os fatores mais relevantes em um investimento para a
aposentadoria, somente um o investidor arbitra sozinho: o tempo. Quando começar
a poupança é uma decisão só dele. Não exige negociação com ninguém nem estudos
demorados sobre o risco de uma aplicação.
Para isso, há, naturalmente, um embate interno. Aproveitar o que
o dinheiro proporciona hoje ou no futuro bem distante? Para Gustavo Cerbasi,
especialista em investimentos e educação financeira, é preciso aproveitar
agora, sim. Nada de cortar as pequenas indulgências do dia a dia. Ele argumenta
que não há nada mais desmotivador do que abdicar do cinema uma vez por mês, da
manicure ou do chope na sexta-feira por um tempo quase indefinido. Se a ordem é
economizar, melhor trocar a compra de um bem caro, de serviços e produtos
supérfluos que não sacrifiquem por tanto tempo a qualidade de vida.
A questão é: quando começar a separar o dinheiro para a
aposentadoria? Para Cerbasi, o início tem data certa. É o dia do pagamento do
primeiro salário. A recomendação – que em si já parece um sacrifício – ganharia
o aval de muitos aposentados. O melhor conselho financeiro que eles receberam
na vida foi “comece a poupar jovem”. Segundo o relatório de 2013 da pesquisa “O
Futuro da Aposentadoria”, realizada em 15 países pelo banco HSBC, o “comece
cedo” foi apontado por 63% dos participantes que já chegaram lá. O segundo
conselho mais citado é “não gaste aquilo que você não tem” (59%).
Para driblar a inércia, o executivo do mercado financeiro
Marcelo Marques Pacheco inverteu a lógica sobre gastar e poupar assim que
começou a trabalhar, aos 14 anos. “Meu ponto de vista sempre foi gastar o que
sobra do salário”, afirma Pacheco, gerente-executivo de fundos multimercado e
off shore da BBDTVM. Geralmente, as pessoas fazem o contrário. Honram todos os
compromissos e compras que já realizaram e, depois, o que sobrar, se sobrar,
segue para a poupança.
Entre os outros fatores que fazem muita diferença na poupança, a
rentabilidade é a que mais chama atenção. Mas, ao contrário do “quando
começar”, o retorno é o fator mais complexo de se determinar. Mesmo numa
aplicação de renda fixa, uma excelente taxa de retorno contratada com um agente
emissor pode se tornar pífia se a referência de mercado mudar – com o Banco
Central, por exemplo, alterando a meta da taxa Selic.
No caso dos custos das aplicações financeiras, o investidor
também tem certo arbítrio. Muitas empresas de previdência, por exemplo, já não
cobram mais o carregamento no momento da aplicação e, sim, na saída dos
recursos em prazos de cinco anos, por exemplo. Mesmo havendo margem para
negociação, os custos dos fundos de investimento e previdência, como também da
compra de ações, derivativos, títulos públicos ou papéis privados, exigem que o
investidor convença o agente financeiro a reduzir as cobranças. Sozinho mesmo,
ele consegue determinar somente o tempo de poupança.
1- Comece cedo
A socióloga Vera Izuno sabe que começou tarde a poupar para a
aposentadoria. Tinha 40 anos quando iniciou um investimento de longo prazo, um
plano de previdência privada.
Além de tardio, o passo dado por Vera não foi com as próprias
pernas. Ela ganhou o plano de presente de aniversário do marido. “Na hora,
achei engraçado. Minhas amigas não entenderam. Presente é para usar na hora,
não é?”, conta, lembrando a surpresa que teve. “Depois, percebi que foi um
presentão”, afirma Vera, hoje com 55 anos.
Para complementar os aportes feitos pelo marido, Vera passou a
fazer as próprias contribuições. Assim que recebe o seu salário, como
funcionária da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, separa um valor e o
aplica. Diz que, se o dinheiro cai na conta, ela gasta. “Começar aos 40 é
tarde. Mas a verdade é que nunca me passou pela cabeça [poupar para
complementar o benefício do INSS]”, diz.
Vera aprendeu com o próprio erro. Não podia voltar no tempo e
começar a poupar mais cedo, mas podia evitar que a história se repetisse com as
filhas Julia, 28 anos, e Luisa, 24. Há oito anos, fez um plano de previdência
para as duas, mas ainda não passou os recursos para elas para evitar que gastem
as reservas em algum “aperto” e se esqueçam do futuro. A socióloga diz que as
duas entenderam o objetivo do investimento. Ela cogitaria conversar com as
filhas sobre o uso antecipado dos recursos apenas em casos específicos, como a
compra da casa própria.
Um exercício feito por Marcelo Marques Pacheco, gerente
executivo de fundos multimercado e off shore da BBDTVM, mostra o impacto do
tempo nas contas de quem deseja se aposentar com 65 anos. Na hipótese, Pacheco
considerou um retorno real de 4% ao ano. Os números demonstram que poupar por
mais tempo faz uma diferença enorme. Como mostra o infográfico, quem economizar
R$ 100 por mês desde os sete anos, terá acumulado um patrimônio de R$ 266,5
mil. Mesmo que aumente a economia mensal para R$ 500, o investidor que começar
a poupar com 45 anos não vai chegar nem perto desse montante. Com 65 anos, ele
terá acumulado R$ 182 mil.
