Aplicar em renda fixa é mais complicado do que parece


Com frequência recebo mensagens de leitores perguntando se aplicar em CDB ou LCI é bom. A maioria tem o dinheiro na poupança e, de tanto ouvir que tem coisa melhor no mercado, sai em busca de uma alternativa que remunere melhor seu esforço de poupar dinheiro.

O produto em si é bom, seja um CDB (Certificado de Depósito Bancário) ou uma LCI (Letra de Crédito Imobiliário), ou ainda uma LCA (Letra de Crédito do Agronegócio), no que diz respeito ao risco. Qualquer modalidade de depósito bancário expõe o investidor ao mesmo risco de crédito, possibilidade de calote, de o banco quebrar e deixar de resgatar a operação.

Para proteger o investidor contra o risco de crédito, existe o FGC (Fundo Garantidor de Créditos), que garante até R$ 250 mil por CPF ou CNPJ. Todas as alternativas citadas, entre outras, contam com essa proteção.

Porém, no quesito rentabilidade, existe uma enorme diferença entre a poupança e qualquer outra modalidade. A rentabilidade da poupança é exatamente a mesma, em todas as instituições financeiras, para qualquer investidor, não importando o valor da aplicação ou o nível de relacionamento com a instituição. O cidadão que deposita R$ 100 e o que deposita R$ 1 milhão ganham a mesma coisa.

Recordando: a poupança paga TR mais juros de 0,5% ao mês. Se a taxa Selic atingir patamar igual ou inferior 8,5% ao ano, a rentabilidade muda para 70% da taxa Selic.

QUEM PODE MAIS GANHA MAIS

Nas outras modalidades, a rentabilidade precisa ser negociada com o banco. E nesse caso você já sabe o que acontece, não é mesmo? Se o investidor não negociar, achando que é tudo igual como no caso da poupança, o banco vai oferecer a menor taxa possível, afinal o cliente nem tentou negociar.

Quando negocia, vale o critério "ganha mais quem pode mais", seja porque o montante do depósito é elevado, seja porque o cliente é de um segmento do banco, como private banking, com acesso a melhores produtos e melhores taxas.

Minha irmã tinha uma aplicação em LCI em um grande banco de varejo. A remuneração (razoável) da operação que venceu na semana passada era de 86% da taxa DI. Isenta de IR, equivale a uma taxa bruta de 101%, supondo IR de 15%. Perguntou ao banco qual seria a taxa para renovar a aplicação e obteve a cotação de 77%.

Antes de pegar a calculadora já deu para sentir que a cotação piorou muito. O fato de ser isenta de imposto não torna a aplicação em LCI ou LCA a melhor opção. É uma boa alternativa, mas não a qualquer preço.

Uma aplicação em CDB, que paga Imposto de Renda de 15% a partir de dois anos, pode ser melhor, dependendo da taxa. Vamos fazer a conta: dividimos 77 por 0,85 = taxa bruta de 90,5%. Significa dizer que, se a cotação do CDB for superior a essa, vale a pena o CDB. Paga-se o IR e ainda sobra dinheiro.

Perguntamos quanto o banco oferece em CDB e recebemos uma cotação progressiva –quanto mais tempo o dinheiro fica, maior a cotação. A remuneração de 90% da taxa DI (baixa) nos primeiros seis meses vai aumentando gradativamente até atingir 100% da taxa DI a partir de três anos. Ou seja, a partir de três anos, a rentabilidade líquida será de 85% da taxa DI, melhor do que os 77% oferecidos para renovar a aplicação em LCI. Mas a cotação é boa somente a partir de três anos...

Outro aspecto a considerar é a liquidez, possibilidade de resgatar a qualquer momento sem perda de rentabilidade. A taxa de 100% só se aplica sobre o montante que permanecer no mínimo três anos. Minha irmã sabe que precisará de parte do dinheiro antes disso.

Então fomos pesquisar alternativas, com liquidez, cuja rentabilidade fosse acima de 90%. Encontramos um fundo de renda fixa DI com taxa de administração de 0,8% ao ano e rentabilidade passada média na faixa de 95%. Comprar Tesouro Selic é também uma boa alternativa para o montante que precisa de liquidez.

Ah, tem mais uma coisa para ficar atento. Essa negociação não é eterna. A cada vencimento o dinheiro volta para a conta-corrente e começa tudo de novo. É por essas e outras que a poupança ainda atrai tanta gente...

Marcia Dessen - Planejadora financeira pessoal, diretora do Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros e autora de 'Finanças Pessoais: o que fazer com meu dinheiro'. 

Fonte: coluna jornal FSP

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