Vale
repetir: hacker é quem usa o conhecimento sobre tecnologia para explorar seus
limites. Já o cracker usa o conhecimento para o "mal", causando dano.
Vai ser curioso ver como esses conceitos evoluem com as mudanças na rede.
A internet começou conectando computadores. Na última década
conectou pessoas. Agora está conectando "coisas". Da geladeira de
casa às frutas e verduras dentro dela, tudo corre o risco de ganhar um endereço
IP e trocar informação. A internet quer e vai engolir tudo. Em breve as luzes
de casa vão ser ligadas pelo celular. A geladeira vai pedir ela mesma um
produto que acabou.
Mas onde há rede, há crackers. O ex-vice presidente dos EUA Dick
Cheney desativou a conexão sem fio do seu marcapasso com medo de um ataque. Com
os carros tornando-se digitais, pesquisadores de uma universidade dos EUA
conseguiram assumir à distância o controle dos freios de um veículo. Outros
alteraram a leitura da pressão dos pneus. Com isso o computador do carro passou
a compensar de forma perigosa o balanceamento das rodas.
Há também risco à privacidade. Por exemplo, com os medidores
digitais de eletricidade, é possível mapear o movimento da casa: quando as
pessoas se levantam, saem e retornam ou têm visitas.
Vale também lembrar que as lâmpadas de LED, que estão
substituindo as tradicionais, são sensores também. Elas não só emitem luz, mas
"sentem" variações luminosas. No futuro, elas não só vão nos ajudar a
enxergar, como vão nos enxergar.
Quem é paranoico e cobre a webcam com esparadrapo pode ir
preparando o estoque.
Ronaldo Lemos - advogado,
professor e pesquisador brasileiro, especialista em temas como tecnologia,
mídia e propriedade intelectual. É professor da Faculdade de Direito da Universidade doEstado do Rio de Janeiro (UERJ).
Diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro e diretor do Creative Commons Brasil. É sócio do
escritório Pereira Neto Macedo Advogados, coordenando a área de mídia e
propriedade intelectual.
Fonte: jornal Globo