O exercício levanta uma questão. Quando é tarde demais? Em algum
momento é melhor desistir de começar a poupar, visto que o sacrifício vai
render pouco? “Nunca é tarde demais. Qualquer poupança é melhor que nenhuma”,
afirma Pacheco. O consultor financeiro pessoal Rogério Olegário do Carmo,
coautor do livro “Família, Afeto e Finança”, que escreveu com a mulher, a
psicóloga Angélica Rodrigues Santos, também garante que nunca é tarde. Ele
lembra que um cliente começou a pensar sobre a aposentadoria com 55 anos. No
caso dele, a opção foi planejar as economias periódicas e também continuar
trabalhando até os 75 anos. Segundo Carmo, o plano vale a pena mesmo sendo
tardio. Ele afirma que as pessoas têm de lembrar que vivem mais tempo hoje.
Muitos vão viver mais do que seus pais. Segundo a referência do mercado
segurador brasileiro, a expectativa de vida dos homens adultos é de 86,4 anos.
As mulheres chegam, em média, aos 89,7 anos, pela tábua atuarial BR-EMS de
2010.
Pacheco e Olegário lembram que o tempo é implacável. Quanto
menos falta para o momento desejado de se aposentar, mais é necessário poupar.
Ou menos ele poderá gastar no futuro. A diminuição do padrão de vida é uma
possibilidade relevante e que não pode ser descartada. Quem pensa que, ao se
aposentar, vai gastar naturalmente menos, pode estar bem enganado.
2- Prepare-se fisicamente
Melhor tarde do que muito tarde. Os especialistas no estudo do
envelhecimento garantem que, assim como nos cuidados com os recursos
financeiros, é melhor algum cuidado com a saúde e aptidão físicas do que
nenhum.
Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de
Longevidade, afirma que os ganhos podem não ser tão grandes ou chegar tão
rapidamente se o sedentário abandona velhos hábitos com 50 anos de idade. Mas,
se a magnitude dos ganhos é uma incógnita, o surgimento de benefícios não é.
Eles vão aparecer, garante Kalache. “Nesse caso, não existe o ‘tarde demais’.
Se fuma, pare de fumar. Se nunca comeu legumes, prefira uma dieta colorida [com
frutas, verduras, legumes] e evite a dieta branca [açúcar, farináceos,
gordura]”, afirma Kalache.
Os ganhos menores em termos de potência muscular, capacidade
cardiorrespiratória, ventilatória, flexibilidade e agilidade se devem pela lei
da natureza. Depois de atingir o seu ápice de desenvolvimento, entre os 25 e 30
anos, o organismo começa um processo lento de deterioração. A partir dos 40
anos, o número de fibras musculares passa a diminuir até 1,2% por ano. A força
muscular nos membros superiores cai em torno de 0,6%. Nas pernas, a perda da
força pode chegar a até 1,4% por ano.
O problema dessa perda suave e gradual é que ela é cumulativa.
Ou seja, a cada dez anos, o corpo pode perder até 12% de fibras musculares. Em
uma década, a força nas pernas pode ficar até 14% menor. Por isso, é comum os
idosos terem dificuldade de subir escadas, entrar em um ônibus ou até mesmo
levantar-se de um sofá baixo.
A boa notícia nesse quadro pouco animador é que estamos melhores
do que nossos antepassados. Kalache, que foi coordenador do programa de envelhecimento
da Organização Mundial da Saúde (OMS), afirma que a mudança da terceira para a
quarta idade acontecia por volta dos 65 anos. Atualmente, essa mudança ocorre
entre os 75 e 80 anos.
A melhora ajuda a corromper um quadro promovido pelo
sedentarismo em todo o mundo. Segundo dados compilados pelo Centro de Estudos
do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (Celafiscs), os
sedentários gastam muito mais com atendimento médico, hospitalar e remédios ao
longo de seu envelhecimento.
Nos Estados Unidos, uma pessoa sedentária que vive até os 90 anos gasta
7,5 vezes mais com cuidados médicos e de enfermagem no último ano de vida em
comparação com um sedentário que morre aos 65 anos. No Brasil, os dados mostram
que pacientes fisicamente ativos consomem 25% menos medicamentos, demandam 28%
menos consultas e gastam 45% menos com exames.
Segundo o professor de educação física Timóteo Araújo, do
Celafiscs, o exercício físico básico não tende a tomar muito tempo do
ex-sedentário. Melhor: pode ser parcelado ao longo dos sete dias da semana e
até mesmo ao longo do dia. O mínimo de 150 minutos de atividade aeróbica por
semana para quem tem mais de 60 anos pode ser traduzido em duas caminhadas de
15 minutos por dia, cada uma, de segunda a sexta.
