Devo e não nego, mas não consigo pagar! Compromete muito da
renda mensal com dívidas, deve e não consegue pagar? Este texto deve ajudá-lo.
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David escreveu: “Navarro, a situação aqui está
crítica. Antes de enviar esse e-mail tomei por atitude levantar o quanto eu
realmente devo e cheguei à uma conclusão assustadora: devo praticamente metade
da minha renda mensal. Não disse que a coisa era feia? E agora? Estou
desesperado e não sei o que fazer. Resolvi falar porque tenho certeza de que
muitos brasileiros passam por fase semelhante e não têm coragem de se expor.
Coragem é o primeiro passo, aprendi com você. Devo e não nego, mas só a
coragem não basta para pagar os muitos boletos e contas que recebo. Socorro”.
David, deixe-me respirar um
pouco. Meu, como foi que você deixou a situação ficar assim tão crítica? Você
tem razão, muitos brasileiros vivem esse drama, mas poucos têm sua coragem. O
primeiro passo realmente está dado, agora vamos entender o que deve ser levado
em consideração para que possa sair dessa o mais rápido possível. Com tamanha
renda comprometida, a saída será reavaliar seu estilo de vida e alinhar seu
padrão de gastos/receitas à realidade que o cerca. Está preparado para isso?
Definindo prioridades
O mais importante ao decidir atacar seus débitos é aprender a priorizar.
Tomar atitudes inteligentes pode ser a diferença entre pagar mais ou menos
juros. E você quer pagar nenhum ou pouco juro, certo? Suponho que, a esta
altura, você tenha problemas com o cheque especial e muitas dívidas no cartão
de crédito. Isso acontece com 70% das pessoas em situação semelhante. Vejamos o
que se pode fazer:
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Cheque especial: você precisa eliminá-lo. Hoje, agora. Tendo
renda comprovada, sugiro que faça um empréstimo consignado e use o dinheiro
para quitar toda a dívida do cheque especial. Fazendo isso, você passará a
dever juros cinco vezes menores que os do cheque especial. Pois é, de especial ele não tem nada.
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Cartão de crédito: O mesmo raciocínio acima vale para dívidas
enroladas no cartão. Mas pagar a dívida atual e continuar fazendo uso do cartão
pode ser perigoso. Recomendo que aposente imediatamente seu cartão de crédito e
passe a comprar usando apenas dinheiro vivo. Pague sua dívida e faça o
exercício por pelo menos 6 meses. O maior problema do cartão não é a falta de
informação, mas a distorcida imagem de seu objetivo. Se você não sabe usá-lo,
será usado por ele, podendo inclusive adoecer.
Estas devem ser suas
prioridades imediatas. Resolvidos os problemas acima, perceberá que sua
situação sofrerá significativas melhoras. Agora é hora de mexer no que você
gosta, no seu jeito de ser e estar, no seu dia-a-dia. É hora de “operar” o ego. Dói, chateia e no
começo é frustrante. Mas a satisfação depois da “cirurgia” não tem preço, se me
permite a metáfora (sem graça) alimentada por um slogan de uma bandeira de
cartão de crédito.
O carro, a TV a cabo, a
Playboy…
Pare com tudo isso. Você deve e precisa entender que dever e prazer não
combinam. Quando se trata de dinheiro então, forget it! É hora de reavaliar seu
estilo de vida. Cancele a TV por assinatura e contente-se com a programação
aberta (cá entre nós, é melhor ficar longe da TV). Assinaturas de revistas e
jornais? Cancele tudo. Sim, estou falando de uma medida drástica. Some quanto
gasta com isso no ano e vai me dar toda a razão.
Você pode estar confuso,
pensando que o carro deveria ser uma das prioridades listadas lá no começo do
artigo. Nem sempre. Se você está em uma situação realmente complicada, com mais
de 50% da renda comprometida, venda-o. Fora isso, evite usá-lo desnecessariamente
ou troque-o por outro modelo mais simples e barato. Fuja de financiamento,
especialmente daqueles ditos mágicos. O combustível está caro e a
manutenção também.
Se a coisa ainda estiver
pior…
Se tudo isso que eu falei fizer pouca diferença, passe a considerar um novo
lugar para morar, bem mais barato que o atual, venda o carro, cancele o curso
de inglês, pare de fazer academia. Mas faça tudo isso de cabeça erguida, com a
mesma autoestima que o trouxe até o fundo do poço. Difícil né?
Não se iluda ou pense que isso
é castigo. Não se esconda nas desculpas e não pense que alguém vá aparecer com
uma corda para puxá-lo. Acredite, para a maioria das pessoas você vale mais ai
embaixo. Pesada a frase, eu sei. Quisera eu estar mentindo.
Atenção
São dicas bastante óbvias certo? Certo. Muitas vezes a(o) esposa(o) ou a
família as fazem de forma insistente, mas você teima em não ouvi-los. Aprenda a falar mais sobre dinheiro, faz bem. Passe a
prestar mais atenção ao que você vem ouvindo e(ou) fazendo. Lembre-se de que
foram as coisas que você quis ouvir (ou deixou de ouvir) que o colocaram nessa
situação. Você tem razão David, só a coragem não faz o dinheiro aparecer. Que
tal começar a agir?
Conrado Navarro – educador financeiro, diretor
do site dinheirama