado esperado, somente aos
investidores resilientes, que, embora escaldados,
não têm medo de água fria.
Marcia Dessen - planejadora financeira CFP (“Certified
Financial Planner”), autora de “Finanças Pessoais: O Que Fazer com Meu
Dinheiro”.
Fonte: coluna jornal FSP