Na semana, Araújo afirma que também é preciso ter duas sessões
de exercícios de flexibilidade, de pelo menos dez minutos cada uma, e de força
muscular. Cada sessão de musculação deve durar entre 25 e 30 minutos e atender
aos membros superiores – ombros e braços –, tronco e membros inferiores – coxas
e panturrilhas. Araújo afirma que os exercícios de equilíbrio duram dez minutos
e podem ser feitos durante atividades do dia a dia, como ao lavar a louça ou em
meio a uma partida de dominó.
Coordenador físico do programa de envelhecimento ativo Senior
Fit do Celafiscs, Araújo afirma que, além do exercício físico, o adulto precisa
se manter em atividade física. Ou seja, nada de ficar na mesma posição por
muito tempo – o ideal é não permanecer parado por mais de 50 minutos. “O tempo
‘sedentário’ tem mais impacto do que o tempo gasto na academia”, diz o
professor.
3- Trace um orçamento futuro realista
Se você ainda duvida de que o seu orçamento como aposentado pode
sair mais caro do que o atual, responda a uma pergunta: quando você gasta mais?
De segunda a sexta, quando está trabalhando, ou no fim de semana, quando
aproveita a vida com quem gosta?
Em mais de uma década trabalhando como consultor financeiro
pessoal, Rogério Olegário do Carmo não conheceu ninguém que gastasse mais
durante a semana. O pior é que, sem controle, o custo de vida pode até
aumentar: “Na aposentadoria, todos os dias serão ‘fim de semana’”, afirma o
coautor do livro “Família, Afeto e Finanças”. Davison Pereira, consultor de
previdência do programa Vida Investe da Fundação Cesp, afirma que o
barateamento do custo de vida é um mito. Até pode ser uma realidade quando o
cidadão se aposenta saudável do emprego, mas também da vida social, das viagens
de lazer e da vida cultural, assumindo uma vida pacata e, possivelmente, sem
plano de saúde privado.
Na faixa dos 60 anos, Pereira concorda, o indivíduo deixa de ter
alguns gastos. Os filhos já devem ter saído da idade escolar e também da fase
de crescimento – que demanda renovação do guarda-roupa a cada 18 meses. O
financiamento habitacional provavelmente já estará quitado. E, exceto se for um
aficionado por automóveis, não precisará trocar de carro a cada dois anos por
modelos mais novos, mais potentes e que fazem de zero a 120 km/h em apenas dez
segundos.
Por outro lado, essa é a hora de você fazer tudo o que sempre
quis e que o expediente nunca permitiu, certo? Agora pode fazer um curso de
cerâmica à tarde. Embarcar num cruzeiro para o Caribe em qualquer data. Visitar
o filho que mora em outra cidade quantas vezes quiser. Mas tudo isso tem um
custo. Assim como jantar fora uma vez por semana, como você faz há mais de uma
década, e passar 15 dias do ano em um hotel na praia.
“É preciso lembrar também que, com 20 anos, você aceitava ficar
em um albergue. Com 50, optava por um hotel conveniente. Com 80, vai querer um
hotel confortável, bem próximo dos pontos turísticos e com uma estrutura
pensada para os idosos”, afirma Gustavo Cerbasi, especialista em educação e
planejamento financeiro.
Cerbasi afirma que o custo do plano de saúde é o mais consciente
para quem planeja a aposentadoria. A maior parte dos outros gastos acaba sendo
negligenciada. O autor de vários “best-sellers” de autoajuda financeira
argumenta que as pessoas precisam assimilar que os hábitos que terão aos 65
anos não serão muito diferentes da rotina aos 50 anos. “É um erro grave achar
que o orçamento vai despencar quando ele parar de trabalhar”, diz.
Também é preciso entender que as economias de uma vida inteira
podem ser reduzidas por um fenômeno chamado demanda reprimida. No primeiro ano
de aposentadoria, Stan Hinden e sua mulher Sara entenderam que era hora de
aproveitar a vida depois de muitos e muitos anos trabalhando arduamente. Depois
de algumas excursões pelo mundo, uma viagem à Rússia e à Escandinávia trouxe os
dois à realidade. O passeio havia custado US$ 15 mil – que os dois jamais
haviam previsto em seu planejamento para a aposentadoria – e criado um buraco
na poupança.
A história dos Hinden poderia parecer apenas uma fatalidade, que
acontece só com quem é muito leigo e não sabe se planejar. Não é bem assim. Por
20 anos, o americano trabalhou como repórter de finanças no jornal “The
Washington Post”. Nos últimos sete anos em redação, escreveu uma seção sobre
aposentadoria, com a qual chegou até ser finalista no Prêmio Pulitzer, o Oscar
do jornalismo americano. O episódio, contado no livro “How to Retire Happy”, é
apenas um entre vários que sugerem que subestimar o ímpeto consumista de um
velhinho é tão prudente quanto gastar o primeiro salário de estagiário em um
quilo de balas.
4 - Conscientize a família
Levou um ano para a aposentada Maria decidir pela venda do
imóvel. A casa era confortável e cheia de boas lembranças. Mas também exigia
muito mais do que ela conseguia fazer em termos de manutenção - e mais do que
ela podia pagar.
