Precisamos
alinhar formação de professores, produção de material curricular, avaliação e
gestão escolar
Em vários ramos de atividade, costuma-se fazer
“benchmarking”, ou a busca de quem teve, a partir de indicadores, um desempenho
superior, para, em seguida, identificar as práticas que levaram a esse
resultado positivo e, eventualmente, copiá-las.
Uma das maneiras de fazer benchmarking em educação na
presente crise de aprendizagem que vivemos é olhar para o ranking do Pisa,
uma avaliação organizada pela OCDE com base nas competências que jovens
precisam ter para uma vida adulta plena, e verificar o que os mais
bem-sucedidos fazem e que nós não estamos fazendo. O importante não é cada
medida isolada, mas a inter-relação entre diferentes iniciativas que países com
resultados melhores adotam.
Entre os 30 melhores, há algumas coisas que chamam a
atenção: maior atratividade
da carreira docente,
formação profissional mais vinculada com a prática, maior rigor na seleção de
diretores e professores e um currículo nacional claro com bom alinhamento dos materiais
curriculares ao que se ensina.
Por que é tão importante contar com um currículo bem estruturado? Porque,
caso contrário, mesmo na presença de bons mestres, não há como assegurar a rara
combinação de excelência com equidade, a base de sistemas educacionais de
qualidade para todos.
É nesse sentido que cabe celebrar o fato de que, na
semana passada, tenhamos conseguido concluir a tradução da Base Nacional
Comum Curricular em currículos estaduais e do Distrito Federal, numa iniciativa
liderada pelo Conselho de Secretários Estaduais de Educação (Consed) em
parceria com a União de Dirigentes Municipais de Educação (Undime) para as
etapas de educação infantil e ensino fundamental. E mais, todos os currículos
foram aprovados pelos respectivos Conselhos Estaduais de Educação.
Tecnologia emsala de aula
Num processo que ainda vai levar tempo —já que para
termos uma política de Estado de educação coerente, na acepção que o Michael
Fullan, grande especialista em transformações educacionais empresta ao termo,
ainda teremos que alinhar formação de professores, produção de materiais
curriculares, avaliação e gestão escolar—, começamos a enfrentar a crise de
aprendizagem que o país vive.
Agora é fazer o mesmo com o ensino médio e iniciar o
processo de implementação em cada sala de aula. Não será fácil, e certamente
ajustes serão necessários nos currículos concebidos e até na base, mas a
experiência construída pela mobilização de tantos secretários de governos de
diferentes partidos para chegarmos até aqui vai tornar os aperfeiçoamentos
ulteriores bem mais fáceis.
Claudia Costin - diretora do Centro de Excelência e Inovação em
Políticas Educacionais, da FGV, e ex-diretora de educação do Banco Mundial.
Fonte: coluna jornal FSP