A computação quântica está
chegando à era da utilidade?
Pesquisadores da IBM encontraram método que aumenta confiabilidade dos
cálculos.
Quatro anos atrás, o mundo da computação foi
agitado por um artigo na revista Nature em que pesquisadores do Google anunciavam
ter alcançado a "supremacia
quântica": usando um computador
quântico, tinham executado em apenas 3 minutos e 20 segundos um cálculo que,
segundo eles, o supercomputador convencional mais rápido do mundo demoraria 10
mil anos para completar.
Ao mesmo tempo em que assinalavam a façanha de alguns especialistas
relativizaram sua magnitude e relevância.
Em 2021, um grupo na China mostrou que, de fato, esse
cálculo pode ser executado num computador convencional em apenas 5 minutos.
E
outros pesquisadores, notadamente da IBM, apontaram que o problema resolvido
pela Google fora escolhido a dedo para o experimento, não tendo interesse prático
em si mesmo.
Agora é a IBM quem proclama, também na Nature, outro avanço importante
na área, que estaria abrindo a "era da utilidade" na computação
quântica.
A ideia da computação quântica remonta aos anos 1980, quando foi
proposta pelo físico Paul Benioff e outros cientistas.
Computadores
convencionais guardam e processam informação na forma de bits, unidades
minúsculas capazes de assumir apenas dois estados: 1 ("ligado") e 0
("desligado").
Já os computadores quânticos utilizam bits quânticos,
chamados qubits, que tiram proveito das estranhas propriedades da matéria
descritas pela mecânica quântica para realizar cálculos numa velocidade
vertiginosa, muito longe do alcance dos computadores clássicos.
O computador usado pelo Google em 2019 tinha apenas 53 qubits, o
da IBM não passa de 127 qubits.
Como comparação, o chip de qualquer smartphone
contém bilhões de transistores convencionais. Mas tudo de que carecem em
tamanho, os computadores quânticos compensam em velocidade.
No entanto, qubits são difíceis
de manter, pois eles são facilmente afetados por suas interações com o
ambiente. Por isso, cálculos quânticos não são confiáveis: se repetirmos o
mesmo cálculo, provavelmente obteremos respostas diferentes a cada vez.
É esse problema que a IBM
anuncia estar resolvendo: seus pesquisadores encontraram um método para
aumentar a confiabilidade dos cálculos, de forma a obter resultados
efetivamente úteis.
Para enfatizar este último
ponto, eles aplicam esse método na resolução de um problema de modelagem de
sistemas magnéticos –demasiado complexo para ser tratado por qualquer
supercomputador convencional— que é realmente relevante em física. Comentarei
na semana que vem.
MARCELO VIANA - diretor-geral do Instituto de Matemática Pura e
Aplicada, ganhador do Prêmio Louis D., do Institut de France