Após analisar a situação com sua psicoterapeuta por um ano,
Maria optou pela venda. Alugou um apartamento pequeno no mesmo bairro, para não
perder contato com os vizinhos e amigos de uma vida inteira. Nem todos os filhos
apoiaram a decisão. Para eles, ficar sem o lugar onde foram criados e onde os
seus filhos divertiam-se todo fim de semana era abdicar de um pedaço da memória
afetiva, e também do patrimônio da família.
O caso, que traz um nome fictício, aconteceu de verdade. Não foi
o único e, provavelmente, não será o último dilema envolvendo dinheiro e
família a ser atendido pela psicóloga Angélica Rodrigues Santos em seu
consultório em Brasília. Apesar de o assunto ser pertinente a todas as
famílias, ele ainda é pouco abordado.
“Falar de dinheiro é muito difícil. Ainda é um tabu”, diz
Angélica, coautora do livro “Família, Afeto e Finanças”, escrito com o marido,
o consultor financeiro pessoal Rogério Olegário do Carmo. A psicóloga percebe
que abordar questões relacionadas a dinheiro na família é mais difícil do que
falar de sexo. Haja abundância ou falta de recursos, dificilmente as pessoas se
sentem confortáveis em conversar – mesmo quando o interlocutor é alguém da
família.
Angélica explica que essa resistência pode acontecer por vários
motivos. Se têm pouco dinheiro, as pessoas podem se sentir diminuídas por não
conseguirem um bom salário ou porque não souberam administrar os recursos. Se
têm muito, tendem a sentir medo de sequestro ou de serem alvo de inveja.
Algumas pessoas têm receio de serem abordadas por parentes,
amigos ou mesmo os filhos e de se sentirem obrigadas a dar ou emprestar
dinheiro. Outras usam as finanças como uma ferramenta de poder. Se o filho sabe
quanto o pai ganha, ele tem mais condições de avaliar se pode insistir para
ganhar um carro de presente e persuadi-lo com um bom argumento.
A psicóloga explica que a complexidade na questão do dinheiro é
porque o tema esbarra em uma série de valores: generosidade, autoafirmação,
compensação, responsabilidades, culpa. Ao vender a casa, Maria retirou dos
filhos a oportunidade de ter onde levar os seus filhos, sem custos, no fim de
semana. “Muitos avós se sentem responsáveis pelos netos. Mas não pode ser
assim. A responsabilidade é dos pais”, diz Angélica. Ela afirma que o idoso
comete um equívoco ao não pensar nas suas necessidades e planos e priorizar o
que os filhos ou netos demandam. O primeiro passo para tratar de um assunto tão
difícil e evitar situações como a vivida por Maria é, segundo Angélica, construir
uma intimidade emocional. Ou seja, nutrir uma relação pautada pela confiança e
pela capacidade de as pessoas revelarem uns aos outros suas crenças e
preocupações.
O segundo passo é buscar o que Angélica chama de intimidade
financeira. “Só falar sobre as questões externas à família, como as notícias, o
vizinho, o trabalho, não vai ajudar a criar essa intimidade”, afirma. No livro,
Angélica escreve que a dificuldade de esclarecer para o cônjuge suas metas e
situação financeira ou mesmo de admitir as compras no shopping contaminam a
relação e acabam afetando a convivência e os filhos. Se não há abertura para
falar sobre isso, como resolver racionalmente a situação financeira na
aposentadoria? Enfrentar a queda no padrão de vida depois de décadas de muito
trabalho não tende a ser fácil em uma família que não construiu essa intimidade
financeira. O assunto, diz Angélica, pode ser tratado mesmo com os filhos
pequenos. A construção dessa relação saudável com o dinheiro pode começar pelo
exemplo da importância de guardar. Esse conceito passa por economizar dinheiro
para a aposentadoria, poupar para uma viagem em família, não desperdiçar
comida, guardar os brinquedos em ordem para a brincadeira do dia seguinte. A
dificuldade é que a construção desse patrimônio emocional toma tempo. Por isso,
melhor começar cedo.
5- Cuidado com os custos
Quem opta por um plano de previdência precisa estar mais atento
aos custos do produto do que aqueles que escolheram os fundos de investimento
para poupar para a aposentadoria. Isso porque os Planos Geradores de Benefício
Livre (PGBLs) e Vida Gerador de Benefício Livre (VGBLs) podem cobrar taxas de
carregamento, além das de administração.
O carregamento incide apenas sobre as contribuições ao plano. É
como se a pessoa que aplica R$ 100 em seu plano pagasse um pedágio para a
seguradora sobre esse valor. Em um carregamento de 3%, o investidor aplica R$
100, mas são investidos R$ 97.
A questão é que o carregamento é muito menos nocivo que a taxa
de administração. Em um exercício hipotético de investimento, o consultor
financeiro Marcelo d’Agosto demonstra claramente essa situação. A renda mensal
de um investidor que paga carregamento de 3% e administração de 1% chegaria a
R$ 1.802 depois de 35 anos de economias. O rendimento de quem paga 3% de
administração e 1% de carregamento não chegaria a pouco mais da metade,
conforme pode ser visto na tabela abaixo (clique
para ver inteira).
