Instituições
têm o desafio de ensinar competências em que nos saímos melhor que as máquinas
Sempre houve, em países desenvolvidos, forte relação
entre necessidades da sociedade e boas universidades. Desde a emergência desta,
sua função principal foi a de preparar estudantes para os papéis necessários
para a época, como pessoas letradas para conduzir os negócios da alma ou do
Estado, na Europa Medieval, ou, mais recentemente, profissões demandadas pelo
mercado de trabalho.
Da mesma forma, coube às instituições de ensino superior
produzir conhecimento que permitisse avanços no enfrentamento de desafios e no
estabelecimento de novas fronteiras.
Como nos lembra Joseph Aoun em seu livro, “Robot-Proof:
Higher Education in the age of Artificial Intelligence”, os seres humanos
caminharam na Lua, dividiram o átomo e desenvolveram a internet a partir de
pesquisas realizadas em universidades.
A cada transformação histórica no processo produtivo,
como a Revolução Industrial e a criação de organizações complexas com cadeias
verticais de comando, a resposta encontrada foi, por um lado, extinguir postos
de trabalho, mas, por outro, criar novos e demandar mais educação de seus
ocupantes. O mesmo ocorreu com o advento dos computadores.
A maior feira de tecnologia da Ásia
está acontecendo esta semana no Japão /Toru Yamanaka/AFP
Mas, há hoje, frente à emergência da inteligência artificial,
uma lógica diferente: a velocidade de extinção de empregos se acelerou e
passou a atingir mesmo trabalhos que demandam competências cognitivas não
rotineiras.
Quando se lida com máquinas que aprendem, não basta demandar
maior escolaridade dos seres humanos nem ensiná-los a pensar; há que se
ensinar a pensar diferente.
Esse é o novo desafio para a universidade, segundo Aoun.
Ela deve ensinar os alunos a aprender ao longo da vida e oferecer cursos de
diferentes durações e intensidades, para profissionais que mudam constantemente
de postos de trabalho.
Deve também ensinar competências que são especificamente
humanas, em que nos saímos melhor que robôs, como pensamento crítico ou
resolução criativa e colaborativa de problemas, e promover duas características
interligadas: imaginação e curiosidade.
Para isso, deve se ligar em rede a outras escolas
terciárias, criando o que Aoun chama de multiversidade. Precisa ainda
acompanhar os egressos em seus caminhos profissionais com atividades que
complementem a formação recebida, inclusive mentorias ou cursos que não
necessitam ser previamente definidos como de graduação ou pós, com
certificações por blocos independentes, ligados às necessidades de
recapacitação de cada um.
Isso não vai resolver todo o problema criado pela automação,
mas formará, com certeza, seres humanos mais aptos a enfrentar suas
consequências.
Novidades na robótica e automação
Robô pinta partes de automóveis em
fábrica /Cultura / Image Source
Claudia Costin - professora visitante de Harvard. Foi diretora de
Educação do Banco Mundial e ministra da Administração.
Fonte: coluna jornal FSP