Comecei assistir por acaso e me surpreendi com o interesse que me
despertou, a ponto de assistir quase tudo de uma vez!
É uma comédia leve, simples e despretensiosa, que foca na importância
das relações humanas.
Ted Lasso é um treinador de futebol americano, contratado para ir à
Inglaterra treinar um time da principal liga de futebol do país.
Além de não entender nada desse futebol que se joga com os pés, ele
encontra uma série de desafios: as sabotagens da dona do clube de futebol, a
falta de cooperação dos jogadores e a hostilidade dos torcedores e da mídia.
Mas ele tira de letra tudo isso e não se deixa abalar pelas
dificuldades, mantendo sempre o bom humor. Ele lida com os diversos
contratempos com persistência e autoconfiança, e aos poucos vai conquistando o
respeito e a admiração de todos. O otimismo, a benevolência e a persistência do
treinador é a grande lição da série.
Ted Lasso é uma caricatura do norte-americano interiorano, mas não
conservador. Sua principal meta como novo treinador é simples: ajudar na
evolução dos jogadores e de todos da equipe como seres humanos, sem se importar
tanto em vencer as partidas. Essa atitude a princípio causa surpresa e
resistência das pessoas, mas aos poucos ele vai conquistando os corações.
O seriado retrata um aspecto importante que passou a ser considerado
mais seriamente há alguns anos, com a Psicologia do Esporte: a relação direta
entre rendimento e performance com o estado emocional e das relações sociais
dos atletas e entre a equipe.... –
A Psicologia do Esporte surgiu para auxiliar técnicos e atletas a
entender e solucionar suas dificuldades psicológicas e sociais, e encontrar
segurança e autoconfiança de tal forma que possam realizar suas possibilidades
máximas de rendimento esportivo.
Além do esporte, cada vez mais as organizações e empresas em geral têm
se conscientizado que o desempenho de uma equipe é fortemente influenciado pela
forma como as pessoas se sentem no grupo e em suas vidas pessoais.
Há uma relação interessante entre o papel do treinador de esportes e
trabalhos transformativos em ambientes organizacionais. No inglês, treinador se
chama ‘coach’, palavra que dá origem ao tão popularizado conjunto de
modalidades denominadas ‘coaching’, que têm sido utilizadas em muitos casos para
maximizar performance de indivíduos e grupos. Nos Estados Unidos, há inclusive
vários treinadores esportivos famosos que, após uma carreira de sucesso,
passaram a ser palestrantes motivacionais e escritores de best sellers focando
a mudança de visão de mundo e melhora das relações no mundo dos negócios.
Empresários e líderes têm cada vez mais percebido o quanto é importante
cuidar do clima organizacional, das relações de trabalho, do bem estar e da
qualidade de vida dos funcionários, para garantir uma boa produtividade.
Saber lidar com conflitos é outra habilidade cada vez valorizada. Uma
pesquisa da Universidade de Stanford mostra que a maior preocupação dos líderes
é saber lidar com conflitos. No entanto, outra pesquisa, do CPP Global Human
Capital Report, mostra que ao menos 40% nunca recebeu qualquer treinamento
neste campo.
Segundo essa última pesquisa, não saber lidar com conflitos nas
organizações tem um custo muito alto, ocupando em média 2h por semana de cada
funcionário, somando um custo total de 359 bilhões de dólares em horas pagas,
385 milhões de dias úteis.
O conflito nas organizações também influencia diretamente a motivação.
De acordo com pesquisa da Gallup, apenas 12% dos funcionários estão ‘engajados’
em seu trabalho, enquanto 60% estão ‘não engajados’, e 25% estão ‘ativamente
não engajados’, - o que muitas vezes quer dizer que podem estar sabotando
consciente ou inconscientemente a organização.
Estas pesquisas e dados me fazem pensar o quanto é importante trazer
para as equipes e ambientes organizacionais o que Ted Lasso traz para seu time
de futebol: mais empatia e acolhimento da humanidade de todos, criação de
espaços seguros onde estão presentes a apreciação, a valorização e o respeito,
onde se aprende a lidar cada vez melhor com conflitos e onde a individualidade
e o potencial de cada um pode florescer, contribuindo para uma equipe coesa,
colaborativa e produtiva.
O seriado me mostrou, de maneira lúdica e cativante, como a intervenção
de alguém que acredita no potencial humano pode transformar até mesmo as
culturas mais tóxicas em ambientes de conexão, confiança e união. Dentro dessas
condições favoráveis, indivíduos e equipes podem alcançar sua melhor
performance, mais produtividade e satisfação.
Sandra Caselato –
formada em psicologia, especialista em comunicação não-violenta