O impacto maior da administração ocorre porque a taxa incide
sobre o valor total que já foi investido (principal) e a receita financeira
(rentabilidade) ano após ano. O carregamento, não. É debitado somente a cada
aporte ou resgate. Muitas seguradoras já não cobram o carregamento na entrada
do recurso. Cobram quando ele faz o resgate num prazo curto, normalmente
inferior a cinco anos. Outras companhias permitem que o investidor escolha:
pode optar por um carregamento maior e uma taxa de administração menor, ou o
contrário. Para D’Agosto, essa possibilidade de a pessoa optar por uma taxa ou
outra maior só serve para confundir: “É uma falsa opção. Nesse caso, o melhor é
fazer como com qualquer compra. ‘Atravessar a rua’ e procurar um custo mais
adequado”.
Ao investidor que não tem poder de barganha com a empresa que
escolheu, ou mesmo está sem disposição para pesquisar outros “fornecedores”,
D’Agosto sugere que, em vez de aplicar um valor mensal baixo e suscetível a um
custo alto, o poupador escolha uma aplicação intermediária. Por exemplo,
guardar na caderneta de poupança o aporte mensal que faria em um PGBL ou VGBL e
realizar uma aplicação única no fim do ano. Ou, diante de uma alta taxa de
administração em um fundo DI, pode estudar a compra de títulos públicos no
Tesouro Direto. Se o ganho é baixo e a taxa é alta, D’Agosto ousa dizer que o
melhor é deixar o dinheiro na gaveta de casa. Ali, ele só perde para a inflação
– e não para a dupla formada por inflação e custos do gestor.
6 - Combine as proteções
O autoengano é um companheiro assíduo no planejamento da
aposentadoria. Há quem se considere precavido porque contribui para o plano de
previdência da firma – mesmo que esse aporte seja de R$ 100 por mês. E há quem
acredite que, em caso de morte, sua família estará protegida pelo seguro de
vida coletivo, pago pelo empregador.
No entanto, a contribuição para o plano de previdência,
isoladamente, não garante tranquilidade. Suponha que, pouco tempo depois de
começar a poupar, o titular do plano faleça ou fique inválido. Ele não terá
tido tempo para acumular recursos suficientes para que sua família sobreviva
sem grandes apuros. Por isso, o seguro é importante. E, quando se trata de
seguro, simples perguntas costumam desestruturar a sensação de segurança: você
sabe quanto seus beneficiários vão receber caso morra? É o suficiente para
proteger seus dependentes, até que eles se restabeleçam financeiramente?
Thiago Sampaio, planejador financeiro pessoal com a certificação
CFP, explica que o valor a ser segurado está condicionado às respostas para as
seguintes perguntas: quem morreu era o único provedor da família? A reserva
emergencial atende o mínimo recomendado de três a quatro meses de orçamento?
A questão é relevante: o mau dimensionamento do seguro de vida pode gerar
a falsa segurança de estar protegido. Ou ser um desperdício. Assegurar um
capital muito alto pode tornar o prêmio (valor pago pelo segurado) inviável.
Márcio Magnaboschi, diretor-executivo de vida e previdência da SulAmérica, diz
que o seguro precisa ser mais alto para quem tem um patrimônio em formação:
“Quem tem os filhos criados e já tem patrimônio [com liquidez] não precisa de
um seguro de vida tão alto”.
Os prêmios do seguro são muitas vezes considerados caros. Isso
ocorre, segundo Sampaio, porque a maioria dos brasileiros tem acesso ao produto
por meio de bancos, que os renovam em prazos curtos. Ou seja, o prêmio é
reajustado por algum índice de inflação ou até mesmo pelo reenquadramento
etário do segurado, em ciclos de dois anos ou até menos. Em um dos bancos
pesquisados por Sampaio, essa reclassificação por idade chega a encarecer em
19,9% o prêmio a cada biênio.
O planejador explica ainda que o consumidor deve optar por um
seguro com coberturas para morte natural e acidental. E destaca que não é
preciso comprar um seguro para o resto da vida. “É importante que o consumidor
saiba definir por quanto tempo precisará do seguro. Quanto menor o tempo, menor
será o valor do prêmio”, afirma.
Mas a proteção da família não deve se resumir ao risco de morte,
considera o planejador: é necessário precaver-se também contra o risco de
invalidez total ou parcial, que incapacita a pessoa para o trabalho. Outra
proteção é a Diária por Incapacidade Temporária (DIT), que paga determinado
valor por dia em que o segurado não tem condições de trabalhar, que complementa
o auxílio-doença pago pelo INSS.
Magnaboschi, da SulAmérica, cita também o plano de previdência
com cobertura de pecúlio ou pensão. “É um produto de previdência com cobertura
de risco para morte e também invalidez”, diz o executivo. O produto é similar
ao seguro de vida dotal, que combina seguro de vida com acumulação de capital.
