Uso de mídias e tecnologias não pode ser
improvisado
Crianças
e jovens têm o direito de aprender a lidar com recursos midiáticos e digitais.
O contexto de distanciamento social provocado
pela pandemia de Covid-19 fez com que a
educação acelerasse a adesão aos recursos digitais, embora de forma
desigual e um tanto improvisada, em razão da situação de emergência.
Segundo levantamento realizado pela União Nacional
de Dirigentes Municipais de Educação (UNDIME), no primeiro ano da pandemia, 5,5
milhões de estudantes brasileiros tiveram acesso às atividades escolares
dificultado.
Parte disso deve-se, certamente, à restrição de acesso à internet,
relatada por mais de 78% dos estudantes brasileiros.
Apesar disso,
o uso de mídias e tecnologias nas práticas pedagógicas dos últimos dois anos
representa uma forma de resistência das redes de ensino, uma vez que sem essa
apropriação –ainda que improvisada–, ensinar e aprender, no contexto da
educação formal, não teria sido possível.
A pandemia tornou as práticas pedagógicas ainda
mais complexas, impondo novas modalidades, como o ensino híbrido que, apesar de
não ser novo do ponto de vista teórico, se popularizou rapidamente, tornando-se
corriqueiro no cotidiano de estudantes e profissionais de educação.
Mas não é por isso que ensinar a partir das mídias
e das tecnologias é uma urgência nesta terceira década do século 21.
Hoje,
o letramento digital e midiático é
necessário sobretudo pelas complexidades do mundo conectado, intensificadas
desde o fim dos anos 1990.
Nos dias atuais, os recursos virtuais e digitais
integram um complexo ecossistema comunicativo a partir do qual não apenas
disputam-se sentidos e forma-se opinião, mas principalmente desenvolve-se novas habilidades, uma vez que a nossa relação
com as mídias e recursos digitais tem sido cada vez mais ativa, pois nos
apropriamos deles para a autoexpressão e para os relacionamentos interpessoais.
Seu uso em sala de aula, porém, não pode ser
intuitivo nem improvisado.
Deve ser um processo intencional e refletido, a fim
de fortalecer o ensino e a aprendizagem. Nesse sentido, é importante formar professores para que sejam capazes
de tirar proveito dos conteúdos midiáticos e de recursos tecnológicos para
aproximá-los dos objetivos dos currículos, tornando as aulas mais
significativas.
Assim,
é preciso prepará-los para realizar curadoria crítica de conteúdos disponíveis
no ambiente digital, pois na era da superabundância de informações avaliar a
relevância e a confiabilidade do que está na internet é uma tarefa bastante
desafiadora.
Além disso, é importante que docentes conheçam as mídias para
incentivar os estudantes a interrogar a informação que consomem, a refletir
sobre o propósito do que produzem e difundem nas plataformas digitais e, ao
mesmo tempo, para legitimar e incorporar os hábitos culturais das crianças e adolescentes,
acostumados a criar e compartilhar mensagens, sobretudo nos momentos de lazer e
para "zoar" os amigos nas redes sociais.
É
importante lembrar que a demanda por letramento digital e informacional de
educadores está prevista na Base Nacional Comum Curricular (BNCC), documento
que orienta a elaboração dos currículos das redes de ensino.
A BNCC determina o
desenvolvimento de competências relacionadas à comunicação, à cultura digital,
à argumentação e ao pensamento científico, crítico e criativo logo na educação
básica.
Em
diálogo com essa diretriz, é importante que a educação midiática e digital seja
entendida como camada, o que significa integrá-la transversalmente a qualquer
disciplina ou ciclo, além de reforçar a intencionalidade no uso de mídias em
sala de aula, orientando professores a planejar um processo de ensino e
aprendizagem permeado por hábitos de investigação e habilidades de expressão
característicos das mídias.
É
nessa perspectiva que o EducaMídia, programa de educação midiática do Instituto
Palavra Aberta, formou desde 2019 15.000 educadores de 1.128 municípios
brasileiros de todos os Estados e do Distrito Federal para que estes possam
liderar a implementação da educação midiática em seus contextos escolares.
Em
abril deste ano, um novo grupo de professores multiplicadores da educação
midiática começará a ser formado.
Para fazer parte desse processo de
transformação, educadores podem obter mais informações e se inscrever em www.educamidia.org.br.
Bruno Ferreira - assessor pedagógico do EducaMídia, programa de
educação midiática do Instituto Palavra Aberta.