O MMGPI, sigla
de Mercer Melbourne Global Pension Index, é um estudo publicado anualmente pelo
Centro Australiano de Estudos Financeiros em conjunto com a Mercer, com apoio
do Governo do Estado de Vitória, Austrália. Trata-se de uma importante fonte de
informação para a construção de políticas previdenciais, que olha objetivamente
tanto os componentes de financiamento público como privado de um sistema, bem
como a poupança individual fora do sistema de previdência.
Na análise de
2016, vinte e sete sistemas de previdência abrangendo 60% da população mundial
foram confrontados a mais de quarenta critérios. O Brasil, um dos regimes
compreendidos no material, atingiu posição C, atrás de Chile (B) e a frente de
Argentina (D).
A posição C é
considerada mediana no ranking e indica “um sistema que tem algumas
características boas, mas também tem grandes riscos e / ou deficiências que
devem ser abordadas. Sem essas melhorias, sua eficácia e/ou sustentabilidade
a longo prazo pode ser questionada.
A visão global
do ranking está a seguir:
Reconhecendo que
não há nenhum sistema de previdência perfeito que possa ser aplicado
universalmente, o estudo indica nove características comuns aos melhores
sistemas mundiais que podem ser compartilhadas para melhores resultados,
organizadas em três grandes áreas, como evidenciadas a seguir:
Adequação,
ou o quanto o sistema de previdência está aderente à realidade econômica e
demográfica do país. O Brasil ocupa o 9º lugar dentre 27 países.
1.
Um benefício mínimo deve ser
fornecido aos menos favorecidos, em valor equivalente a uma percentagem
razoável do rendimento médio da população. No Brasil dispomos da pensão mínima
a toda população, mas seu valor – equivalente a um salário mínimo – é distante
do que se poderia chamar de uma “percentagem razoável do rendimento médio” da
população.
2.
Pelo menos 70%, líquido, de taxa de
reposição (renda na aposentadoria versus renda na ativa) para o trabalhador de
tempo integral com renda mediana. Esta premissa é vagamente aplicada em nosso
país, especialmente para indivíduos que possuem remuneração superior ao teto da
previdência social e que dependem essencialmente da formação da previdência
privada, cuja adesão e percentual de contribuição são estritamente voluntários.
3.
Pelo menos 50% dos benefícios de
aposentadoria são obtidos através de um fluxo de receita contínuo e não através
de um valor único. Esta é uma característica ainda bem preservada no Brasil,
uma vez que a previdência social paga benefícios na forma de prestação mensal
vitalícia e o regime privado usualmente o faz da mesma forma – apesar de alguns
modelos de plano facultarem o saque à vista. Nesse segunda caso, é fundamental
que o mercado de previdência disponibilize opções com condições adequadas para
conversão de saldos em rendas (anuidades).
Sustentabilidade,
ou quão bem alicerçado está o sistema de previdência. O Brasil ocupa o 23º
lugar ante 27 países.
4.
Pelo menos 70% da população
economicamente ativa deve contribuir para planos de previdência privada.
Infelizmente, estamos muito distantes disso, com menos de 5% da população
dispondo de previdência privada.
5.
Os ativos dos fundos de pensão devem
representar mais de 100% do PIB para custear os futuros passivos
previdenciários. Outro indicador em que o Brasil tem um longo caminho pela
frente – os ativos de nossos fundos de pensão representam cerca de 13% do PIB e
estão estacionados no mesmo patamar há mais de uma década.
- Taxa
de participação da força de trabalho na faixa etária de 55-64 deve ser de
pelo menos 65%. Embora o Brasil possua um considerável índice de retorno
de aposentados ao trabalho, saímos prejudicados pela ausência de idade
mínima de aposentadoria, o que retira do mercado de trabalho profissionais
que estariam ainda em plena condição laboral.
Integridade,
ou a consistência da estrutura de fiscalização e governança do sistema de
previdência. O Brasil ocupa o 16º lugar entre 27 países.
- Um
forte e prudente órgão regulador supervisionando fundos de pensão
privados. Embora tenhamos um caminho à frente, o Brasil tem avançado neste
quesito, com a constituição da PREVIC e também com a atuação da SUSEP, que
regulamenta e fiscaliza o regime de previdência privada aberta.
- Comunicações
regulares com participantes, incluindo extratos individuais, projeção de
benefício de aposentadoria e relatório anual. Aqui também temos boas
características estabelecidas no regime de previdência complementar, com a
grande maioria dos fundos de pensão disponibilizando regularmente as
informações elencadas.
- Claros
requisitos de financiamento tanto para o benefício definido quanto para os
regimes de contribuição definida. Enquanto os planos de benefício definido
sofreram revisão recente em suas regras de solvência e financiamento, os
planos de contribuição definida ainda carecem de melhor disciplinamento
normativo no que tange aos requisitos necessários para formação de
poupança suficiente para uma adequada renda de aposentadoria futura.
Além do
expressado nos nove itens acima, o MMGPI também recomenda que o Brasil:
- Estabeleça
uma idade mínima de aposentadoria
- Aumente
a cobertura da previdência complementar através da adesão automática
- Crie
um nível mínimo de contribuição para a previdência complementar
- Aumente
o valor do benefício da previdência social com o tempo
- Crie
mecanismos de proteção de direitos previdenciais das partes no divórcio
- Permita
que os indivíduos se aposentem gradualmente, recebendo parte dos
benefícios de previdência enquanto se mantém ativos no mercado de trabalho
Tanto ao
discutirmos a reforma de nosso sistema de previdência social bem como ao
vislumbrarmos um novo modelo de previdência complementar, é fundamental nos
espelharmos naquilo que caracteriza os melhores sistemas ao redor do globo e,
com isso, buscar ações claras que nos permitam ter no Brasil uma previdência
cada vez mais evoluída – e, quem sabe, almejar um nível “A” nas próximas
edições do MMGPI.
Guilherme Brum Gazzoni - Administrador, Pós-Graduado em Finanças e com
Especialização em Entrepreneurship pela Babson College – Boston /
Massachussets. é Consultor líder da equipe da Mercer no Rio de Janeiro.