Nos dois casos – plano de previdência com seguro e seguro dotal –, uma parte do
desembolso vai para uma reserva financeira e outra, para custear o risco. No
seguro dotal, no fim do prazo combinado, o cliente resgata o valor estipulado.
Os dois produtos são interessantes para quem deseja reaver parte dessa poupança
numa determinada data, assim como garantir o custeio de algo no caso de sua
morte. Para quem tem filhos pequenos, pode ser a garantia do pagamento dos
estudos até a faculdade.
7- Prepare-se psicologicamente
Parar de trabalhar pode causar um baque emocional e social na
vida de quem se aposenta. Não foi assim com Newton José Monteiro. O engenheiro
eletricista e administrador, de 51 anos, despediu-se do compromisso
profissional há dois anos e meio, e conta que não sente falta do emprego. Saiu
da ativa como engenheiro, administrador e especialista em segurança do
trabalho, mas não estacionou no sofá.
Depois que se aposentou pelo Instituto Nacional de Seguridade
Social (INSS), em 2010, e pelo fundo de pensão, em abril de 2011, Monteiro pôde
se dedicar a várias atividades que já realizava. Atualmente, administra a
construção de casas em um terreno que comprou em Sorocaba, gerencia o aluguel
de uma sala comercial em Osasco e atua como síndico de um condomínio no litoral
de São Paulo, onde a família tem apartamento. Quando convidado, faz palestras
sobre segurança do trabalho. Também faz exercício físico com regularidade e
mantém contato com os amigos, se não pessoalmente, pelo telefone, WhatsApp ou
Skype. “A transição foi muito tranquila. Acho que, ao longo da vida, consegui
criar as condições financeiras que me dão a tranquilidade de aproveitar agora”,
conta o engenheiro, que tem no orçamento, dividido com sua mulher Claudia, as
despesas de uma família com um filho adolescente e uma menina de quatro anos.
Esta tranquilidade foi construída desde cedo. Quando começou a
trabalhar, aos 15 anos, na antiga Light (hoje AES Eletropaulo), era obrigatória
a adesão ao plano de previdência complementar da empresa. Mesmo quando a
participação se tornou facultativa, Monteiro continuou contribuindo. Começou a
investir em imóveis. Comprou o primeiro com 18 anos e gostou do mercado. De lá
para cá, comprou e vendeu mais de 35. Hoje, tem nove, entre terrenos, salas
comerciais, o apartamento onde reside e o de veraneio.
Levando em consideração as recomendações do especialista
Alexandre Kalache, presidente do Centro Internacional de Longevidade, Monteiro
não negligenciou nenhum dos aspectos essenciais no planejamento da
aposentadoria. Ele descobriu interesses, amadureceu projetos para realizar como
aposentado e mantém contato com uma rede de amigos. “É comum ver as pessoas
perderem a sua identidade quando se aposentam”, afirma Kalache. “Dedicaram toda
energia à carreira e, quando deixam de trabalhar, ficam perdidas.”
O especialista afirma que, da mesma forma que é preciso cuidar
do capital financeiro, as pessoas precisam se manter ativas, cuidar do capital
social, emocional e do conhecimento. Isso significa que, ao longo da vida,
devem acumular habilidades e interesses que vão ajudá-las a descobrir o que
fazer quando houver tempo de sobra. Quem chega à terceira idade, depois de uma
vida inteira de obrigações nem sempre agradáveis, precisa fazer algo de que
gosta. Segundo o médico, o ideal é aplicar a regra de ouro dos investimentos
também nesse aspecto e dedicar-se a mais de um hobby, mais de um projeto. “Não
se deve colocar todos os ovos na mesma cesta”, diz.
Kalache também chama a atenção para a importância de não se
esquecer dos amigos. É muito comum as pessoas perderem contato e pararem de
cultivar as amizades. Ele afirma que, no envelhecimento, é quando mais se
precisa de um círculo social ativo. Do contrário, o idoso pode ficar invisível
para a sociedade e ser lembrado apenas em datas festivas. Nesse aspecto, o tempo
também é implacável. Quanto antes começar, maior a sua fortaleza social.
8- Diversifique as fontes de renda
O aposentado Nelson Ninin fez o que consultores em finanças
pessoais recomendam. Ao longo da vida, diversificou os investimentos. Na
aposentadoria, diversificou as fontes de renda. Antes de pensar em se
aposentar, investiu na criação de gado – atividade que lhe era familiar porque
Ninim se formou como técnico agrícola no curso secundário e o pai lidava com
uma fazenda no interior de São Paulo. Depois, comprou imóveis urbanos, para
contar com uma renda regular e de administração mais fácil do que uma fazenda.
Não deixou de investir em previdência privada. Como presidente
da subsidiária brasileira de uma multinacional japonesa de automação, Ninin
participou da implantação do fundo para os empregados. E, claro, aderiu ao
plano. Apesar de ter se aposentado pelo Instituto Nacional de Seguridade Social
(INSS) e de ter se desligado da companhia no ano passado, Ninin não fez nenhum
resgate. Acha que ainda é cedo. “A gente ainda está novo. Pretendo ficar ainda
algum tempo sem resgatar”, afirma o engenheiro, de 62 anos.
