Endividado e inadimplente têm
dívidas; a diferença está na capacidade de pagamento de cada um.
Muita gente está endividada e não tem consciência disso, uma
condição com a qual muitos não se identificam. Há quem pense que, se está
pagando as prestações em dia, não está endividado. Outros nem reconhecem como
dívida alguns compromissos financeiros que possui.
ENDIVIDADO
José comprou um carro financiado em 48 meses e vem pagando
regularmente as prestações do financiamento que viabilizou a compra do carro.
Falta pagar 36 parcelas de R$ 890, o que significa dizer que está endividado, e
o saldo devedor, ou dívida, é de R$ 32.040,00.
Carolina gastou em poucos dias muito mais do que estava
previsto. A gastança foi paga com o limite do cheque especial, e ela tem agora
uma dívida de R$ 6.000. Está pensando quais despesas cortar ou reduzir para
conseguir pagar o banco no menor prazo possível.
Pedro tem duas dívidas, uma que ele reconhece e outra que nem
sabe que existe. Ambas foram contraídas com o uso do cartão de crédito,
utilizado para pagar as mais diversas despesas. A primeira dívida de Pedro é de
R$ 8.500, saldo devedor da fatura do cartão que vem sendo paga com a parcela
mínima.
A outra dívida não está no radar de Pedro, mas já foi contraída;
compras parceladas, sem juros, somam R$ 3.500 e irão agravar a situação de
endividamento de Pedro. Tanto é dívida que a fatura informa com clareza o valor
do limite total, R$ 15.000, e o valor do limite disponível, de R$ 11.500, igual
ao limite total menos o valor das compras parceladas.
Depois de acumular muitas dívidas contraídas com os 13 cartões
de crédito que tinha, Joaquim decidiu cortar o mal pela raiz; cancelou todos os
cartões e só compra com cheque ou dinheiro. As compras parceladas são pagas com
cheque pré-datado, uma jabuticaba, coisa que só existe no Brasil. Joaquim
acumula dívida de R$ 2.800 com esses cheques, que podem ser apresentados a
qualquer momento; é bom ficar atento.
Cláudia adora um crediário. Os eletrodomésticos da cozinha
estavam mesmo precisando ser trocados e é muito difícil resistir aos pedidos da
filha adolescente de comprar mais uma roupinha nova. Para calcular o valor de
sua dívida, Claudia multiplicou o valor da prestação pela quantidade de
parcelas em aberto de cada um dos quatro crediários que tem. Foi bom fazer as
contas porque agora sabe que deve R$ 3.300; vai reduzir o ritmo das compras
para não se complicar com os carnês.
Ernesto tem três empréstimos consignados que comprometem grande
parte da pensão por aposentadoria que recebe. Sua dívida total de R$ 8.000 foi
feita, em grande parte, para ajudar os filhos e um irmão que precisavam de
ajuda.
Todos os personagens estão endividados, mesmo que tenham
capacidade financeira de saldar seus compromissos. Tomara que a destinação dos
recursos seja nobre e justifique o sufoco mensal de todos os meses para fechar
a conta.
INADIMPLENTE
Passou a data do vencimento e você não pagou a prestação? Está
inadimplente! Essa situação pode acontecer por várias razões, talvez você tenha
assumido dívidas acima de sua capacidade de pagamento, ou então, faltou
planejamento na hora de contrair essa dívida. Muita gente se esquece de reduzir
despesas do orçamento para acomodar o novo compromisso assumido.
Mário não pagou a taxa do condomínio dos últimos quatro meses. O
síndico e a administradora do imóvel estão analisando uma forma de resolver
essa pendência o quanto antes.
Carla está inadimplente há mais de 90 dias; procurou o credor –a
administradora do cartão de crédito– para uma renegociação da dívida, antes que
o problema vire uma bola de neve fora de controle. Fez a lição de casa e tem um
plano para quitar essa dívida se contar com a ajuda do credor, parte
interessada em ajudar Carla a resolver o problema.
Crédito é bom se for usado a seu favor, na dose certa, para
financiar aquisição de bens duráveis. Contenha seu impulso e evite usar para
compras não planejadas e supérfluas; lembre-se de que, muitas vezes, você abre
mão de uma coisa para realizar outra.
Marcia Dessen - planejadora financeira
pessoal, diretora do IBCPF (Instituto Brasileiro de Certificação de
Profissionais Financeiros) e autora do livro "Finanças Pessoais: o que
fazer com meu dinheiro" (Trevisan Editora, 2014).
Fonte: coluna semanal jornal FSP