Como Ninin, muitos aposentados já perceberam que é preciso
diversificar as fontes de renda. Segundo o mais recente relatório da pesquisa
“O Futuro da Aposentadoria” realizada em 15 países pelo banco HSBC, os atuais
aposentados têm, em média, três diferentes fontes. A maior proporção dos
proventos ainda vem de pensões e benefícios do governo (46%), quase o dobro das
pensões de fundos empresariais (25%) e quase cinco vezes superior à de planos
individuais (9%).
Para Gustavo Cerbasi, especialista em educação e planejamento
financeiro, o ideal é multiplicar as origens da renda. “Se o investidor tem,
por exemplo, um imóvel de R$ 300 mil para aluguel, seria interessante vender e
comprar três imóveis de R$ 100 mil para alugar”, afirma. Cerbasi defende
“quanto mais fontes melhor” como uma forma de o aposentado não ser surpreendido
com uma remuneração menor do que esperava.
Segundo a pesquisa do HSBC, muitos aposentados se frustraram.
Mais da metade (56%) respondeu que a remuneração caiu em relação ao salário
recebido no último emprego. Apenas 11% afirmaram que ficou maior.
Para evitar essa frustração de expectativas, Cerbasi, assim como
outros especialistas, faz um comentário sobre a “renda vitalícia”. O produto,
vendido pelas seguradoras e que faz parte do plano de previdência aberta, pode
ser interessante para os indivíduos com histórico familiar de grande
longevidade ou para as pessoas de pequena aptidão ou condições de saúde para
administrar investimentos. “Mas quem faz essa opção precisa ter claro que o
rendimento sobre o patrimônio é modesto. Uma pessoa com mais de R$ 1 milhão
consegue dobrar o valor que conseguiria com a renda vitalícia”, afirma.
Nelson Ninin foi além das recomendações de investimento. Aderiu
a um fenômeno que ganha cada vez mais relevância e que é retratado pela
pesquisa do HSBC. Ninin está semiaposentado. Abriu uma empresa de consultoria e
coloca em prática o gosto por fazer negócios e o know-how na área de automação
industrial. Ajuda a comprar e vender sistemas e equipamentos. “Ao longo da
carreira, criei um ‘networking’ grande nessa área, inclusive no exterior,
porque fui presidente de duas entidades internacionais [ao longo da carreira de
13 anos como presidente da Yokogawa no Brasil]”, afirma Ninin.
Segundo o levantamento do HSBC, 48% daqueles que ainda trabalham
já planejam uma semiaposentadoria. Além disso, 29% das pessoas entre 55 e 64
anos já estão semiaposentadas.
Para os participantes da pesquisa, a opção pela
semiaposentadoria tem uma série de motivações. A falta de dinheiro é a
principal. No estudo, 19% afirmaram que trabalhar em tempo parcial antes de
parar totalmente é uma forma de complementar a renda insuficiente. Outros 14%
disseram que precisam quitar dívidas, 7% ainda têm de terminar de pagar o
financiamento da casa onde moram e 6% afirmaram que precisam sustentar
familiares. A pesquisa mostra que, apesar de parecer distante para muitos
trabalhadores, a fase da aposentadoria pode continuar ainda bem próxima dos
apertos financeiros.
9- Diversifique seus investimentos
Não existe nenhuma lei que determine como investir. Mas, se
houvesse uma norma para investir com equilíbrio entre risco e retorno,
certamente seria: diversifique seus recursos. A regra básica de não concentrar
toda poupança em uma só aplicação é quase obrigatória nos livros de finanças
pessoais. Está presente em “Ganhar, Cuidar e Investir”, de Victor Zaremba, em
“Investimentos Inteligentes”, de Gustavo Cerbasi. E no livro “Os Grandes
Investidores”, que esmiúça estratégias de célebres magos das finanças, como
Warren Buffett e George Soros.
No livro “O Primeiro Milhão para Casais”, o autor Pedro Queiroga
Carrilho recomenda que as pessoas invistam em função do dinheiro de que dispõem
e como pretendem usá-lo, do tempo que dedicam a estudar e a operar as
aplicações e do conhecimento a respeito do tema. “Se não têm muito dinheiro,
tempo ou conhecimento, deverão optar pelos produtos de investimento de baixo
risco, como depósitos a prazo [CDBs], planos de aposentadoria [PGBL e VGBL] ou
títulos públicos”, afirma o especialista.
Quem opta por produtos para leigos deve procurar bem. Os dados
compilados pela consultoria NetQuant mostram que, na média, os fundos de
previdência no Brasil estão muito longe de ser satisfatoriamente rentáveis – e
não só neste ano, que foi excepcionalmente ruim. Nos últimos cinco anos, os
fundos de previdência renda fixa renderam 49,8% e os multimercados, 50,1%,
ambos atrás do rendimento de 59,1% do Certificado de Depósito Interbancário
(CDI) e de 95,4% do índice IMA-B. Isso só para ficar na renda fixa, que é a
aplicação mais popular. Nos fundos que mesclam renda variável, o desempenho foi
pior.
Para quem tem pouco conhecimento e muito medo de perder as
parcas economias, as alternativas podem ser o Tesouro Direto – que oferta
papéis que vencem de 2014 até 2050, e títulos que protegem contra a inflação
(NTN-Bs) – e a compra de títulos de renda fixa isentos de Imposto de Renda
(IR), como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e as Letras de Crédito
Agrícola (LCAs). A oferta de ambas vem aumentando, e elas contam com a garantia
de até R$ 250 mil do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Uma alternativa para
quem quer investir em renda variável, mas prefere não ingressar na bolsa de
valores, é apostar em fundos de ações e multimercados (estes últimos podem ou
não investir em ações). Ao contrário dos fundos de previdência privada, os
multimercados têm o IR cobrado antecipadamente: a cada seis meses, há incidência
do chamado come-cotas.
Se a opção para investir para a aposentadoria for um PGBL ou
VGBL, é importante entender características técnicas do contrato. “Decidimos
falar claramente sobre tábua atuarial e juros na conversão do patrimônio porque
são questões que vão impactar a renda do participante no futuro”, afirma
Maristela Gorayb, diretora de previdência e vida resgatável da Mapfre
Previdência. Até o fim deste ano, a Mapfre venderá plano de previdência com uma
tábua atuarial e juros mais altos do que a média. Com a tábua AT-2000 e juros
de 3% ao ano na conversão do total acumulado em renda vitalícia, um cliente com
R$ 1 milhão em reserva vai receber, a partir dos 55 anos, a quantia de R$
4.590,02. Com a tábua BR-EMS 2010 e 0% de juros ao ano, praticados no mercado,
a aposentadoria aos 55 anos seria de R$ 2.802,40.
10 - Evite o excesso de otimismo
Uma diferença de apenas dois pontos percentuais na rentabilidade média
em um ano inteiro pode fazer um estrago enorme nos investimentos de um
aposentando. Um cálculo feito pelo consultor financeiro Marcelo d’Agosto expõe
essa diferença.
A renda mensal percebida por quem consegue um rendimento de 6%
ao ano, já descontada a inflação, pode chegar a quase R$ 3,5 mil. Quem consegue
um rendimento real de 4% ao ano ficaria com R$ 1,84 mil por mês. E quem tem
seus investimentos rentabilizados por uma taxa real média de 2% ao ano vai embolsar
praticamente a metade disso (confira a simulação no quadro).
Esse retrato cruel sobre o impacto da rentabilidade nas
economias deixa dois recados. O primeiro e mais óbvio é que o investidor
precisa buscar uma combinação de aplicações que ampliem o rendimento médio
real. O segundo sugere: seja cauteloso na simulação do quanto precisa poupar
para construir o patrimônio desejado na aposentadoria.
Simular o resultado das aplicações financeiras com uma taxa
acima daquela disponível no mercado será bem frustrante na hora de usufruir do
patrimônio, e perigoso no curto prazo. Vai induzir o investidor a um esforço de
poupança menor do que ele deveria fazer. “O que mais afeta a aposentadoria de
alguém é a rentabilidade, seja para cima ou para baixo. Se ela for ruim, é
preciso compensar poupando mais e por mais tempo”, afirma D’Agosto.
O consultor salienta que, ao questionar o rendimento projetado
para uma aplicação financeira, a pergunta correta a se fazer é sobre a taxa
real. “A rentabilidade relevante é aquela que fica acima da inflação, o chamado
juro real”, diz D’Agosto.
No mundo dos investimentos, uma taxa de 6% ao ano tornou-se o
multiplicador mágico. “Nos tempos de juros altos, um retorno real de 6% era uma
espécie de ‘default’ [padrão]”, afirma D’Agosto. Entretanto, os especialistas
dizem que já não é mais tão fácil conseguir essa rentabilidade média acima da
inflação. É preciso pesquisar alternativas de investimento – como títulos
isentos de Imposto de Renda – e construir um portfólio diversificado para assegurar
esse valor médio – combinando renda fixa e renda variável.
Para ser cauteloso nas simulações, o investidor que aplica,
principalmente, em fundos de investimento e de previdência deve considerar um
juro real entre 3,5% e 4% ao ano. A avaliação é de Davison Pereira, consultor
de previdência do programa Vida Investe da Fundação Cesp. Em exercícios de
simulação, D’Agosto também prefere uma taxa real nesse patamar. Em outros
cálculos feitos nessa reportagem, usou uma taxa de 4% ao ano.
Pereira, da Fundação Cesp, explica que, no caso dos fundos de
pensão, a taxa precisa atender à meta atuarial dos planos. No caso da fundação,
o valor oscila entre 4,5% e 5,75% mais a inflação medida pelo IGP-DI. “Em razão
disso, as simulações que fazemos levam em consideração uma média dentro desse
intervalo”, afirma Pereira.
Karla Spotorno – jornalista do Valor Econômico, com especialização em
economia
Fonte: revista Valor
Investe